O OUTRE-TOMBE é uma banda formada em Quebec City, no Canadá, e ativa desde 2010, praticante fiel de uma espécie imunda e old school de Death Metal, cantado (ou melhor, urrado) em francês, que às vezes se confunde com o chamado Proto-Death Metal (carregado de passagens Thrash/Death), e que absorve influência de Doom Metal. A banda investe em uma linha de produção mais orgânica, crua e lo-fi, deixando o som ainda mais leal às obras clássicas do final dos anos 80 e início dos 90.
“Abysse Mortifère” é o terceiro álbum de estúdio dos canadenses, lançado no final de outubro via “Temple of Mistery Records”, selo também canadense que propaga vertentes variadas de metal.
A aula de como se criar uma obra autêntica da velha escola começa por uma bela arte de capa, algo que o álbum entrega com louvor. Um guerreiro é devorado por uma aranha gigante (semelhante à “Laracna” do “Senhor dos Anéis”) em uma caverna sórdida, em meio a cadáveres em decomposição, parcialmente comidos pela criatura abominável. Tudo isso em belas cores, crédito ao ilustrador norte-americano “Matthew Carr”, apropriadamente conhecido pelo criptônimo “Putrid”.
O álbum soa quase como um trabalho ao vivo, onde ouve-se o vocal à frente, a bateria que sofre uma sessão impiedosa de espancamento (e que tem um som estranho de caixa), as guitarras massivas, de afinação mega baixa e o baixo bem ao fundo, sufocado e quase inaudível.
As principais influências, bastante nítidas nesse terceiro álbum, são clássicos como o DEATH (EUA) dos dois primeiros álbuns, POSSESSED (EUA), AUTOPSY (EUA), OBITUARY (EUA), BOLT THROWER (ING), ENTOMBED (SUE) e DISMEMBER (SUE).
Os quase trinta e sete minutos extremos da obra proporcionam riffs memoráveis, alguns leads e solos insanos a la SLAYER e atmosfera sempre grotesca. As músicas são diretas, potentes e ultra pesadas, mas ao mesmo tempo cativantes, divertidas e repletas de segmentos grudentos (principalmente quando a banda diminui o ritmo frenético e dá uma cadenciada).
Apesar do claro amor dos integrantes e sua homenagem aos sons clássicos já mencionados, tudo no OUTRE-TOMBE é criado e produzido com muito critério, convicção e autenticidade, não há mera cópia ou clone.
Como destaque, pode-se mencionar a dupla “Exsangue” e “Tombeau de Glace”, faixas em sequência e donas de riffs matadores e gigantescos, aura imunda e desagradável, reforçada pelos vocais roucos do baixista Fred “Crachat” Tremblay, que remetem bastante ao “John Tardy” da fase inicial do OBITUARY, e ao magnífico “Martin Van Drunen” da fase “Malleus Maleficarum” e “Consuming Impulse” do PESTILENCE.
Certamente um ótimo disco do OUTRE-TOMBE, trabalho que deverá agradar e muito aos fanáticos pelo Death Metal dos primórdios. Acredito que teria ficado ainda melhor com uma produção ligeiramente mais refinada, polida, com um som mais parrudo de bateria e baixo.
O disco é composto pelas nove faixas a seguir, com duração total de 36:41 minutos:
1 – “Abysse Mortifère”
2 – “Cenobytes”
3 – “Coupe-gorge”
4 – “Desossé”
5 – “Exsangue”
6 – “Tombeau de Glace”
7 – “Haut et court”
8 – “Nécrophage”
9 – “Haruspex”