Night Of The Blade Fest – Slammer (Curitiba-PR )Yellow Fever (Paranaguá-PR) Górgona (Cascavel – PR) Wilde Witch (Curitiba – PR) Stygian (Curitiba – PR)
Local: 92 Graus Pub – Curitiba/PR (10/08/2024)
Acho horrível em uma cidade como Curitiba que tem várias bandas de todos os estilos dentro do Metal Underground e muitas dessas bandas só aparecem na cena quando tocam, se não tocam, não comparecerem para prestigiar as outras bandas. Enquanto isso tem uma molecada nova fazendo as coisas acontecerem e muitos desses “true metal” preferem ficar nas redes sociais atacando a molecada que curte um som mais moderno ou se é moleque é poser, ou não vai durar muito tempo na cena, segundo os trues metal, se acham donos das verdades. Eu não escuto essas bandas modernas, mas cada indivíduo faz e ouve o que quer. Quem sou eu para julgar quem começou ontem ou o som que fulano escuta.
Infelizmente, um público pequeno compareceu neste evento e muitos, felizmente, que salvaram a noite e o evento eram da nova geração. Quem não veio perdeu um grande show e com ótimas bandas que me surpreenderam tamanha qualidade musical, atitude e vontade de mostrar seu trabalho e amor ao metal!
Quem abriu o Night Of The Blade, foi a velha guarda do metal curitibano e seu old school metal, o power trio Slammer, formado por: Eduardo Urso, baixo vocal, Zema, na guitarra e Guilherme Kret, na bateria. Eles fizeram um set curto, rápido, com influências que passam por Venom, Celtic Frost e Black Sabbath, mas com personalidade própria. Fizeram um show que agradou o pequeno público nessa noite muito fria na capital paranaense. O set deles basicamente focou no Debut -CD que leva o nome da banda, lançado em 2021. Abriram com: “1986”, “Sons Of Evil”, “This Heaven Doesnt Living In Me”, “Ignis Corpora”, “Passage To Hell” e “Cursed Of Abaddon”, com vocais agressivos e guitarras pesadas, bons solos e bateria rápida. Fizeram uma homenagem para um amigo deles que pedia para tocar Kiss e mandaram War Machine, em uma versão mais suja e brutal. Fechando com a música “The Slammer” com seu baixo marcado e soando poderoso.
A nova geração da cena paranaense sobe no palco, a banda Yellow Fever, formada por: Jorge Calazar, vocal e baixo, Emerson Devil’s Preacher, guitarra e backing vocal e Anderson Naberius, na bateria. Em 2018, eles lançaram o full length “Epidemic Tragedies” e recentemente em 2024 o single: “Death Star”.
A banda, apesar de ser nova, fez um show muito bom! O seu show deu início com uma Intro e já mandaram o single lançado recentemente nas plataformas digitais e mandaram “Death Star”. Um Heavy Metal muito bem executado, guitarras pesadas, belas melodias e solos cativantes. Baixo e bateria bem entrosados. Só achei o vocal “meio tímido” e faltou mais agressividade, talvez mais variações nas linhas vocais. Mas o que importa é o público e eles gostaram da música e curtiram bastante. E seguem com “Mother of Satan ‘s Son” e “Born in Nowhere”. O Yellow Fever é do litoral paranaense e os guris, pelo que vi nesta apresentação e conversando com o vocalista Jorge Calazar, eles estão empolgados e em breve vem material novo por aí, e eles vão longe levantando a bandeira negra do Heavy Metal Tradicional. E continuando sua apresentação com as faixas: “The Civilizing Process”
e…”From Another World”. Nestas últimas duas músicas, o Calazar perdeu sua timidez e os vocais ficaram mais agressivos e com belas melodias em sua voz. O som dos caras é um Heavizão mais trabalhado, com melodias de guitarras, peso e bem coesas, bases poderosas, baixo segurando bem os graves e bateria simples, porém eficaz, mesclando rapidez e boas viradas. A pedidos do público, mandam o cover de “Mordor”, dos piratas alemães. Muito bem executado e o público enlouqueceu.
Porém, acidentes acontecem e quase no final da música o “pirulito do pedal quebrou” e não teve como finalizar a música. O público aplaudiu a banda e apoiou muito! Entendendo que esses pequenos acidentes acontecem com bandas Undergrounds, infelizmente. Mas para nossa sorte, conseguiram solucionar o problema rapidamente. Tocaram de novo o cover do Running Wild e dessa vez sem problemas e o público agitou muito o final do show! Eu não conhecia “essa febre amarela” do litoral paranaense e gostei muito de sua apresentação e a simpatia de seus integrantes. Aliás, a febre amarela infectou todos os presentes com muito Heavy Metal na veia!
As cortinas se abrem e o que nós vamos assistir agora é uma completa devoção de amor ao Heavy Metal. Diretamente do oeste paranaense, mais precisamente da cidade de Cascavel, o Górgona chegou à capital paranaense em uma das noites mais frias do inverno curitibano de 2024, para fazer o show de lançamento de seu Debut-CD autointitulado, lançado agora em 2024. Fernando Guedes, guitarra e vocal, Ricardo Barros Lima, no baixo, Fernando Silva, na bateria, Bruno Máximo, guitarra e Luís de Oliveira, nos teclados, executaram um grandioso Heavy Occult Metal com muita feitiçaria, sortilégios e terror! Com músicas muito bem trabalhadas e técnicas, com muito peso, belas melodias de guitarras, solos bem construídos, bateria muito bem trabalhada e baixo estridente e um vocalista que sabe cantar e muito comunicativo, que transmite emoção. Um backdrop com a capa do CD que, aliás, é muito bonita. O palco se transforma em um altar negro, com pentagrama, baphomet, caveiras e velas espalhados pelo palco. E o que é melhor, Heavy Metal na veia!
A feiticeira dá início com uma “Intro (Coffin Joe)” que é uma fala do personagem Zé Do Caixão “o que é vida”(…) declamada por Fernando e o instrumental executado com um clima macabro e assustador! Uma das melhores intro que já tive o prazer de ouvir em CD, gravada em estúdio e agora ao vivo, sem palavras! E já mandam duas músicas matadoras: “Black Exorcism” e “Headless Killer”. “Black Exorcism” é uma obra-prima! Guitarras maravilhosas com peso, melodias e técnica. A parte em que eles inseriram de forma perfeita uma passagem de Hall Of Mountain King do compositor norueguês Edvard Grieg é magnífica. O público agitando e cantando as músicas! A banda já tinha ganhado o jogo. Agora era vez de uma das faixas mais lindas do Full Length “Under Spell”. E Fernando Guedes chama ao palco para dividir os vocais com ele, Matheus Luciano, ex-vocalista da banda curitibana Hell Gun, e fizeram uma versão matadora! Levando o público presente ao delírio, tamanha fúria e energia que esses dois trocaram no palco. A dupla de guitarristas muito bem entrosada com belos riffs e solos de guitarras. Bateria pesada e precisa.
Apesar da banda estar fazendo um show de lançamento de seu primeiro álbum, eles apresentaram duas novas músicas: “The Fire you Got” e “The Vessel”. O público presente não conhecia essas duas faixas, ficaram prestando atenção na banda e sua apresentação foi fudida. Achei as duas músicas novas, mais cadenciadas e pesadas. Agora era a vez de mandar as que já tornaram-se clássicas para quem conhece a banda: “Abracadabra”, “Death Picture” e “Josefel”. Vocês não têm ideia como foi bonito ver o público cantando os refrões, agitando muito com a banda!
A Górgona é uma banda já preparada para conquistar o submundo com seu Heavy Metal trabalhado, muito bem executado e músicas muito bem construídas e o profissionalismo da banda em cima do palco. Realmente, o que me chamou a atenção foi o profissionalismo dos músicos: parecia que eu estava em casa, na minha sala, ouvindo o CD, tamanha qualidade musical e técnica dos seus músicos. Mas vale citar: a aparelhagem e o áudio da casa estavam muito bem ajustados e perfeitos! Só isso já faz a diferença!
Olha insanos amigos metalheads, se vocês não conhecem a Górgona e apreciam um Heavy Metal com letras sobre filmes de “terror thrash” e principalmente pela obra do nosso José Mojica, o eterno Zé do Caixão, e grandes filósofos como: Edgar Allan Poe e Oscar Wilde, de uma chance para esses caras, certeza que não vão se decepcionar! Fechando o show dos cascavelenses, as últimas músicas: “Tell Tale Heart” e os caras apresentaram mais uma música inédita. Eles não estão para brincadeira mesmo! Eu gostei bastante da canção nova, “Mesmerian Revelation”. Ela é mais cadenciada e tem uma pegada Heavy Epic Doom Metal. E finalizando com “Thy Body Will Burn”. Show perfeito!
A Górgona deixou todos os presentes petrificados em sua apresentação. Para mim, um dos melhores shows de uma banda de Heavy Metal brasileiro que tive o prazer de ver nos últimos 10 anos. Os caras são muito bons músicos, é um show bem teatral e obscuro! Você sabe o que daria um encontro entre: Deep Purple + Uriah Heep + N.W.O.B.H.M.? Certeza que desse encontro sairia o Górgona. Vale citar que todos os músicos estão acima da média como instrumentistas. Mas o maestro e tecladista Luiz faz toda a diferença no som deles. O cara é um Jon Lord (R.I.P.) do submundo brasileiro. Sabe, a parte instrumental, você fecha os olhos e imagina uma viagem psicodélica, com uma pegada setentista, duelos entre guitarras e teclados, bateria precisa e trabalhada é de arrepiar. Fora executar os teclados magistralmente, o cara faz uns backing vocals perfeitos e magníficos. A banda sai do palco ovacionada e as cortinas se fecham!
Agora era a vez dos curitibanos do Wild Witch subir no palco e mandar ver em um show empolgante e feito com o coração, forjado no fogo e no aço. Wild Witch existe desde 2011, em seu portfólio consiste do primeiro trabalho “Burning Chains”, um EP lançado em 2013 e o Full Length, “The Offspring” de 2017. Inclusive, esse trabalho saiu na gringa pela gravadora francesa Infernö Records, e por aqui foi bem recebido pela cena metálica e mídia especializada. A banda ficou parada por um período e inclusive em 2022 perdeu Paulo Ryba, um dos guitarristas da formação original, deixando esse plano precocemente.
A vocalista Flav Scheidt também abandonou o barco em 2016. A banda voltou recentemente com novos membros. Conversando com Felipe Rippervert, baixista e membro fundador, ele me disse: que a banda está finalizando os últimos detalhes do novo lançamento e em breve o submundo receberá um trabalho deles! As cortinas subiram e adentraram no palco: Tiago Souza, Vocalista, Lucas Shreder, Guitarra, Felipe Rippervert, Baixo e Weiberlan Garcia, na bateria. Wild Witch veio trazer a fúria do Heavy Metal com uma pegada mais “speed metal” com muito peso, feeling e riffs certeiros e um novo vocalista, Tiago, que tem personalidade e influências dos mestres King Diamond, principalmente na fase Mercyful Fate do início e do Metal Gods Rob Halford. E já mandam: “Get Out!”, “Burning Chains” e “Diabolic Jaws”. A banda estava bem entrosada no palco! Executando músicas poderosas e energéticas, o público curtiu apoiando a banda e batendo cabeça alucinada na frente do palco. O vocalista Tiago é um cara que sabe cativar o público e dá-lhe mais pedradas na cabeça da galera, tome: “Fist” e “Heavy Metal Inferno”. Com solos simples e certeiros, baixo estridente e pesado, bateria rápida e certeira e um vocal muito foda! E fechando o show da bruxa selvagem, as duas últimas músicas: “Nightrulers” e “Witchripper”. A banda fez um ótimo show e sua performance no palco foi matadora! Mostrando a força do Heavy Speed Metal curitibano. Sem desmerecer as outras bandas, por favor, não me interpretem mal: mas tanto a Wild Witch como a Górgona, se fossem bandas americanas ou europeias, é fato que estariam em outro patamar no underground mundial.
Fechando a noite fria curitibana, sobe no palco uma banda que eu não conhecia e me surpreendeu de todas as formas! Essa banda vai longe! Personalidade e criatividade eles têm! O Stagyan veio habitar os bueiros sujos e os esgotos curitibanos em 2023 e, conversando com o vocalista, Raul “Salim” ele me disse que esse era o terceiro show deles. A banda já tem material próprio pronto para ser lançado em breve, por enquanto lançaram nas plataformas de streaming um single: “Hyborean Hunter”. As cortinas sobem e um espetáculo de Heavy Metal vai iniciar. Que show, e que criatividade dessa gurizada me chamou atenção!
O Stagyan formado por: Raul “Salem” Vocalista, João ” Samurai”, Baixo, Victor Bini “Hand of doom”, guitarra e Adrian ” Mustaço” bateria. Os caras, mais parecem com uma gangue saindo do clássico filme Warriors. Principalmente o vocalista Raul Salem, o cara é um show à parte! O show começa com “Where Evil Dwells (intro)” e “True Evil”, música baseada no enredo do filme exorcista dos anos 70. Com guitarras pesadas, baixo forte e muito presente, e os vocais muito foda de Raul Salem. A próxima é a música que eles lançaram recentemente em single, “Hyborean Hunter”. Pela tradução, acredito que a temática remete ao mundo bárbaro e selvagem de Conan. Com riffs poderosos e consistentes, partes pesadas e solos muito bons e vocais melódicos. Aliás, Salem tem uma forte influência do mestre: Kevin Dubron (Rip/2007) e no quesito performance o cara dá um show à parte e seria uma grande mistura entre Meat Loaf (Rip/2022) e também do grande Gordon Kirchin, do canadense Piledriver, que morreu cedo demais em 2022.
Pois é, os nossos heróis estão morrendo, é importante essa nova geração pegar essas influências e continuar o legado da velha guarda. Por isso, nós temos que apoiarmos as novas gerações, sejam músicos, bandas ou novos metalheads e o metal seguir seu legado, firme e forte!
“Unholy Blade”, outra faixa poderosa, um grande Heavy Metal forjado no aço e na velocidade. Raul Salem, o cara é hilário,com uma performance única e, como ele tem “uma barriguinha” saliente, ele usa ela como uma ferramenta para entreter o público, usando ela com uma dancinha no mínimo louca, hilária e não tem como você não rir! Ele pega uma espada e faz uma encenação que me lembrou os americanos do Thor (força) e uma homenagem ao universo do Conan.
O som do Stagyan tem muita influências de Tank, Living Death, Warfare, Tokyo Blade e muito da cena inglesa do final dos anos 70 e início dos 80. E também algumas passagens e pegadas do Punk, tem muito das posturas desse estilo nos pensamentos da banda, como: anti-autoridade, anti-religião e anticonformismo. Atitudes que uma grande parte dos true metal perderam depois que amadureceram. É importante uma banda, seja nova ou com anos de estrada, saber o que é o Metal, o que ele representa e o que o Underground realmente é e seu papel de rebeldia dentro de uma sociedade conservadora e religiosa.
E seguem com “Heavy Metal Load”, (o single atual) “Danger and Pride” e “Red Leather”. Essas três faixas são matadoras com riffs cheios de sentimentos, solos consistentes e não tem como não cantar os refrões poderosos, com punhos para cima. Simplesmente, Heavy Metal em estado puro e uma ode ao metal oitenta. As duas últimas: “Fire and Hate” e mais uma vez o vocalista insano, o show man dá uma aula teatral e de encenação. Ele pediu para os loucos e insanos metalheads cantarem juntos, com ele, e foi prontamente atendido! A última música é “Metal Sacrifice”. A banda manda ver em uma música poderosa e rápida, quando do nada sobe uma garota, ou melhor: uma “bruxinha” no palco e ela é executada com um machado e o público vai ao delírio.
Resumo: O Stagyan é uma banda nova, com integrantes novos, mas que sabem o que o submundo representa e o melhor de tudo: com músicas poderosas, devoção ao Heavy Metal e resgataram aquela coisa que o Heavy Metal sempre teve: o lance teatral e o lance de chocar, mesmo que no mundo atual das mídias sociais nada choca mais, mas em um show de metal ainda faz toda a diferença. Fim de uma noite em homenagem ao Heavy Metal paranaense e uma ode ao estilo oitentista, porém todas as bandas gabaritadas no estilo com muito profissionalismo, atitude, identidade próprias, muito couro, uma garotada com um visual mais Hard Rock e espírito contestador e rebelde que o submundo sempre fez questão de cuspir nessa sociedade conservadora e hipócrita. Rock n Roll foi criado e é para contestar, para chocar essa sociedade hipócrita.