Fomos conversar com o batalhador Paullus Moura, baixista e vocalista da Morcrof, banda que completa 30 anos em 2022 e, melhor de tudo, está em um momento de muita criatividade e lançando ótimos trabalhos. Ele nos fala um pouco mais sobre essas 3 décadas da banda.
Saudações meu amigo Paullus, em primeiro lugar é uma honra tê – lo aqui no The Old Coffin Spirit Zine & Portal. Sejas bem vindo !
PAULLUS: Walter Bacckus; a honra de participar do The Old Coffin Spirit Zine é toda minha.
Para começarmos gostaria de saber se você imaginaria estar com a banda ativa até os dias de hoje lançando materiais e, melhor ainda, sendo respeitado no cenário nacional como também no submundo mundial?
PAULLUS: Nunca imaginei, mas também nunca paramos pra pensar ou nos preocupar com isso. Deixamos as coisas acontecerem sem muitos planos, quase que à deriva.
De onde veio a ideia de você montar uma banda de metal extremo em 1992 e o que você ouvia naquela época? Gostaria de saber como foi o teu primeiro contato com a música?
PAULLUS: O desejo em ter uma banda já vinha desde o final dos 80 e, em 1991, fui convidado a tocar bateria num projeto de Grind Deathrash Metal com letras doentias e comportamento delinquente. Sobre meu primeiro contato com música, foi ainda quando pequeno junto com minha família escutando mpb, pop e rock nacional.
E o metalhead Paullus; consegue se lembrar qual foi o primeiro álbum de metal que ouviu / comprou e qual foi a banda que fez você se apaixonar pelo estilo, o que sentiu e o que mudou na sua vida depois dessa descoberta metálica?
PAULLUS: O primeiro álbum que adquiri na vida foi Show No Mercy do Slayer, e o tenho até hoje mas, meu primeiro contato com o Heavy Metal foi quando o Kiss veio ao Brasil em 1983 para duas apresentações recheadas de mistificações e que mexeram profundamente com meu imaginário. Fiquei alucinado pelo “Creatures Of The Night”, em especial na faixa I Love It Loud, e os acompanhava em todas as entrevistas na rádio, TV e revistas; passei a desenhá-los nos meus cadernos de escola, a desejar tocar e fazer parte de uma banda com braceletes, cinturões, corpse paint, enfim, resumindo, queria ser eles! A partir de então passei a frequentar as seções de Heavy Metal nas lojas de discos para ficar admirando as capas do próprio Kiss, Iron Maiden, Wasp, AC DC, Black Sabbath, Ozzy, Twisted Sister, Motorhead e outros mais. Depois de um tempo, passei a ter mais acesso às bandas ao conhecer caras que curtiam, e então pude gravar meu primeiro cassete com os álbuns Heatseeker do AC DC – recém lançado na época – no lado A e Live After Death do Iron Maiden no lado B. Até hoje Two´s Up é uma faixa que me emociona! Por outro lado, não tenho aquele sentimento de “descoberta” do Metal, mas a percepção de ter encontrado meu alter ego, de identificação imediata, era uma parte de mim tudo aquilo e foi graças ao Heavy Metal que aprendi quase tudo em minha vida em termos culturais.
Além da música, o jovem Paullus tinha outra paixão, e pela temática do Morcrof provavelmente era um grande apreciador de literatura e filosofia. O que você lia naquela época e quais autores ou livros te influenciaram naqueles tempos de descoberta e sem internet, onde tudo era de difícil acesso, principalmente se tratando de cultura?
PAULLUS: Eu não fui muito, como posso dizer, estudioso, esforçado ou interessado quando jovem. Vivia o carpe diem e isto era meu elixir. Minha vida era uma vadiagem, me focava em sexo, alucinógenos e metal – isto fazia sentido na época e desta forma podia lidar com meus daimonions. Tinha minhas “teorias” cosmogônicas mas, com o tempo, senti necessidade de aprofundar cada vez mais em minhas inquietações. Talvez ser introvertido ajudou-me a ocupar o tempo com temas que me intrigavam desde menino: culturas de povos antigos, mitologia, história e o sentido que toda esta merda deveria fazer a priori. Consumia (e consumo) quaisquer coisas relacionadas com esses temas, desde assistir filmes peplum, livros, desenhos até jogos e trilhas sonoras. Pois então, lá pros meus 14 anos meus pensamentos se rebelaram um pouco mais, foi quando a literatura e a filosofia me serviram como fármaco. O primeiro livro que peguei para ler com o propósito de entender minhas questões foi o “Encontro com os Deuses” de Jaime Guedes e a partir dele vieram diversos outros autores e livros como os de Rolland; de LaVey; Madame Blavatsky; Eliphas Levy; Pentateuco, Torah e Kabalah; a Cosmogonia de Hesíodo, A República de Platão, Enûma Elish, Edda em Prosa… enfim, conhecer esses autores e suas obras me estimulou cada vez mais garimpar muitos outras.
Já que você não citou, eu achei que nessa busca para exorcizar seus demônios e entender o mundo a sua volta, teria na sua biblioteca Nietzsche e Schopenhauer. Esses grandes mestres de alguma forma influenciaram a sua vida e as líricas do Morcrof ?
PAULLUS: Meu interesse em Nietzsche se despertou mais a fundo quando escutei “Anti-God Anti-Christ” do Acheron em 1996. Ali entendi como LaVey havia transmigrado 90% do pensamento de Nietzsche em sua Satanic Bible e, em decorrência, conheci Schopenhauer. Dentro de minhas limitações, ou seja, do que consegui absorver deles, considero justas influências contudo, no período em que escrevi “de pessimism philosophiam (…)” as grandes influências vieram de Emil Cioran e Alberto Camus.
Em .´. codex · gnosis · apokryphv .´. arcano · verba · revelatio .´.”, lançado em 2019, o EP “qvod dea et qvod eqves avratvs” de 2020 e, por fim, o último trabalho de estúdio “de pessimism philosophiam et dogma nihilistic” vocês caíram de cabeça no latim. Por que vocês resolveram assumir definitivamente a língua antiga romana nos últimos trabalhos? Eu particularmente achei que combina muito bem com a proposta da banda. As músicas ficaram mais obscuras. Essa será a escolha definitiva na escrita para os próximos trabalhos?
PAULLUS: Nada é definitivo; quero dizer, seguiremos fazendo o que acreditarmos ser mais consonante e coerente para cada composição. Dependendo do tema abordado podemos usar, sei lá, o aramaico, grego antigo, quem sabe? O idioma é importante para imersão nos temas, mexe com a psique de quem escuta e é a chave para o entendimento de quem se habilita a decifrá-los. Aprendi, de uns anos pra cá, que muitas “rés” deveriam ser acessíveis somente a neófitos e iniciados de modo gradativo e responsável, não à massa profana desprovida. “Sofia” vem para quem tem o “desejo” em alcançá-la, caso contrário, se gasta energia à toa, se distorce a representatividade de símbolos, perde a essência. As letras em latim, portanto, tem uma função para além da roupagem estética na música, ela oculta passagens, cumpre o apreço do “profano” e o entendimento do iniciado.
Friedrich Nietzsche segundo os estudiosos é o pai do niilismo, essa corrente filosófica não acredita em nada. Já dizia o alemão : Deus morreu! Existencialismo por outro lado “vive o aqui e o agora”. E o Morcrof entra de cabeça nestas duas correntes. Gostaria de saber por que você escolheu esses temas para escrever as letras do Morcrof?
PAULLUS: Eu não escolhi exatamente, fui em busca deles. Desde pequeno meus pensamentos são conduzidos em direção a dúvidas que, me serviu como força motriz a conhecer determinados autores que talvez pudessem me elucidar. A merda é que quanto mais você busca respostas, mais dúvidas aparecem, e é nesse ponto que faz da Morcrof um avatar, uma egrégora, onde se canaliza toda experiência possível do ser e do não-ser.
Disco lançado no submundo recentemente. (2022) Quais expectativas existem para esse novo disco em relação aos outros lançamentos? Você se preocupa com críticas negativas em relação aos lançamentos da banda?
PAULLUS: Não alimentamos expectativas e nem nos preocupamos muito com críticas. Cresci escutando que Heavy Metal era barulho e gritaria; que cabelo comprido e tatuagem eram coisas de transviados e marginais entre tantos outros estigmas que nos imputavam, então, estamos bem vacinado com “críticas negativas” e, dependendo de quem se desagrada, eu até gosto!
A banda despertou do seu sono em 1992 e estamos em 2022. Ou seja, 30 anos de luta no submundo brasileiro. Traçando um paralelo, que análise você faz do Morcrof desde o início de carreira até os dias atuais?
PAULLUS: Acho que desde o início nosso fio condutor foi, e é, a autenticidade em essência. Temos na discografia lançamentos bem distintos, mas ainda sim, quem nos escuta sabe que é Morcrof ao mesmo tempo que ainda percebe diferentes influências e características daqueles que passaram pela banda durante esses 30 anos.
Ainda dentro de sua visão, gostaria que você definisse o que, para você, é o Underground ?
PAULLUS: O underground é o espaço intocado pela mídia hegemônica, onde se encontra todo tipo de manifestação artística genuína que ainda não se corrompeu a indústria cultural e, portanto, onde quem produz arte se expressa para si e por si.
Aprofundando mais ainda a questão, o que significa o Black Metal para vocês ? O Black Metal é a união de qualquer subgênero do Heavy Metal somado às temáticas do satanismo explícito, seja focado na tradição de entidade ancestral, seja self cult. Você acha que o Morcrof está inserido dentro do Black Metal? Da maneira em que interpreto, não. Porque sempre vocês são resenhados ou mesmo em entrevista, citados como Dark Metal também e, acho que tem muito de Doom Metal em suas influências. Apesar de suas letras caminharem por uma outra via, digamos mais “dark” e não “tão satânica” como o Black Metal.
PAULLUS: Na verdade isso não é muito importante pra nós, mas no geral as pessoas querem uma referência de padrões identitário de grupos; assim, entrei nesse jogo e separei dois princípios: música e temática. A música tem características estéticas e técnicas no Heavy, Speed, Power, Thrash, Death, Doom… e as temáticas transitam no Black, Dark e Folk. Musicalmente temos muita influência do Death Doom Metal somado a temáticas que abordamos no existencialismo e as ciências ocultas, portanto, Dark Metal vem de acordo com nossa temática.
Todos nós que estamos dentro do submundo brasileiro seja músicos, um selo, uma distro, um produtor (que não tá nessa só por grana), fanzineiros, web zines e principalmente o Metalhead sabe que não é fácil sobreviver de Metal no Brasil e pior ainda de Metal Extremo. Isto posto. Em algum momento da sua carreira, você pensou em desistir de ser músico e seguir outro caminho?
PAULLUS: Eu segui outro caminho trabalhando na área da educação, que me dá o maior prazer em atuar e é de onde tiro meu sustento. Na verdade, nunca quis viver de música por uma razão muito simples: não sou músico. No máximo sou um musicista, um entusiasta que toca por atitude e não por arte (e aqui entende-se arte = técnica). Se já não pensava seguir esse caminho nos primeiros anos de banda, quanto menos penso agora, 30 anos depois.
Neste 30 anos de banda, o que você acha que mudou para melhor, o que precisa mudar e o que continua igual na cena brasileira?
PAULLUS: Antes nos sobrava vontade e faltava técnica; hoje se tem mais recursos, capacidade e expertise. Os jovens assimilam e dominam com facilidade seus instrumentos e entendem muito mais de acústicas nos ambientes de estúdio e de palco do que nós a 30 anos. O cenário passou a ser mais aberto, mais acessível, cabelo comprido e tatuagens são aceitos e o público também mudou seu comportamento. Estão mais embasados, mais exigentes, mais seletivos e individualistas (talvez) e não vêem sentido em comprar álbuns e nem tem a gana que tínhamos de conhecer bandas novas já que tudo está ao alcance em apenas um toque no celular. Houve tanta mudança que muitas vezes tenho a sensação de “não-pertencimento” no atual cenário. Não sei afirmar objetivamente tudo que melhorou ou piorou na cena em geral porque coisas novas sempre trazem juntos soluções e problemas.
Paullus, gostaria de saber se ficaram felizes com os resultados finais em estúdio, o reconhecimento da mídia especializada, e dos metalheads para o disco “.:. codex · gnosis · apokryphv .:. arcano · verba · revelatio .:.”? Mudaria algo nesse trabalho?
PAULLUS: Foram feitas poucas cópias de “.:. codex . gnosis (…)” e a divulgação, apesar de diminuta, rendeu boas resenhas que nos deixou satisfeitos. Não mudaria nada nesse álbum; acho ele singular, experimental, técnico, com boas faixas mas, condenado ao limbo discográfico da banda justamente porque nada que fizemos antes ou o que faremos depois reunirá tantos elementos como é nesse caso.
Na minha opinião, até o “.:. codex · gnosis (…)”, a banda tinha lançado um dos melhores trabalhos da carreira. Aquela formação estava comprometida com a qualidade musical e com evolução técnica sem soar demasiado chato. E todos com sangue nos olhos. O que houve com o vocalista Ezie Kantele-Väinö, Pétros Nilo e R. Bressan, ambos guitarristas, e também com o baterista R’Herton para saírem da banda em um momento tão propício para vocês?
PAULLUS: O Nilo saiu em 2016 para atender e resolver problemas familiares que o exigiria plena atenção e disposição. Com os demais havia um desgaste, a banda havia parado de produzir, expectativas díspares e objetivos divergentes demais pra continuar. Foi nesse contexto que me retirei da Morcrof porém, uma semana depois Bressan veio em casa e me disse que ninguém iria levar a banda adiante… nesse caso, continuei com o Morcrof.
Essa nova formação como um “power trio” está trabalhando muito e lançando trabalhos muito bons. Como você chegou até os músicos Brahmss Kermanns (k) e Aaron Maat (G)?
PAULLUS: Brahmss esteve envolvido conosco desde 2015, inclusive os teclados de “.:. codex . gnosis (…)” são dele; Aaron Maat é meu filho caçula; precisava de um guitarrista e o chamei.
E vocês pensam em procurar e efetivar um baterista oficial na banda?
PAULLUS: No momento não. A experiência de contratar músicos para gravar e para shows tem sido positiva porque o trabalho fica mais dinâmico, produtivo, oferece maior liberdade e menos desgastes pra todos.
Agora vamos focar mais na atualidade da banda. Em 2020, vocês entram em estúdio com essa nova formação e lançaram um EP com três músicas chamado “qvod dea et qvod eqves avratvs”. Como foi a primeira experiência da banda como trio e como foi o processo de criação do mesmo?
PAULLUS: Na época estávamos em plena pandemia então, usamos a tecnologia a nosso favor e tivemos uma ótima experiência que nunca havíamos tido. Compusemos um tema central para cada música e trabalhamos arranjos e harmonias de forma remota – por whatsapp e/ou e-mail.
E para você como foi o processo de adaptação de ser baixista e agora assumir o papel de vocalista também? Você gostou dessa nova função? E ao vivo como vai ser cantar e tocar ao mesmo tempo, está preparado para essa dupla função?
PAULLUS: Tranquilo. Já havia acumulado essas funções outras vezes quando abrimos o show do Rotting Christ em 2006 e nos lançamentos “arqués”, “in tenebris vitam traho” e “animo signus aeterno”.
Em 2021, vocês lançaram vários materiais físicos. Primeiro foi a compilação “Priorem (Anno MMII-MMIII)”. Logo depois foi um EP “Open The Road Fest V” e pra finalizar o ano pandêmico, o EP “Dark Live Sessions”. Você pode nos falar um pouco mais sobre esses trabalhos? Ainda estão disponíveis?
PAULLUS: Algumas cópias ainda estão disponíveis. “PRIOREM (anno MMII-MMIII)”, foi possível graças ao Oscar Cabrera do selo peruano “A Sangre Fría Records”, que demonstrou interesse em lançar as tapes “arquès” e “Equilibrium of Fohat” em slipcase com brasão prateado e encarte; saiu uma bela produção. Foram feitas 300 cópias, e apenas 30 vieram ao Brasil. “Open The Road Fest V” é um Live EP com sons resgatados de quando tocamos com Tokyo Blade, Satan, Mystifier e Farscape no Clash Club em 2016 e, por fim, o EP “Dark Live Sessions” são faixas que apresentamos no programa de mesmo nome da Dark Radio que mesclava entrevistas e músicas das bandas convidadas, algo semelhante ao Peel Sessions, feito na Inglaterra.
Ainda em 2021, vocês lançaram um Split com a banda grega Inferahl, chamado “Wrath from Above / Epitaphivm – Hic Nvllvm Svm”. Como rolou essa parceria? Eu li uma entrevista em que você disse que realizou um sonho em ter esse Split em vinil. O primeiro da Morcrof neste tipo de formato. Existe a possibilidade desse artefato ser lançado em CD aqui no Brasil?
PAULLUS: Tudo foi intermediado pelo Rodrigo Diniz, o brasileiro mais grego deste mundo! Ele quem fez a ponte entre as bandas, colaborou com a divulgação e fez toda a arte gráfica. O projeto foi oferecido à Erinnys Productions que topou na hora a prensagem de 300 unidades. Eu, particularmente, sempre quis lançar nossos materiais apenas em cult format – vinil e cassete, mas nunca havia sido possível então, o lançamento desse split foi um objetivo alcançado. Creio que este material nunca será relançado, quero dizer, não como um 7’EP split, mas talvez relançar o EP “qvod dea et qvod eqves avratvs” com a faixa “epitaphivm – hic nvllvm svm” de bonus track.
Para divulgar esse EP com os gregos vocês lançaram um clip para a música “epitaphivm – hic nvllvm svm” e eu achei o clip muito bonito e obscuro. As imagens contidas nele tem tudo haver com o clima da música e da letra. (Obrigado Google ). Me fez lembrar daqueles filmes da produtora inglesa Hammer Film. Vocês gostaram desse vídeo clip e onde buscaram referências para fazê-lo e o que vocês querem passar com o clip?
PAULLUS: Gostamos muito: A produção foi DIY com imagens selecionadas e editadas de filmes de terror dos anos 20, 30 e 40, sincronizadas perfeitamente com a atmosfera sombria e misteriosa que quisemos passar – imagens, música e letra.
E no ano que a banda comemora 30 anos vocês lançaram uma obra prima do Black / Dark / Doom Metal brasileiro. Eu acompanho a trajetória da Morcrof desde 1999 quando peguei a Demo Tape “Peragere Humum et Semem Terrai Abditae”. E desde então, a banda sempre lançou trabalhos fodas acima da média, tratando-se de Brasil, já que por aqui nada é fácil. Quando peguei o CD “Codex ..” em mãos em 2019, achei que a banda tinha lançado seu melhor trabalho. Mas aí chegamos em 2022 com nova formação e vocês surpreendem de novo lançando uma obra prima, melhor ainda que o último Full-lenght. Como foi o processo de composição, gravação e quem produziu “De Pessimism Philosophiam et Dogma Nihilistic”?
PAULLUS: Foi um período estranho pois ao mesmo tempo que “.:. codex . gnosis (…)”. foi lançado com grande potencial, a formação que o gravou se desmanchava. Diante disso, o melhor a se fazer foi definir a nova formação e focar em composições inéditas nos meses subsequentes. Colocamos as ideias em prática e gravamos guitarra guia e a bateria em estúdio; em seguida trouxemos a bateria mixada para continuarmos as gravações em casa. Não tínhamos muita grana para produzir devido ao recente investimento posto em “.:. codex . gnosis (…)”. O jeito foi improvisar captando as guitarras, contrabaixo e violões pelo microfone do meu celular dentro do banheiro de casa. Conforme íamos concluindo as gravações, mandávamos as músicas via e-mail ao Brahms Kermanns que compunha as linhas de teclado na casa dele. Ao finalizarmos esta parte do processo, levei as músicas pro Lau Andrade do Conspiração Studio Records para produzir cada faixa, mixar, masterizar e gravar os vocais.
Alias, “De Pessimism.” musicalmente é um ótimo trabalho e, visualmente, também chama atenção com uma arte bem obscura e fria. Quem criou a capa e todo Layout deste grandioso artefato?
PAULLUS: A capa do álbum ficou ao cargo de Brenda Cassimiro e a imagem do slipcase / single de Evi Savva. Para ambas enviei as músicas e letras pedindo para que as interpretassem e expressassem cada uma à sua maneira. Ao concluírem e nos apresentado as artes, tivemos a certeza de que ninguém poderia ter feito melhor do que elas. Ficamos em êxtase ao observar tal completude artística a cada detalhe sobre o contexto lírico e musical do álbum! O design e layout do CD ficou sob os cuidados de meu eterno irmão e ex-vocalista da Morcrof, Ludwick Schölzel – RIP, e as versão em cassete, lançado no exterior, foi produzido por Sakis Wampyrion Axiotis.
Hoje é fato que a internet é uma realidade e ajudou muito a divulgar bandas que fazem parte do Underground bem como agilizou os contatos. Por outro lado, tudo está disponível num simples toque no celular e, por consequência, diminuíram consideravelmente as vendas de materiais físicos, bem como muitos “Metalhead” preferem assistir shows através de streamings – YouTube, Facebook no conforto de casa e decidindo, muitas vêzes, comparecerem apenas nos shows mainstream. Eu li uma entrevista sua em que você diz: “não estou dizendo que eu prefiro este ‘mundo digital’, mas estou convencido de que é um caminho sem volta!”. O Morcrof lança CDs físicos e disponibiliza também sua discografia nas plataformas de streamings. Infelizmente ou felizmente, essa é a realidade dos dias atuais, né?
PAULLUS: Sim, no meu modo de entender estamos em um caminho sem volta. Os materiais físicos tais como livros, vinis, cassetes, CDs, VHSs, DVDs, pendrives entre outros estão com os dias contados e, por consequência, possivelmente também as gravadoras. O tempo de adquirir materiais físicos está acabando e isto é evidente a cada ano, já que soa sem sentido a atual geração de meus filhos, uma vez que eles acham desnecessários ocupar espaços de casa com algo que podemos acessar a qualquer hora e em qualquer lugar via internet. No fim das contas isso pode nos incapacitar a convivência coletiva, encontrarmos com amigos só para escutar um novo álbum que se adquiriu ou, assistir um show in loco… nos tornaremos idiotas completos fechados numa bolha repleta de neuroses.
Você é um metalhead “das antigas” e como todos que estão inseridos dentro do real submundo desde os anos 80 e 90 é um admirador de materiais físicos. Atualmente temos bastante web zines / revistas que focam em bandas mais famosas e rentáveis; no Brasil também temos ótimos e-zines que apoiam o submundo e bandas mais undergrounds, mas nos últimos 5 anos voltaram a ser lançados muitos zines impressos com alta qualidade de diagramação e visual, com conteúdos muito bons. Você aprecia a arte dos zines impressos ? E o que você acha dos web zine?
PAULLUS: Aprecio muito zine impresso! Tenho toneladas deles guardados em casa há mais de 30 anos, desde aqueles feitos em fotocópia p/b e presos a grampo, até os mais modernos e bem diagramados. Gosto de ter a sensação de posse, de virar a página, de guardar edições mas, claro, sem deixar também de conferir os e-zines com grande entusiasmo.
Paullus, eu estou inscrito no teu canal do YouTube e fico de cara com a quantidade de material obscuro da cena extrema mundial que você divulga por lá. Apesar de ser digital, você divulga demos de bandas raríssimas e que nós amantes da suprema arte negra temos acesso. Inclusive, material de bandas do início dos 90 e que muitas delas gravaram apenas uma única demo tape. Gostaria de saber de você quais as cenas que você aprecia mais: A cena grega, a cena norueguesa, ou mesmo a cena sul-americana?
PAULLUS: Porra, que legal saber que você esta inscrito em meu canal do YouTube. Eu quis fazer ali um grande repositório de demo-tapes, singles, splits, EPs, álbuns que acumulei durante mais de 3 décadas. Porém, tive problemas de direitos autorais e por conta disso parei de atualizar o canal até resolver esse problema! Sobre as cenas que mais aprecio estão a brasileira e a grega por sentir uma grande proximidade de ambas no início da década de 90. Além disso, o metal grego se tornou a única alternativa nova e original no meio daquela onda do Black Metal escandinávo.
Bah essa entrevista ficou grande !?(kkk) Paullus, obrigado pela entrevista e atenção conosco! O Espaço é seu. Suas considerações finais. Abraço & força – sempre !!!
PAULLUS: Muito obrigado a você Walter Bacckus e ao Fábio Brayner por seguirem apoiando a cena incansavelmente durante esses anos todos e, um grande salve aos leitores que se interessaram e dispuseram de um tempo para conferir esta entrevista!