Desde os anos 90, uma das especialidades da Finlândia é dar origem a criações monstruosas por meio de suas bandas de Metal Extremo. Em se tratando de Death Metal, acredito ser justo colocá-los como a terceira força do globo, perdendo apenas para os Estados Unidos e a Suécia, outro país nórdico com quem faz fronteira e nutre forte rivalidade histórica. Afinal, a Finlândia foi uma colônia sueca entre os séculos 12 e 19.
É notável a quantidade de formações de qualidade acima da média que continua nascendo com frequência naquelas terras gélidas. Confirmando essa observação, surge no ano de 2020, em meio à insanidade da pandemia, uma nova banda de nome MORBIFIC, na pequena cidade de Kitee, na região da Carélia do Norte.
Os responsáveis são “Jusa Janhonen” (Baixo e Vocal) e os irmãos “Onni Väkeväinen” (Bateria) e “Olli Väkeväinen”(Guitarras e Backing Vocal), um trio de jovens que aparenta nem ter vivido, de fato, a carnificina dos anos 90.
As atividades iniciadas no ano passado geraram a Demo “Pestilent Hordes”, lançada independentemente de forma digital e, meses depois em versão Cassete. O material causou furor no underground, e os músicos não perderam tempo. Entraram em estúdio no final do ano, e em maio de 2021, foi lançado o primeiro álbum Full Length da banda, aproveitando parte das músicas da Demo e intitulado “Ominous Seep of Putridity”.O selo norte-americano “Headsplit Records”, de Portland, encarregou-se das versões físicas em CD e Cassete.
A alma do trabalho está na recriação legítima e fiel da sonoridade pútrida das grandes bandas finlandesas de Death Metal Old school dos anos 90 (RIPPIKOULU, DEMIGOD, CONVULSE, FUNEBRE), acrescentando elementos típicos de algumas americanas como AUTOPSY (as partes Doom mais cadenciadas), TORTURE RACK e IMPETIGO, e ainda diversos momentos reminiscentes do Crust Punk da própria Finlândia. O saldo desse cruzamento blasfemo é um odioso morto-vivo híbrido, que soa ao mesmo tempo retrógrado, saudosista e perturbadoramente atual.
A própria arte da capa, ilustrada pelo norte-americano “Chase Slaker” presta homenagem à cena finlandesa daquela época, e lembra bastante o feeling das capas de boa parte dos discos do início dos anos 90, desenhadas pelo grande “Turkka G. Rantanen”.
Apesar da aparente pouca idade dos membros, a música executada é altamente profissional. O peso dos riffs só pode ser medido em toneladas, e eles possuem uma aura Doom constante, que os torna ainda mais massivos e intimidadores. As acelerações nunca atingem velocidade extrema, o som varia entre o midtempo, a pegada letal mais cadenciada, beirando o Death Doom, e as partes mais rápidas que agregam a influência punk e trazem uma diferenciação significativa à sonoridade do MORBIFIC. Não há técnica excessiva, tudo é mantido de forma crua, direta e, até certo ponto, simples. O famoso e bem-vindo caso que se encaixa ao popular “menos é mais”.
A produção foi coordenada pela própria banda, e o resultado foi muito positivo. O som dos instrumentos do trio ficou equilibrado, nítido, porém mantendo os níveis desejáveis de sujeira e podridão necessários a uma obra dessa natureza.
Estamos exatamente na metade de 2021, e até o momento seria impossível não mencionar o álbum como um dos melhores trabalhos do estilo no ano. Até porque, mostra-se como uma obra que cresce a cada audição (ouça o mais alto que puder).
OPlaysoca o ouvinte na cara, e o deixa ansioso pelo que os garotos finlandeses poderão apresentar em futuro material. É composto por dez músicas, que passam voando durante seus32:50 minutos:
1 – “Ominous Seep of Putridity”
2 – “Necroslaver”
3 – “Ravening Slasher Creep”
4 – “Cadaveric MaggotFarm”
5 – “Deformed in Phantasmal Fog”
6 – “Cauldron of Execution”
7 – “Sulfuric Funeral”
8 – “Sawmill in theMist”
9 – “Perverted Surgery”
10 – “The Racking Garden”
Destaques: A primeira faixa, que dá nome ao disco, é perfeita para quem quiser ter uma ideia do que se trata. Partes arrastadas pesadíssimas, riffs memoráveis que ficam grudados na memória e uma aceleração empolgante até o final. A terceira “Ravening Slasher Creep” tem levadas old school viciantes e pegada punk extremamente divertida. Destaques à parte, ouça o trabalho todo, são menos de trinta e três minutos que valem muito a pena.