Aproximadamente 54 minutos de andamentos ultra-trabalhados, guitarras excepcionalmente pesadas, vocalizações repletas de angústia, atmosferas excruciantes e melodias melancólicas, embora altamente viscosas. “Abysmal Misfortune Is Draped Upon Me” (Bitter Loss Records) é um álbum de estreia, mas é tanto profissionalismo, tantos detalhes e tantos adjetivos agrupados, que não seria exagero afirmar que se trata da obra-prima (ou um dos registros definidores de caráter) de alguma banda já veterana.
Ativo desde 2018 (de 2017 até o mesmo sob o nome de Cursed By A Hag), os australianos do MALIGNANT AURA chegam ao seu debut com a força e a naturalidade que poucos representantes atuais do Death/Doom Metal possuem. Sua escrita musical percorre caminhos já traçados, contudo, a banda não se limita a repetir feitos, reciclar fórmulas ou tentar porcentagens de glórias que lhe pertencem, pelo contrário, ela sabe muito bem até quando deve permanecer sob as sombras de gigantes ancestrais e onde/quando deve projetar a sua própria. Existe a nostalgia, é inegável, mas maior que ela, foi sua capacidade de criar algo ridiculamente pesado, brutalmente obscuro e monstruosamente coeso.
Atos lendários como: Paradise Lost, Incantation, Hooded Menace, Mournful Congregation, Disembowelment e My Dying Bride são facilmente detectáveis no repertório de referências da banda, que vez ou outra se torna ainda mais rico graças a elementos/e conjugações que rementem ao Evoken, Mourning Beloveth e Funeral. Que fique claro que estes citados não definem a medula sonora do MALIGNANT AURA. A banda tem muita substância própria, e a revela a todo momento nas seis composições que integram seu registro inaugural.
“Abysmal Misfortune Is Draped Upon Me” foi gravado e mixado nos estúdios Black Blood Audio por Brendan Auld (Descent, Feculent, Chassm). Masterizado por Arthur Rizk (Celestial Sanctuary, Temple Of Void). A arte — impactante e perturbadora é criação do mestre Paolo Girardi (Witchsorrow, Yatra, Oak, Lycus, Come To Grief).
Cada uma das faixas aqui apresentadas soa como um longo e solene rito dedicado ao declínio, ao infortúnio e a desolação. Todas elas com diversos níveis de peso, ambientações ora taciturnas, ora apocalípticas — repetições e alternâncias de ritmos — e caos sendo projetado nas mais divergentes formas. Seja na melancolia triunfante do tema inicial, homônimo à banda; seja no percurso de My Dying bride até Incantation, ouvido em “In A Timeless Place Beneath The Earth” ou na cruelmente autêntica “There Is Blackness In The Water”.
O tema título “Abysmal Misfortune is Draped Upon Me” é aberto com um diálogo extraído da clássica película “Possessão” (1981); obra dirigida por Andrzej Zulawski e roteirizada pelo mesmo junto Frederic Tuten. “Não há nada a temer exceto Deus, seja lá o que isso signifique para você.” diz Heinrich, ao que Mark responde: “Para mim, Deus é uma doença.” não preciso dizer que a composição é letal (seja nos crescentes robustos e lentos do início, seja no médio tempo do meio ou na ferocidade dos minutos finais). “A Soliloquy Beneath The Sepulchre” e “…And So It Was That I Lay Down Forever” encerram a obra com maestria. Sendo essa última a composição mais diversificada (talvez) do álbum. Indo de um Death/Doom rico em melodias e texturas, passando por uma forma impetuosa de Death Metal e oscilando entre climas típicos do Gothic Metal. Brutal, mas elegante, por vezes infernal, mas ainda assim, requintada.
Um senhor de um lançamento — a banda é jovem, mas tem espirito de veterana. Death/Doom Metal da mais alta qualidade, escrito e executado como se deve. O resto é pose, fac-símile e subproduto de gravadora que vende rascunhos musicais por Leonardo da Vinci.
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