Uma das características mais marcantes de “The Tree: Yarns Of Life” — o mais recente e segundo álbum completo do LES MÉMOIRES FALL, é a forma como ele se constrói e se dilata durante as audições. Não revelando apenas um peso absurdo e bases fortes, mas também melancolia aliada à elegância, e um senso de direção que prima pela imersão completa do ouvinte. Sendo um daqueles raros discos que uma ou duas audições simplesmente não bastam, são necessárias mais e mais vezes para, não apenas compreender as estruturas que o disco vai apresentando em seu avanço, mas também para apreciá-lo em plenitude e absorvê-lo em toda sua imensidão.
Formada em 2011, a LES MÉMOIRES FALL possui em sua discografia, além de “The Tree: Yarns Of Life” (Black Hearts Records — 2020), um split junto ao excelente Lúgubres (Epic Doom/Death Metal) lançado em 2012, um ep “Dying Dried” (2016), um registro completo “Endless Darkness of Sorrow” (sua estreia em 2014) e alguns singles que permeiam esses lançamentos. Lembrando que nesse ano a banda já lançou dois novos splits: “Dying Dreams” — junto a banda alemã de Doom Metal Imparity; e “Legiones Del Pantano” — com as bandas Lachrima Corphus Dissolvens (Atmospheric Doom/Death Metal da Bolívia), Funeral Of Souls (Gothic/Doom Metal da Argentina) e Vermiforme (Sludge/Doom Metal do Uruguai). Ao que cito ainda, todos os esforços do fundador Emerson Mördien que, além de ser um grande entusiasta da cena Doom, é, também um dos grandes apoiadores e disseminadores da mesma. Sempre promovendo sites, lives e outros modos, e veículos que de certa forma cedem abertura para que as bandas mostrem seus trabalhos. Precisamos de mais seres como ele e menos desses chatos e formuladores de regras virtuais — os pedantes com conexão Wi-fi.
Voltando ao “The Tree: Yarns Of Life”, este já começo belo por sua produção, concebida no AudioLab Vintage Studios e creditada a Niko Teixeira (também responsável pelas baterias do disco), ela é orgânica, discernível e evidente nos pontos certos — levemente suja como pede o gênero, mas forte e delineada. A capa, que geralmente serve apenas como um adorno, nele, chama às atenções tanto por suas cores e tons sabiamente usados, como também por seu conceito voltado à mitologia nórdica. Basta atentar-se aos símbolos e a árvore (Yggdrasil). Créditos a Everton Souza pelo excelente trabalho.
Ao disco: “Vacuum” e “Creation” são faixas que muito resgatam da essência dos primeiros lançamentos do My Dying Bride, Anathema e Lacrimas Profundere. Com o baixo bem destacado dos demais instrumentos, bateria que se desenvolve junto à composição, sem grandes aventuras e riffs que tanto transmitem peso quanto melancolia e tensões. As inserções de teclados creditadas a Gabriel Bernardes, ao fundo da primeira citada, reforçam seus climas tétricos e tensões. As vocalizações personalizadas de Emerson são ótimas em ambas, diga-se — seja nos guturais, nas partes limpas e também nos trechos narrados/declamados.
A segunda parte do disco eleva-se em 4 composições de alto esmero: “Spring”. “Summer”, “Autumn” e “Winter” — cada uma delas com sua própria beleza e particularidades. Todas exibindo excelentes progressões de guitarra, linhas salientadas de baixo e diálogos melódicos vigorosos. Destaque para “Winter” que muito exala da criteriosa beleza e harmonia do Celestial Season (“Solar Lovers” — 1995) e do já citado, My Dying Bride (“Like Gods Of The Sun” — 1996).
“The Tree: Yarns Of Life” vai além de ser “apenas” o segundo álbum de uma grande banda, no caso, a LES MÉMOIRES FALL, ele também representa toda a força, elegância e inteligencia que a mesma possui. Um lançamento imprescindível à coleção de todo fã de Doom Metal.
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