Entrevistas

INFERNAL WAR 666 – Black metal, brutalidade e coerência….

Pazuzu – Saudades grande nobre, primeiramente meus parabéns pelo ótimo trabalho e empenho em prol ao cenário metal extremo. Com certeza será um grande bate-papo. A banda passou por várias mudanças nesses longos 30 anos de estrada, desde amadurecimento na  musicalidada, ideológico e essa evolução faz com que elos fracos e frutas podres fiquem pelo caminho. Hoje a formação conta com Pazuzu- guitar/ vocals, Xxx – guitar,Rev. Mizira – drums e Devilsh- vocals/ bass. Esse ano  a banda voltou aos ensaios presenciais focando em material novo e shows Brasil afora em comemoração aos 30 anos de existência.

Pazuzu – O black metal dos anos 90 foi marcado por um som extremamente agressivo e obscuro, letras muitas vezes satânicas, anti-cristãs e anti-religiosas, além de uma estética visual e lírica que frequentemente envolvia temas como natureza, mitologia nórdica e o ocultismo. No entanto, o black metal dos anos 90 também ficou conhecido por uma série de eventos controversos, como incêndios em igrejas na Noruega, assassinatos e ações violentas por parte de alguns membros da cena, o que gerou uma má reputação para o gênero. Apesar das controvérsias, o black metal dos anos 90 foi um período de grande criatividade e inovação para o gênero, com bandas expandindo os limites musicais e líricos do estilo. Muitos álbuns clássicos foram lançados nessa década que ainda são reverenciados pelos fãs do gênero até hoje. No geral, os anos 90 foram uma época crucial para o desenvolvimento e consolidação do black metal como um dos estilos mais extremos e influentes dentro do cenário musical underground.

Pazuzu – Sim exatamente. O nome Havoc  foi o que antecedeu ao nome atual , devido alguns fatores na época,  existia uma banda de death metal com esse nome.  Sem contar que soava muito melhor como banda de death metal. E infernal war 666 veio para representar em sua essência, uma oposição ao cristianismo devido à sua natureza anti-religiosa. Veio pra afrontar uma sociedade doente e conservadora, o nome representa todo o caos e  Visceralidade do seres mais sombrios, ter um nome forte e impactante para época era fundamental para se posicionar contra a hipocrisia cristã e seus dogmas, contra o fundamentalismo religioso, conservadorismo até mesmo dentro do próprio cenário. Infernal War 666 representa o mais puro satanismo .

Pazuzu – Enfrentamos uma recepção mista e muitas vezes confusa Inicialmente, o gênero era considerado underground e marginalizado, com uma base de fãs relativamente pequena, foi muitas vezes polarizada, com alguns críticos elogiando a inovação e a agressividade do som, enquanto outros condenaram as letras blasfemicas e a estética sombria associada ao gênero. Além disso, a controvérsia em torno de eventos como os incêndios em igrejas na Noruega e os crimes cometidos por alguns músicos de black metal contribuíram para uma visão negativa do gênero em certos círculos. Mas para nós era tudo novo, estávamos ajudando a criar um estilo e um cenário e nem sonhávamos a proporção que chegaria.

Pazuzu – A minha passagem pelo  rock, punk e heavy metal  foi muito rápida, me encantei  de cara com Venom, Bathory, Hellhammer, depois veio a ascensão das bandas norueguesas e suecas.  Bandas como Mayhem , Burzum ( rip) Darkthrone , Immortal , Satyricon, Emperor , Enslaved,  Isengard , Storm , Dark Funeral, Marduk e Dissection  foram cruciais para o meu crescimento como músico no estilo.  A Infernal War 666, se destaca por nunca seguir um padrão de composição.  Mas falando por mim Mayhem , Dark Funeral, Carpathian Forest e Marduk (old ) são grandes influências na Infernal War war 666

Pazuzu – Então vamos lá! Como citei acima, nunca tivemos um padrão, todos os álbuns foram gravados com uma formação diferente.  O hail… foi gravado duas vezes. Pois entre um desmonte da banda por incompatibilidade ideológica com os antigos membros, reformulamos as músicas e regravamos, esse álbum chamou atenção do público, gravadoras e selos fora do país, o satanic truth um álbum ríspido já mostrava um novo caminho de ascensão nas composições da banda mas ainda faltava algo mais profissional, coeso e impactante e isso conseguimos no Venomous Eternaly  – ficou perfeito do começo ao fim músicas viscerais, caóticas letras inteligentes e muito bem  elaboradas . Destacando músicas como Infernal War , Cerberus, Venomous Eternaly e Only Victory.

Pazuzu – Essa parceria de lançamento foi por intermédio da  Nuktemeron Produções. Para a banda e para o cenário nacional foi um grande avanço, uma banda do interior formada por  operários estar conquistando espaço no cenário nacional e internacional.  Lançamos split com Goat Evil 666 da Bósnia, recebemos muitos comentários positivos .

Pazuzu – A cena de metal extremo nos anos 90 na serra catarinense foi marcada por uma forte presença de bandas de death metal, black metal e grindcore.A cena de metal extremo na serra também foi marcada por festivais e eventos underground, que reuniam bandas nacionais e internacionais do gênero. Essa cena foi essencial para o fortalecimento do metal extremo no Brasil e deixou um legado de bandas e músicos influentes que continuam ativos até hoje. A união das bandas de metal extremo nos anos 90 no sul era marcada por uma forte camaradagem entre os músicos. Muitas bandas se reuniam frequentemente em suas garagens( nome dado para local de ensaio) em shows, festivais e eventos underground para trocar experiências, ideias e apoiar uns aos outros. Além disso, muitas bandas de metal extremo do sul se uniam em coletivos e selos independentes para lançar suas próprias músicas e promover a cena local. A cena underground do metal extremo na serra era bastante unida e respeitada , as bandas se ajudando mutuamente na divulgação, produção de shows e até mesmo na gravação de álbuns. Essa união entre as bandas de metal extremo no sul contribuiu para o fortalecimento da cena local e para o surgimento de várias bandas .

Pazuzu – Como o tempo passa rápido meu amigo e com isso vem a experiência, maturidade e a evolução como seres humanos, foram tempos gloriosos, fazemos parte do início de vários estilos no cenário extremo, muitas vezes derramado muito sangue para manter de pé a filosofia do satanismo , muita gente oportunista passou, muitos não aguentaram a pressão do black metal, o crescimento do nsbm na época criou uma imagem um tanto contraditória no movimento fazendo com que surgissem alguns rachas e muitas tretas de lá pra cá. Lembro que na época ainda não se tinha noção do perigo iminente e hoje vejo um grande crescimento de bandas pseudo black metal usando o estilo para que de forma velada ou nem tanto possam falar sobre nazismo, fascismo e integralismo destilando seu ódio e preconceito contra as minorias.  Se não estou enganado,nos anos 2000 surgiu uma panelinha de bandas que se intitulavam a elite do black metal ( surrei a maioria desses  caras ) risos.  A Infernal War 666 sempre black metal scum na resistência até hoje não ligamos para status a banda existe porque tem que existir.  Sou praticante  do satanismo moderno e tradicional, leal a um estilo de vida que se parece de escutar metal ainda seria satanista. Black Metal, no entanto, vai além da música, e sua definição se estende para uma cultura e filosofia. Para muitos, ele representa uma rebelião contra as normas sociais e religiosas, bem como uma busca por autenticidade e identidade pessoal.

Pazuzu – A Infernal War 666, é uma banda comprometida com os princípios do satanismo e há 30 anos está fortalecendo os pilares do black metal através de blasfêmias, ocultismo e heresia. Todos os discursos fascistas propagados por ex-integrantes que tentaram fincar raízes na horda caíram por terra, assim como os mesmos. Portanto, somos convictos de que não precisamos de prostituição musical ou ideológica para manter o legado vivo. Existem bandas e organizadores que se deixam levar por discursos falaciosos e esquecem o verdadeiro significado da palavra liberdade. Estamos dando  início a um novo ciclo de lutas contra toda a hipocrisia e opressão que vem se fortalecendo nesses últimos tempos através de práticas conservadoras. O bolsonarismo fez com que os ratos saíssem do esgoto, aflorou o pensamento dessa burguesia podre envolvida com o metal & rock em geral, Não acho justo com a maioria da galera dividir o palco ou apoiar bandas separatistas ou Freak, que envergonham nosso cenário, optamos por não tocar com bandas conservadoras  de extrema direita e nos comprometemos combater qualquer tipo de atitude dos  mesmos.  Black metal e  conservadorismo não combinam e todos nós sabemos disso.

Pazuzu – Tudo é político desde a hora que acordamos e vamos dormir, conhecer, estudar e debater a política é a única maneira de entendermos os processos e regimes políticos e, com base nisso, fazer uma escolha sensata, baseada em quais valores nos identificamos. ( consciência de classe). O metal, por si só, tem sua história marcada por bandas que criticaram a sociedade, suas relações e valores. E isso também é fazer política. Negar os dogmas cristãos é  um ato político,  se opor a regimes fundamentalistas religiosos é  um ato político. O que não é  político é dentro da política fundamentalistas religiosos ditarem as regras. O que não é  político é uma única religião dominar o mundo .Vivemos em uma Era de despertar para alguns tópicos humanistas, mas em contrapartida temos um obscurantismo crescente, um negacionismo latente e revisionismo histórico em níveis assustadores. É preciso estarmos atentos para as tentativas de recriar os horrores históricos que já vivemos, como o holocausto e a escravatura. Black metal, é o grito de pessoas que pensam sobre aquilo que acaba com o mundo, também é a filosofia de pessoas que optaram em seguir esses pensamentos, pois são pessoas que não estão vendadas para o mundo, e nem ficam quietas para o que a sociedade conservadora impõe, filosofar é muito mais do que eu possa falar aqui, pois um bom Filósofo não sabe de tudo, mais procura saber. Filosofia é o pensamento desesperado do ser humano por respostas que possam satisfazer sua sede de aprender.O black metal define a exaltação de um ser humano livre de carcereis  psicológicos impostos pela sociedade fundamentalista cristã brados que definem toda à lealdade à uma ideologia ou várias delas, principalmente as bandas com fundamentos históricos, culturais e mitológicos. Revelando que O Cristianismo não ascendeu completamente à mente dos bravos que ainda resistem pelos caminhos do som, pois o som é uma arma poderosa se vinculado à palavras de poder objetivo.

Pazuzu – Temos muitas bandas boas no cenário atual, não só de black metal mas outros estilos . Bandas de alto nível que não devem nada pra banda gringa. O death metal brasileiro está  num nível superior fora do comum. O que mais me deixa feliz é a ascensão feminina no metal não só como ouvintes mas como protagonistas,  temos bandas fodasticas a nível mundial, as minas batendo de frente contra o patriarcado e o machismo enraizado no metal, isso é  um soco na cara dos machos escrotos no metal. Hoje em dia me abri muito a novos estilos . Sou professor de capoeira, então escuto muita coisa voltada às raízes afro, gosto de um bom samba de roda . Um rap de protesto,  escuto muita MPB.  Mas o black metal é minha vida, te confesso que sou um pouco relutante a bandas novas, estou meio preso ao passado,  preciso quebrar essas amarras kkkkkk .

Pazuzu – Tema muito polêmico meu amigo.  A cena catarinense , no sul, em geral tem essa síndrome de vira-latas , white pardos ou tupinivikings . Digamos que 90 %  das bandas de metal no Sul tem integrantes bolsonaristas, conservadores e até mesmo nazifascistas assumidos. Só que muita gente passa pano e usa  do discurso “a mais comigo é gente boa”. “Falou que não era envolvido ” mesmo a pessoa usando camiseta de banda nazista, enfim hipocrisia total.  Mas existe resistência por aqui.  Temos uma boa relação com pessoal do Norte/ Nordeste do país, muitos achavam que a Infernal War 666, era envolvida com ideologia nazista, mas isso foi a 20 anos atrás  . Creio que hoje em dia não precisamos mais ficar tentando provar que a banda é   e  vive a essência do puro e verdadeiro black metal.  Esses tipo de discursos preconceituosos, misóginos, machistas e separatistas não são toleráveis, e devem ser extirpados, no passado até era visto como zoeira, brincadeira na maioria das vezes, até pela falta de informação da maioria das pessoas. Eu por exemplo fui ter um computador com quase 30 anos de idade(rs) . Mas hoje em dia não é  mais aceitável esse tipo de pessoa na cena.

Pazuzu – Muita coisa mudou na cena de 30 anos pra cá, as minas estão voando, as mulheres conseguiram conquistar o merecido respeito na cena, sendo que o metal ainda é um lugar  machista, muitos manos e manas assumiram sua sexualidade, e isso é libertador. Esse crescimento da extrema direita junto com o fundamentalismo religioso deu um gás, precisamos de algo real para lutarmos contra.  Metal extremo Principalmente o black metal  tem que ter feeling & sentimento, se não é  só mais uma banda .  Vi a banda dessas minas e  confesso que tocou a alma , som intenso e foda demais. O que precisa melhorar é a galera parar de babar ovo de banda gringa e valorizar  as bandas locais . Valorizar oque é  nosso, frequentar eventos, comprar materiais das bandas, apoiar as casas de shows que abrem as portas para eventos.  E a extinção de bandas de extrema direita e conservadoras tanto no metal e rock n roll já iria melhorar a cena de certeza .

Pazuzu – Então, sou um amante das artes marciais , pratico boxe ( por hobby), treinei jiu-jitsu e muay thay muitos anos. Competi na época do vale tudo – mas meu coração é  da capoeira, praticante a mais 30 anos, dou aulas na parte social com projeto saindo da rua entrando na roda para crianças e adolescentes carentes. Depois  que você amadurece e descobre que pode sim escutar outras coisas. Outros elementos musicais e isso vai te ajudar como músico é  libertador, amo o metal extremo não me vejo fora do cenário mas não me privo  de escutar ou até tentar dançar outros estilos depois de alguns drinks tomados. ( rs) floripa me recebeu de braços abertos amo essa cidade já morei anos atrás por aqui, fiz muitos amigos e ainda mantenho essa amizade.  Aqui talvez seja uma das cidades de maior resistência política contra governos de extrema direita.  Isso me faz sentir acolhido e representado.  Tem muitas bandas boas e  posicionamentos politicamente.

Pazuzu – Primeiro de tudo é  consolidar essa nova formação.  Batera e  guitarra novo, voltar aos palcos depois de 4 anos afastados. A banda continuou  ativa, porém sem shows ao vivo até porque grande parte do tempo estávamos em pandemia. Lançar  material novo depois de 12 anos e depois do último material lançado Vennomous Eternaly que por sinal ficou matador mas  lançamos em CD e agora nem existe mais  CDs e ainda não me habituei com essas plataformas.  O que posso adiantar é  que o novo material será insano, caótico, visceral e afrontoso. Faixas como: Fuck You All, Black Metal Scum, Funeral Mist e The Anti- Fascist, já dá pra imaginar oque vem pela frente . Agradeço desde já a oportunidade,  desejo vida longa ao irmão.

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