Entrevistas

IMBLUT – Uma conexão entre o Antigo Egito e a brutalidade entranhada na música

Entramos em contato com a banda Imblut de Indaial (SC), formada em 2019 por Marcos Diegel e Tiago Sestrem, veteranos da cena catarinense, que convidaram depois o lendário Evandro Siebert (Goatpenis) para fazer parte da formação da banda, e que, infelizmente, nos deixou prematuramente. Em 2022, lançaram o Debut – CD ” Mummifing Moments”. E quem  nos conta mais sobre o futuro da banda é o guitarrista Tiago.

Saudações amigos ! Fico feliz que vocês aceitaram o nosso convite em participar dessa entrevista neste artefato dos subterrâneos do Underground. Não gosto de perguntas clichês, mas como a banda é nova apresente – nos  a atual formação e seu Debut – CD lançado recentemente.

Tiago: Olá Waltinho, A satisfação é nossa em participar do The Old Coffin Spirit Zine & Portal.  Imblut é Marcos Diegel na batera, Tiago Sestrem na guitarra e Emerson Malkovski no baixo e vocal e lançamos em Março / 2022 nosso debut “Mummifying Moments” que está disponível nas principais plataformas digitais assim como material físico que estamos vendendo através do e-mail imblutofficial@gmail.com ou qualquer rede social da banda.

Qual é o significado da alcunha “Imblut” e o que vocês querem passar nas letras da banda ?

Tiago: Imblut significa” No Sangue” e remete a tudo que sentimos de verdadeiro na amizade e no metal e neste álbum, Mummifying Moments, abordamos através das letras, com uma linguagem poética simbolista, temas relacionados ao comportamento da raça humana. De alguma forma tentamos criar uma conexão entre temas atuais e a cultura egípcia como alusão ao berço da civilização a fim de evidenciar que esses males fazem parte da natureza humana desde sempre. A arte foi criada por nós e traz elementos com significados para a cultura do Egito antigo, que de alguma forma abordamos nas letras deste álbum.

A princípio a banda seria além de você, Tiago, nas guitarras, Marcão Thrasher na bateria, e também do Evandro Siebert nos vocais e baixo. Infelizmente, ele nos deixou prematuramente. Na época de sua partida vocês só tinham gravado uma música e que foi lançada como Single “Spiritual Ecstasy”, certo ? Como essa perda afetou a  banda ? E  vocês pensaram em desistir ?  Aliás, essa perda afetou a cena catarinense de forma geral. Já que Sabaoth junto com a Goatpenis sempre levou o metal catarinense para todos os cantos do planeta, né ?

Tiago: Sim Evandro é uma referência na cena war metal mundial e sua partida repentina foi sentida sim, pois acima de tudo era um cara incrível e sempre bem humorado. Durante um tempo a banda seria somente eu e Marcão, mas quando decidimos convidar mais pessoas as opções em primeiro lugar foram os grandes amigos, então quando convidamos Evandro, as músicas e letras já estavam prontas e Evandro seria baixista, mas como estávamos experimentando idéias de vocais meus e dele, óbvio que o dele ficou melhor e diferente do que ele fazia na Goatpenis, então decidimos gravar a “Spiritual Ecstasy”  para sentirmos como o som estava soando e usá-la para fechar parceria com algum selo, porém, pouco tempo depois ele nos deixou e realmente ficamos um tempo sem ação.

E como foi o processo de criação da música Spiritual Ecstasy em estúdio e com o Evandro ? Fluiu bem a parceria de  vocês ? Ficaram felizes com os resultados finais ?

Tiago: A gravação desse single era um experimento em termos de timbres, vocais… Era o início da construção visual e sonora da Imblut. A música eu já havia criado a alguns anos, mas estávamos todos bem abertos a ideias e o clima no estúdio sempre foi de muita risada, cerveja e ao mesmo tempo seriedade no que estávamos construindo. Ficamos muito satisfeitos com o resultado final.

Emerson Malkovisk, foi parceiro do Marcão no Rithual, banda de Thrash Metal deles no início dos anos 2000, que  lançou um ótimo trabalho na época “Welcome To The Ritual” de 2004. Ele foi a primeira opção por essa história com o Marcão ou pensaram em outra pessoa ?

Tiago: Quando Evandro faleceu, eu e Marcão decidimos gravar as guias e batera enquanto as coisas não ficassem claras pra nós e foi em uma das bebedeiras da vida que outro grande amigo cruzou nosso caminho, então Emerson foi convidado para gravar um teste e quando ouvi a gravação foi difícil dizer não, apesar da grande diferença de estilo, estava muito bom o timbre e pegada então fomos experimentando o restante das músicas e rapidamente Emerson havia encaixado as letras e gravado os vocais

O que o Emerson trouxe de influências para a banda ? E como foi o processo de composição e gravação do Full Lenght “Mummifing Moments” ?

Tiago: Um dos princípios da banda é a praticidade, então cada música que eu criava já enviava para o Marcão que ouvia e encaixava a batera, na semana seguinte nos reunimos para ajustes e logo na sequência gravamos o ensaio e desta forma achamos uma maneira rápida e prática de compor e as gravações foram neste ritmo. Em 1 dia gravei as guias, em outro Marcão gravou a bateria, rapidamente já gravei o baixo e logo na sequência Emerson se juntou a Imblut e nem teve tempo para ensaiar, já entrou gravando uma  pré produção e depois gravou valendo. Sempre regado a um bom whisky Emerson trouxe uma pegada mais thrash para a sonoridade, abrindo ainda mais as possibilidades sonoras para a Imblut,  pois tocamos  sob várias influências e não ficar preso a algo é importante para nós. Tudo foi gravado no estúdio Sonority em Indaial sob o comando do Fernando que fez um ótimo trabalho e sempre seremos gratos por essa parceria, é um cara fantástico que ajudou muito para esse processo ser prático.

Mesmo com todo o histórico dos músicos na cena catarinense e com passagens por bandas como o já citado Rithual, Rhestus e Goatpenis, vocês lançarem de forma independente o trabalho de vocês. “Os veteranos” optaram por ter mais controle sobre a sua obra ou não apareceu nenhum selo para apoiá – los nesta empreitada ?

Tiago: Iniciamos o projeto Imblut com esse intuito e o single “Spiritual Ecstasy” teve esse propósito, porém devido às circunstâncias, simplesmente fomos gravando sem pretensões. A parceria com um selo é interessante e sempre estaremos abertos a isso, mas estamos orgulhosos de ter feito um material digno dentro do nosso orçamento e de forma independente, hoje isso  trás mais possibilidades para a banda.

Nota / entrevistador : Realmente, claro que é importante ter um selo por trás da banda, até dá um certo “status profissional” para a banda. Mas com as redes sociais ficou mais fácil ter controle e divulgar seu trabalho, né !?

Já que estamos falando nisso (… ) Me diga o que você acha de divulgação nas redes sociais e lançar primeiro um single ou um álbum completo primeiro nas plataformas de streaming ? Você acha que em um futuro próximo a mídia física pode tá com os dias contados ? Porque o mundo mudou e isso é um fato. Me parece que quem ainda compra discos de vinil, CD, K7 e zines ainda é a velha guarda. A molecada mais nova  só escuta som pelo celular, Spotfy e YouTube.

Tiago: Acredito que a divulgação nas redes sociais ajudou muito as bandas do underground, pois facilita a interação e o alcance da banda, por outro lado isso aconteceu para todos, então a “competitividade” e quantidade de informação aumentaram na mesma proporção, desta forma buscamos ser objetivos nas comunicações assim como ter uma assessoria parceira que divulga nossas infos em canais específicos. Um single sempre é uma boa alternativa para trabalhar na divulgação do material Full , assim como é importante estar nas plataformas de streaming, pois grande parte do público consome o material por lá. Sim, as vendas estão mais restritas justamente por ter mais canais de acesso ao material, porém, para nós do underground essa receita através da venda do material físico é muito importante e o público metal tem entendido isso e compra para apoiar.

Semana retrasada 13/3, vocês lançaram oficialmente o Full Lenght “Mummifing Moments” na segunda edição do festival catarinense “Black Flag Metal Fest” e como o cenário Underground tem aceito esse trabalho de vocês ? A banda também debutou nos palcos. Como foi para vocês essa participação no evento ?

Tiago: Foi uma satisfação dividir o palco com nomes consagrados do metal catarinense e voltar aos palcos é uma sensação indescritível, só quem experimenta sabe como é, com certeza é a melhor parte de ter banda. Todos aqui  tem uma certa experiência em bandas que rodaram por muitos palcos, mas estávamos ansiosos, pois estamos divulgando sons novos e não sabíamos como seria a receptividade do público, muita gente bateu cabeça e recebemos muito feedback positivo, foi um show sensacional.

Como você vê o atual cenário catarinense e nacional hoje em dia ? O que mudou para melhor, o que continua igual e o que piorou na sua opinião ?

Tiago: O Brasil tem ótimas bandas e entendo que a sonoridade e criatividade das bandas de SC não perdem em nada para bandas de outra região, temos ótimos eventos e um grande público e isso fomenta essa qualidade, algo que chama a atenção na cena nacional, só falta darmos mais valor a tudo isso, bandas regionais e eventos. Com certeza as mudanças foram pra melhor, hoje temos mais acesso a material, equipamento, tecnologia, acesso as pessoas e outras bandas, só vejo pontos positivos e quem é headbanger sempre vai curtir o metal e se podemos trazer mais qualidade para a música, estrutura de eventos, etc. o público vai responder bem também.

O que você tem escutado ultimamente, quais bandas do Underground têm chamado  sua atenção que você indica aos maléficos leitores do zine ?

Tiago: Ultimamente tenho escutado os grandes clássicos,  mas sempre pinçando algo novo também e ultimamente tenho ouvido muito os caras do Volkmort e Bölzer.

Obrigado pela entrevista e atenção.  Espaço é de vocês. Palavras finais. Abraço a vocês e vitórias e conquistas nesta nova empreitada. Força –  Sempre !!!

Tiago: Somos gratos a você por esse espaço e poder falar um pouco da Imblut. Convidamos os seus leitores a procurar o material da Imblut no Instagram, Spotify, YouTube e conhecer um pouco mais sobre nós e sobre nosso recente lançamento “Mummifying Moments” que pode ser  adquirido através do e-mail imblutofficial@gmail.com ou nas nossas redes sociais.Nos vemos por aí. Abração

Related posts

PODRIDÃO – “Sempre fui da pegada de tocar, acredito que a melhor vitrine para uma banda é o palco”

Walter Bacckus

SIJJIN – A tradição do death metal como meta

Fábio Brayner

VOLKMORT – Com o famigerado death/doom correndo nas veias…

Walter Bacckus