Algumas bandas têm o poder de dar um nó na cabeça de quem decide aventurar-se por sua obra, mas apenas parte delas oferece uma experiência de fato positiva, ultrapassando as dúbias fronteiras da bizarrice, e proporcionando real satisfação ao ouvinte.
O FLUISTERAARS (Sussuradores, em holandês) está na ativa desde 2009, mas eu só ouvi falar deles no ano passado, quando saiu o seu terceiro disco de estúdio – “Bloem”. O disco é excelente, do tipo que desafia rótulos e pede mente aberta ao fã de metal extremo. Recomendo a audição das faixas “Tere Muur” e “Vlek”, dois exemplos bem legais desse trampo.
A sonoridade do duo holandês é uma mistura de Black Metal Melódico, Atmosférico, Post-Black e Blackgaze, com elementos Folk, Psicodélicos e Progressivos, e onde qualquer coisa pode acontecer, por mais desconexa ou ousada que possa soar. Como a inserção de instrumentos como trompetes, guitarras acústicas, passagens com piano e teclados.
O importante é que esse trabalho diferentão e isento de preconceitos funciona, e muito bem.
No final de agosto, foi lançado o novo disco de estúdio, de nome “Gegrepen door de geest der zielsontluiking”, que pode ser traduzido como “Capturado pelo espírito do despertar da alma”, pelo selo alemão “Eisenwald”.
O novo trabalho soa, em geral, pouco menos experimental que o antecessor, porém não menos desafiador. O Black Metal Atmosférico é a pedra fundamental do álbum.
“Het overvleugelen der meute” inicia a jornada como um som tipicamente Black Metal, com bateria furiosa e bem-marcada, belas linhas de baixo, vocais gritados tendendo ao desespero e atmosfera densa, de riffs hipnóticos e reforçada pelos ótimos teclados. O clima muda nos dois minutos finais da faixa, quando uma passagem atmosférica, de batidas tribais, assume o comando e a conclui.
“Brand woedt in mijn graf” abre com um grito aterrador, e a volta do instrumental voltado ao Black Metal, desta vez com os sintetizadores mais presentes e o encaixe de vocais limpos. Traz uma carga emocional mais marcante, e momentos em que crueza, extremismo e beleza contemplativa convivem em harmonia. Assim como a antecessora, seus dois minutos finais são diferentes, de clima ritualístico.
“Verscheuring in de schemering” pega carona no clima final da segunda faixa, e adiciona guitarras e efeitos sonoros, em um início atmosférico e progressivo, que a conduz a um clímax instrumental pouco provável e exótico. Um dos momentos de destaque do álbum está pouco além dos três minutos da música, passagem memorável que a redireciona às passagens mais extremas e pesadas. As variações mantêm o som interessante ao longo dos seus impressionantes vinte minutos, com passagens diversas que remetem até aos momentos mais lisérgicos de bandas progressivas fundamentais, como KING CRIMSON e PINK FLOYD. Finaliza o disco de forma igualmente audaciosa e grandiosa.
Um excelente quarto álbum do FLUISTERAARS, rico em alternativas e nuances, e eficiente em todas as vertentes exploradas. Difícil traçar paralelos ou bandas similares. Creio que deverá agradar a fãs de WOLVES IN THE THRONE ROOM (EUA), URFAUST (HOL), FORTERESSE (CAN), DEAFHEAVEN (EUA), GHOST BATH (EUA), NACHTMYSTIUM (EUA) e ALTAR OF PLAGUES (IRL).
Relação das três faixas que compõem o álbum, totalizando 35:35 minutos de duração. Nomes das músicas em português entre parênteses, em tradução livre.
1 – “Het overvleugelen der meute” (Ultrapassando a Multidão)
2 – “Brand woedt in mijn graf” (O fogo Assola meu Túmulo)
3 – “Verscheuring in de schemering” (Despedaçando-se no Crepúsculo)
Destaques: A segunda faixa pode ser destacada individualmente (ainda que a contragosto), em meio a um trabalho elaborado para ser ouvido como um todo. Até por isso, as três músicas unem-se, de forma a criar uma entidade única e indivisível.