CD/EP/LP

ESOCTRILIHUM – Dy’th Requiem For The Serpent Telepath (CD 2021)

ESOCTRILIHUM (França)
“Dy’th Requiem for the Serpent Telepath” – CD 2021
I, Voidhanger Records – Importado
8,0/10

O Esoctrilihum é uma one-man Band da França criada e desenvolvida pelo francês de nome artístico “Asthâghul” e tem sido envolta em mistério e com escassez de informações a seu respeito. A formação da banda ocorreu em algum momento da segunda metade dos anos 2010, antes do lançamento do álbum de estreia em julho de 2017.

Todos os seis álbuns de estúdio até aqui saíram por intermédio do selo italiano I, Voidhanger Records, especializado em Death, Black e Doom Metal. Uma peculiaridade da banda é que todos os CDs são lançados, sem exceção, no formato A5, que evidencia os detalhes da arte da capa, e deixa o trabalho muito mais caprichado, com cara de embalagem de DVD, já que esta é a sua medida exata. Dois problemas: organizar esse tipo de embalagem de CDs na coleção e conseguir uma cópia, porque normalmente os italianos do selo disponibilizam apenas 500 cópias mundialmente.

O som criado pelo ESOCTRILIHUM pode ser categorizado como black/death Metal, de forma geral, muito técnico e com letras fundamentadas no ocultismo. Também inspiram o músico temas como a autodestruição, o desespero e a morte. Apesar da categorização simplificada, os álbuns percorrem um vasto espectro de sonoridades do Metal Extremo, com passagens mais doom, algumas extremamente atmosféricas, sinfônicas e até mesmo progressivas. Isso deve-se muito ao uso de elementos como teclados, piano e violinos em determinados pontos das obras. Outra característica marcante do artista é a sua alta produtividade. De 2017 em diante, já são seis álbuns, média superior a um por ano.

O atual trabalho acabou de ser lançado, no dia 21 de maio de 2021, sob o título “Dy’th Requiem for the Serpent Telepath”. Impossível não prestar atenção à parte gráfica. A linda arte da capa, uma pintura tão esquizofrênica e demoníaca quanto às das capas de discos anteriores, e com foco em várias tonalidades de azul. Trabalho magistral desenvolvido pela artista eslovaca Dhomth, que já foi comissionada por bandas como o CULT OF FIRE (República Tcheca), por exemplo.

Chama atenção o fato de o músico ter alterado significativamente a sonoridade da banda neste play, em relação à sobras prévias. O Black/Death mais bruto e até reto de outrora foi substituído por um metal extremo mais complexo, mais melódico, experimental, menos caótico e, portanto, mais difícil de ser encaixado nos subgêneros. Manteve-se a característica de serem sempre discos extensos, com duração que ultrapassa uma hora.

 Tal duração extensa explica-se, em boa parte, pelos interlúdios fundamentados nos teclados e piano, que normalmente dividem as músicas mais extremas e acabam servindo como uma espécie de respiro ao ouvinte. Outra explicação está no uso repetitivo de algumas das melodias, que tornam algumas das faixas um tanto quanto hipnóticas.

 A parte instrumental do álbum é impecável, com o próprio Ashtâghul encarregando-se de todas as partes. O som de bateria soa mais artificial que o normal, apontando para algo programado. O fato é que o som de bateria não atrapalha em nada nas composições, tudo funciona muito bem. Os vocais continuam seguindo uma linha mais Black, agressiva, porém sem lançar mão de agudos extremos, o que equilibra bem a experiência como ouvinte.

Talvez seja correto afirmar que a audição equivalha a uma viagem astral, ou a um pesadelo daqueles mais estranhos, onde muito pouco faz sentido, mas que, de certa forma, prende a atenção e compele o “viajante” a lembrar-se, e procurar entender o que se passou. Não é, de forma alguma, uma obra de simples assimilação. É o tipo de som que o ouvinte precisa ter calma e dedicar atenção absoluta, porque as músicas possuem diversas camadas e texturas, diferentes atmosferas e algumas mudanças abruptas de direção. Aos fãs de metal extremo mais dedicados e dispostos, a recompensa.

Referências fontes de inspiração para o músico certamente reúnem nomes como BLUT AUS NORD, THE RUINS OF BEVERAST, SEPTICFLESH (álbuns mais antigos), PORTAL, ENSLAVED, OPETH (fase Blackwater Park) e DEATHSPELL OMEGA. No campo da literatura, o artista já declarou ser ávido admirador de Howard Phillips  Lovecraft (Estados Unidos, 1890/1937), Clark Ashton Smith (Estados Unidos, 1893/1961) e Helena Blavatsky (Rússia, 1831/1891), autores que exploraram brilhantemente em suas obras uma variada gama de temas ocultistas, o terror e a morbidez. Enfim, um caldeirão cultural do mais alto gabarito.

 Fundamentalmente, recomenda-se aos leitores do portal The Old Coffin Spirit que tomem conhecimento do projeto ESOCTRILIHUM, principalmente àqueles dispostos a explorar uma forma heterogênea e diversa de se executar Metal Extremo. Certamente, o álbum fará parte da lista de melhores do ano de alguns entusiastas, incluindo a deste que vos apresenta a banda.

 A excentricidade do artista se faz presente, também, na nomenclatura das faixas, como pode-se observar pela tabela abaixo:

1 – “Ezkikur”

2 – “Salhn”

3 – “Tyurh”

4 – “BaahlDuthr”

5 – “Agakuh”

6 – “Eginbaal”

7 – “Dy’th”

8 – “Craânag”

9 – “ZháicDaemon”

10 – “NominèsHaàr”

11 – “Xuiot”

12 – “Hjh’at”

Tempo total de duração: 01:17:50

Destaques: Não é recomendável ouvir nenhuma faixa isoladamente. Como mencionado anteriormente, o formato da obra requer a audição por completo, sem interrupções, e com máxima atenção. Trabalho homogêneo e extremamente bem-produzido, porém, de complexa absorção.

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