CD/EP/LP

ENGULFED – Engulfed in Obscurity (CD 2021)

ENGULFED (Turquia)
“Engulfed in Obscurity” – CD Reissue 2021
My Dark Desires Records – Nacional
9/10

É uma satisfação enorme escrever sobre uma banda como o ENGULFED. Primeiro, porque a origem turca pode causar certa curiosidade no fã de Metal Extremo não familiar com o cenário daquele país. Depois, porque o som produzido e registrado por eles é de altíssimo nível.

Quanto à Turquia, vale mencionar que essa República de aproximadamente 80 milhões de habitantes é uma potência militar e econômica local, com imensa riqueza histórica e cultural, dividindo (e influenciando) Europa e Ásia. Apesar de quase 98% da população estimada , ser muçulmana, o país é laico e não possui uma religião oficial.

Fazem parte de sua antiga e gloriosa história alguns dos maiores impérios da humanidade, como o Bizantino e o Otomano. Pode-se dizer, atualmente, que há um pequeno grupo de bandas turcas de Death Metal que se sobressai, e merece definitivamente a sua atenção. São Elas: Burial Invocation, Engulfed, Diabolizer e Decaying Purity, além da excepcional Hyperdontia (Turquia / Dinamarca). Todas dividem membros, o que justifica a consistência e assegura a qualidade elevada dos lançamentos, apesar das pequenas diferenças de estilo em cada uma delas.

Dentro desse contexto e origem curiosa, surge em 2010 o ENGULFED, produzindo Death Metal extremamente tradicional, honesto, visceral, brutal e viciante. Características que são acompanhadas nas composições pela atmosfera soturna do Death / Doom que nos remete com prazer a bandas como Dead Congregation e Incantation, referências mundiais nessa linha de som. Seus quatro membros são Serkan (Vocais e Baixo), Aberrant (Bateria), Mustafa e Can Darbaz (Guitarras).

A My Dark Desires Records nos presenteou, em Maio de 2021, com o lançamento nacional do álbum “Engulfed in Obscurity” (2017), primeiro registro completo de estúdio da banda, juntamente com o ótimo EP “Through the Eternal Damnation” (2012). Issoem um único produto, em acrílico (Jewel Case), caprichado como já se tornou hábito do selo e distro capixaba. Destaca-se, de primeira, a bela arte da capa. Crédito a Nick Keller, artista da Nova Zelândia. As entidades sinistras pintadas em tons escuros combinam perfeitamente com o logo ameaçador (e legível!!) do ENGULFED, e oferecem uma boa noção do que está por vir ao se apertar o play, e curtir as nove faixas que somam os 48 minutos da obra.

Abre o disco a faixa “Escalation of Darkness”, uma instrumental densa e cheia de atmosfera. Cria ótima expectativa, e prepara bem o terreno para a destruição a seguir. Já com a segunda faixa, “The Halls of Grim Eternity”, a banda demonstra todo o seu poder de fogo e inspiração. Vocal perfeito para a proposta, riffs devastadores, cozinha excepcionalmente bem alinhada e entrosada. Trampo de bateria insano, baixo pesado e audível como deve ser, nada abafado, produção impecável. Essa música tem passagens Doom marcantes, e melodias que se encaixam bem demais aos riffs mais cortantes e brutais.

Uma das melhores do álbum, sem dúvidas daria um excepcional single. “Conqueror from Beyond The Outer Gates” é a terceira faixa, e segue com o mesmo sangue nos olhos da anterior. Não se engane pelo início mais atmosférico, onde também há forte pegada Doom, o som engrena uma quinta marcha em volta de 1:40 e descamba para um Death Metal oldschool de deixar orgulhoso qualquer fã das cenas antigas da Finlândia e Suécia, principalmente. Deixam ainda melhor o som as desacelerações que a banda promove, sempre carregadas de melodia e atmosfera pesada. Outra faixa espetacular pela diversidade e execução impecável.  

A quarta música divide o nome com o álbum, “Engulfed in Obscurity”, e traz alguns dos melhores riffs do álbum. As guitarras têm peso absurdo e brilham na produção, como deve ser. Como essa faixa é longa (7:28 minutos), a banda aproveita para, uma vez mais, diversificar e elaborar passagens ricas em variedades rítmicas. O melhor dessa alternância é ouvir um som como esse, e querer repetir a audição por muitas vezes, tamanha a qualidade. Chega a quinta música “Invocation of Death And Misery”, iniciando-se em mid tempo e criando uma aura altamente blasfema e soturna com um emaranhado de riffs, que lentamente a conduzem a um ritmo pouco mais acelerado, ora dando um passo atrás e insistindo no som mais atmosférico, até aproximadamente os 2:30 minutos.

É quando um dos riffs mais desgraçados do álbum dá as caras, e destrói tudo pela frente com variações inspiradíssimas até sua conclusão em pouco mais de cinco minutos e meio. Espetacular. “Demonic Manifest of Devastation” abre de forma mais direta, com guitarras à frente. A insanidade desacelera na metade da música, e essas partes mais lentas do Engulfed são de fato impactantes. Não só pela maldade quase palpável, mas porque trazem consigo novas ondas velozes de extremismo. “Inseminated With Demon Seed” é a sétima faixa, também mais longa (6:29) e cheia de variações rítmicas. Detalhe importante que contribui na apreciação da obra, o baterista que usa o pseudônimo Aberrant apresenta técnica apurada e domínio invejável do seu kit, e não abusa de blast beats para produzir o efeito caótico desejado. Essa é uma das músicas onde o trabalho dele mais se destaca.

Outra das músicas memoráveis do disco, “Mayhemic Flames of Doom” vem em seguida, e continua anunciando o apocalipse ao longo dos seus 7:16 minutos de duração. Mais riffs impressionantes e marcantes, uma avalanche deles. Uma das faixas mais intensas e menos melódicas. Ainda assim, cativante em todos os momentos. Os riffs que aceleram a música por volta dos 4:40 são monstruosos, e carregam o som até sua parte final mais melancólica, até que, como num último suspiro, retornam as hostilidades que não cessam até a conclusão da faixa.  

“The Blackened Skies” fecha a obra, é outro som instrumental e bastante atmosférico, com cara de terra arrasada, mundo pós apocalíptico. Encerra o álbum com eficácia e deixa uma sensação de ansiedade quanto ao que a banda apresentará em trabalhos futuros. Álbum memorável, de muita personalidade, variações incríveis e brilho intenso nas composições e execução.  Destaques: obra coesa, ainda assim a segunda faixa “The Halls of Grim Eternity” pode ser apontada como um dos destaques.

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