“Before We Vanish” é o mais recente álbum do projeto italiano de Depresssive Black/Blackgaze/Post-Metal, DREARINESS. O trabalho foi gravado, mixado e masterizado por Roberto Mascia — e lançado no dia 15 de abril pela My Kingdom Music (Ecnephias, Dvm Spiro, Obsolete Theory, Helfir).
O DREARINESS surgiu no ano 2012, tendo como núcleo os músicos/compositores Gris e Torpor. Em janeiro de 2013 o projeto debutou com o ótimo “My Mind Is Too Weak To Forget” (Nostalgia Productions). O registro de oito composições, a destacar: “Coming Home”, “Lost”, “One Last Wish” e a faixa título, já trazia as vocalizações poderosas e versáteis da vocalista Tenebra — sem dúvidas, um dos elementos mais importantes à sonoridade da banda. Sua entrega interpretativa e sua nudez emocional são realmente impares. Três anos mais tarde foi lançado o essencial “Fragments”. Ao meu gosto, o apogeu musical do DREARINESS. Atrevo-me a dizer que o mesmo é quase um “greatest hits”. Em 2020 foi a vez do autoproduzido, experimental e surpreendente EP “Closer”.
“Before We Vanish” entrega a mesma ecleticidade musical que já tradicional no ambiente criativo da banda. Tendo como base o Post-Metal e as adjacências do Black Metal — Post-Black, Blackgaze e Atmospheric. Contudo, há uma maior dose de ousadia, intensidade e meticulosidade. As músicas estão mais ricas e mais contundentes, e também, mais abertas a outros gêneros, no caso, o Shoegaze que vez ou outra surge de maneira tímida, mas natural e perceptível. O teor lirico também está melhor desenvolvido, não que antes já não fosse, mas aqui, temos um “além da superfície”. As faixas versam sobre traumas, angústias, relações conflituosas e maculas sentimentais. Essa abordagem foi baseada no Dilema Do Porco-espinho — metáfora criada pelo filósofo alemão Arthur Schopenhauer para ilustrar a problemática da convivência humana. Tais temas são atrelados a um instrumental intenso, perturbador e extremamente sombrio.
“Um homem que possui algum calor em si mesmo prefere permanecer afastado, assim ele não precisa ferir outras pessoas e também não é ferido.” (Arthur Schopenhauer — Parerga E Paralipomena).
Crescendo por entre ruídos e climas nada convidativos chega “Skin”, o primeiro corte do trabalho. A faixa é literalmente um turbilhão emocional, instrumental vigoroso, guitarras erguendo muros de distorção e Tenebra exorcizando demônios e memórias. Há pouquíssimos alívios, contudo, a opressão sonora é tamanha que eles não concretizam a menor diferença. “Drain” entrega mais melodias e com elas, divagações atmosféricas e vozes limpas. Quase uma paisagem musical não fosse pela explosão de desespero que a rompe ao meio. “A solidão é o preço da sobrevivência.” firma a última linha de “Rehash”. Não há como não concordar. E sim, a faixa é monumental!
O ciclo se fecha na trinca “Inhale”, “Excise” e “Exhale”. Todas marcadas pela densidade de suas letras, por camadas sonoras tumultuosas e por oscilações. Às vezes etéreas, e noutras, inundadas em melancolia, mas sempre transmitindo a sensação de que algo está próximo a explodir, de romper-se ou mesmo, apagar-se. Os vocais de Tenebra, quando limpos, soam como lamentos, desabafos, despedidas; e quando tomados por ira, soam como sentenças inevitáveis. “Inhale” segue a escola Harakiri For The Sky de letras tão sensíveis quanto íntimas/e desoladoras: “(…) A água não mata a sede, a comida não alimenta, o sono não descansa, o álcool não envenena, o diálogo não satisfaz (…)”. O desespero sobe gráficos a mais nas linhas derradeiras: “Deserto ao redor, miragens de novidades, sonhos, pessoas que quando você as toca desaparecem como neblina. E eu seria o fantasma? Eu sou o fantasma?”. As duas últimas selam o disco mantendo intactas as suas qualidades e o peso real de seu enredo. Sempre intercalando entre breves momentos de serenidade (fôlegos melódicos e ambientações) e violentas explosões de agonia.
“Before We Vanish” é brilhante porque se propõe a dissertar de maneira crua e honesta sobre temas cada vez mais atuais — florestas de concreto, solidões habitadas, cômodos preenchidos por fantasmas, lágrimas que se fundem, diferentes em motivo, mas iguais em intensidade. Além de música (de alta inspiração), temos aqui um disco humano que reverbera o que é a humanidade. A olho nu e em todos os ângulos. Isolamento, melancolia e desconexão não são saídas e sim refúgios. Uma obra de arte ao caos da vida — em letras, sons e atmosferas.
Links:
Facebook: https://pt-br.facebook.com/Dreariness
Instagram: https://www.instagram.com/dreariness_official/
Bandcamp: https://dreariness.bandcamp.com/music
Bandcamp (My Kingdom Music): https://mykingdommusic.bandcamp.com/album/before-we-vanish
Spotify: https://open.spotify.com/artist/6Pl6yl12Q5jqHJQDiWQG6y