Entrevistas

CÜLPADO – “Com influências musicais que vêm da velha escola do Thrash e Death Metal

Fomos bater um papo com Jefferson Verdani baterista e agora multiinstrumentista e diga – se de passagem de mão cheia. Músico já gabaritado e que faz parte da formação de outras bandas já respeitadas e com nome na cena curitibana e nacional.

Saudações meu nobre amigo Jefferson ! Ficamos muito felizes por recebê-lo, aqui no The Old Coffin Spirit zine/Portal e saber um pouco mais desse seu projeto. Para começarmos de onde veio a ideia e a necessidade de você criar esse projeto e por que um projeto e não uma banda normal ?

Jefferson Verdani: Saudações meu amigo Walter e a todos leitores do The Old Coffin Spirit ! Muito obrigado pelo espaço para contar um pouco sobre o Cülpado. Bom, eu sempre peguei a guitarra ou violão pra tentar compor alguma coisa para as bandas que participo, mesmo sem “necessidade” considerando que todas bandas possuem ótimos guitarristas, compositores, enfim. Num âmbito pessoal nunca me limitei somente à bateria. E desses riffs criados, muitos deles não se encaixam nestas bandas, de repente percebi que estava compondo uma linha muito específica, que poderia se tornar um outro projeto. É triste perder riffs haha! Então decidi gravar uma música, ainda não existia nome, letras, nada! O nome Cülpado e sobre o que tentaria escrever vieram depois que já tinha algumas músicas, vieram em conjunto num “estalo”, eu estava lendo sobre crimes no Brasil e assim fechei a ideia. E respondendo a segunda parte da pergunta, não era pra ser um projeto. Eu convidei um guitarrista imaginado que eu não teria capacidade de gravar, e ele foi o maior incentivador ao ver eu passando as músicas, ligou seus equipamentos e disse que eu deveria gravar, e assim aconteceu. Com isso considerei gravar também os baixos. Já o vocal, eu convidei um vocalista de Santa Catarina que gosto muito, não vou citar pois infelizmente não deu certo, seria praticamente impossível gravar a distância dentro das nossas condições. Eu não tinha outra opção e não consegui pensar em mais ninguém. Então, no final das gravações de baixo, resolvi arriscar os berros e confesso que fiquei surpreso, achei que não daria certo também, mas deu. E agora estou com a missão de formar uma banda para shows, considerando que assumirei a voz e um instrumento, só sei que não será bateria.

Aproveitando a sua citação “é triste perder um riff” O que é melhor na criação de uma música ; um bom riiff ou um bom solo trabalhado.?

Jefferson Verdani: Como diz Antonio Rolldão “riffs são leis” hehe. Eu também acho muito legal ter solos bem trabalhados, isso certamente se evidencia nas 5 músicas que foram colocados solos dos convidados.

Pois é, hoje nós temos bastante acesso há vários tipos de documentários fugindo daquele esquema de tempos atrás que tínhamos que aceitar tudo que as programações das televisões nos empurravam goela abaixo. O YouTube está aí para nós usufruirmos a qualquer hora do dia ou da noite músicas, cinema, e documentários. Também sou viciado nesses documentários de serial killers. Você procura falar mais sobre os seriais killers brasileiros né ? Você poderia dar mais detalhes das letras ? É um álbum conceitual? E o nome da banda já vem da temática que você escolheu escrever ?

Jefferson Verdani: Sem dúvida hoje temos mais liberdade. Mas alguns crimes ficaram na minha cabeça de programas como “Linha Direta”, mas era um programa mais superficial e até sensacionalista, hoje os inúmeros documentários disponíveis dão muito mais detalhes. O nome Cülpado veio sim em conjunto com a ideia das letras, e mesmo que para um próximo trabalho não siga exatamente a mesma ideia, ele serve muito bem. Sobre as letras, vamos lá… A maioria eu não utilizei o nome em que os crimes ficaram conhecidos na mídia, primeiro para que com a letra, o ouvinte possa tentar identificar e ir atrás de conhecer a história com mais detalhes, e também porque muitos crimes possuem características muito parecidas. Às vezes, em uma música podemos encontrar duas histórias ou mais. Citando alguns exemplos: “Mato por Prazer” foi a primeira que escrevi, inspirada na história de “Pedrinho Matador”, portanto é bem específica. Já a letra de “Maníaco Maldito” foi inspirada inicialmente no que foi conhecido como “Maníaco do Trianon”, mas existiram outros casos com as mesmas características e motivações, até bem recente e aqui em Curitiba. “Picadinho” está fácil saber de qual é… Canibais de Garanhuns achei interessante manter o nome midiático, foi um caso muito falado, e voltou as notícias recentes devido ao julgamento. Cortejo Fúnebre é um “parênteses” no álbum, ela não conta nenhum crime, mas é baseada em um conto escrito por um desses assassinos das músicas. Sim! Um dos assassinos era escritor, músico e roteirista de filmes. A letra de “Loucura a Dois” foi uma colaboração do meu amigo Daniel Franco (SadTheory). “Loucura a Dois” é uma síndrome psiquiátrica, esta síndrome está presente nos casos que inspiram a letra: os atiradores nos colégios de Suzano (SP) e Columbine (EUA). “Pipoca, Sangue e Pólvora” foi inspirada no caso de Mateus da Costa Meira, que realizou um massacre no Morumbi Shopping (São Paulo) em 1999. Este caso resume claramente um típico ser que rompeu com a realidade.

Você já faz parte das bandas Axecuter, Murdeath,Jailor e Sad Theory. Quais dela é sua banda principal ? Em todas elas você participa ativamente das composições ?

Jefferson Verdani: De fato não existe uma principal, cada uma tem um ritmo, dificilmente todas estão trabalhando no mesmo momento e com a mesma frequência, objetivos diferentes também. Mas se for colocar uma ordem por “atribuições/funções”, seria: Axecuter, SadTheory, Jailor e Murdeath. A única banda que não participo ativamente das composições é a Murdeath.

Tocando em todas essas bandas e ainda montou esse novo projeto, como você concilia bandas e sua vida pessoal ?

Jefferson Verdani: Pra mim, tudo isso faz parte da vida pessoal… Desde os 17 anos nessas correrias, então meio que acostuma. Considerando também a questão do ritmo que citei anteriormente. E estou sempre avaliando pra não atrasar ninguém e respeitando as “fases” que a gente passa, pois ainda assim todos tem seus trabalhos e outras obrigações.

A próxima pergunta seria se o Cülpado é só um projeto de estúdio e você já respondeu que está procurando músicos para tocar ao vivo. Fico feliz que você tenha esse desejo. Porque um trabalho como esse tem que ser apresentado ao vivo e ver os insanos Metalheads prestigiando e batendo cabeça na frente do palco. Mas serão músicos contratados ou você quer realmente sair de um projeto e formar a sua “própria banda” ?

Jefferson Verdani: Tudo isso tem que amadurecer ainda. Ter boas pessoas pra contar seja para o que for, não é muito fácil. O momento é divulgar o trabalho.

Cülpado já existia desde 2020(mas eu não sabia ! kkk) e para mim foi uma surpresa quando tu postaste nas redes sociais esse teu projeto agora em 2021 e já divulgando dois singles “Loucura A Dois e Canibais De Garanhunus” no YouTube. Nestas horas que eu acho importante as mídias digitais, né ? As respostas são rápidas através do público. Como foi que o público reagiu a essas duas músicas e como fecharam a parceria com Antonio Rolldão da Kill Again Records ?

Jefferson Verdani: Foi em outubro de 2020 que fiz as primeiras divulgações assim que planejei o primeiro Single para janeiro de 2021. As mídias digitais auxiliaram para “medir” o que poderia ser feito, mesmo que eu já tivesse bem claro os ideais. A resposta foi legal, apostei nos lyric vídeo com as boas fotos tiradas pelo Mateus Cantaleäno. Estes singles funcionam praticamente como uma demo. Eu já havia falado com o Antonio Rolldão assim que lançado o primeiro single, ele incentivou dizendo que com esse som conseguiria boas parcerias para lançar. Meses depois, com o trabalho de fato concluído, fechamos a parceria.

Rolldão já é conhecido pelo seu trabalho com o selo e sua batalha no Underground que já vem desde os anos 80 e o cara tem faro para descobrir e revelar ótimas bandas do Underground nacional. Você está contente com essa parceria e o que espera dela ?

Jefferson Verdani: Estou extremamente contente! Temos vários bons selos no Brasil, mas é uma honra gigante ter esse trabalho em parceria com a Kill Again por todos estes motivos que você citou. E com tantas dificuldades que enfrentamos em nosso país, com a música, com o custo de vida e tudo mais, ter este apoio é bom sinal e ajuda muito. 100% sozinho as coisas ficariam ainda mais difíceis. Além disso, o Rolldão é um cara sensacional, e que ensina muito.

Walter: Realmente o Rolldão é um grande cara e tem um coração acolhedor ! É um cara que sempre apoiou e apoia a cena e tem muita a nos ensinar com sua experiência dentro do Underground. Abraço Roldão !

É óbvio que eu ainda não ouvi o álbum todo e confesso que estou ansioso para ouví-lo. Mas o que eu escutei nos Singles já citados aqui no YouTube, o som do Cülpado é um Thrash/Death Metal, naquela pegada do início dos anos 90. Como você descreveria o som do Cülpado e quais as influências que você citaria para gravar “Romper Da Realidade “?

Jefferson Verdani: Como citei com você em outra conversa, mesmo com as influências eu busco originalidade. Citar algumas pode ser que não se encontre semelhanças em tudo, mas vou citar Monstrosity, Desaster e até Sarcófago (The Laws of Scourge). Mas nunca tentei “interpretar” a fórmula de uma dessas bandas.

Na prévia lançado pelo selo Kill Again No YouTube o play abre com a faixa que leva o nome desse macabro e matador trabalho. A faixa Romper Da Realidade é instrumental. Porque abrir o trabalho com uma faixa instrumental ?

Jefferson Verdani: Essa faixa seria uma das últimas, mas mudei por questão “estética” e da audição mesmo, ficou com cara de abertura e encaixa bem a sequência com a faixa 2 “Mato por Prazer”.

Você gravou o “Romper…” no Estúdio O Beco e com o produtor Ivan Pellicciotti (Vulcano) porque escolheu ele e como foi o trabalho de produção ? Está contente com os resultados finais ?

Jefferson Verdani: Ja havia trabalhado com o Ivan em gravações anteriores, principalmente o último full do Axecuter (Surrounded By Decay). Se tornou um amigo que é um ótimo profissional e tranquilo de trabalhar! Lembrando que as primeiras guitarras foram gravadas com aquele meu amigo incentivador do início (Patrick Reiser), em seu Home Studio, em seguida fui para o estúdio O Beco onde fiz, além da bateria, os baixos, vozes, dobras de guitarra e toda mixagem e masterização.

O Romper Da Realidade” é composto de oito faixas próprias e com letras todas em português. Eu acho perfeito ver bandas escrevendo na nossa língua. Porque optou por cantar na nossa língua ? Outra coisa que eu achei legal é que você foge daquele lance da maioria das bandas nacionais de Thrash ou Death Metal que canta em português e a maioria delas tentam cantar como Carlos “Vândalo” Lopes.(Dorsal Atlântica) Não é uma crítica. Longe disso. Mas é um fato. Eu acho que influências são necessárias.Mas como influências e procurando criar uma identidade própria. Mas enfim, como você se vê em cima do palco e não atrás do kit de bateria e assumindo os vocais e quem sabe uma guitarra ou um baix? Você procurou se espelhar/influênciar em algum outro vocalista ?

Jefferson Verdani: Letra seria a minha maior dificuldade, confesso que eu nunca contribui com letras nas outras bandas que participo. Mas teria que ser em português, eu gosto muito e me sinto mais confortável.Concordo com você! Também gosto muito de Dorsal Atlântica. Mas não seria meu caso “copiar” o estilo. Também longe de ser crítica, curto muito a maioria das bandas nacionais que cantam em nossa língua. Será um desafio interessante, estou trabalhando nisso kk. Nas gravações eu simplesmente cantei como as imaginei desde que escrevi. Algum vocal que pode me influenciar, mesmo sem tocar um instrumento seria algo como Desaster, Nocturnall…

Você convidou outros músicos para participar do disco né. Como rolou o convite para o Luiz Carlos Louzada (Vulcano),Ivi Kardec (Podridão) e seu parceiro de banda Daniel Damneted (Axecuter) ? E você gostou das partes que eles gravaram ?

Jefferson Verdani: Todos que participaram mandaram bem demais, agregaram muito ao trampo! E mesmo com seus outros trampos, aceitaram imediatamente e logo estava pronto!

Agora tenho que parabenizá – lo, pela capa. Ficou uma arte bem insana e tem tudo haver com o nome do disco e com a temática das letras. Você criou á arte ou deixou o artista Ícaro Alencar Freitas livre para criar todo o conceito ? E gostou do trabalho final ?

Jefferson Verdani: Eu dei a ideia, os “personagens” que deveriam estar na capa e o resto foi com ele. Fazer dentro do seu estilo. E mandou muito bem, ajustamos as cores dentro da temática e este é o resultado.

E você tocando em várias bandas e sempre viajando com as bandas pelo Brasil, como foi adaptar- se, esses quase dois anos trancado em casa sem tocar pela pandemia ?

Jefferson Verdani: Realmente os últimos anos antes da pandemia foram intensos! Foi um descanso forçado, e de pensar em outras formas de manter o envolvimento.

E como anda a cena curitibana ? Alguma banda que te chamou atenção nesses tempos de pandemia e que você pode indicar aos nossos leitores ? E o que você anda escutando fora da cena curitibana, a nível nacional e mundial que tenha chamado a sua atenção ?

Jefferson Verdani: De Curitiba de cara indico a banda de Death Metal “DeathChaos”, eles vem lançando muitos materiais fodas, vale a pena conhecer! Além da banda de Hard/Heavy Creatures, lançou um primeiro álbum acima da média. A nível nacional, pra citar poucos….. Sanguinário, Evilcult, Podridão, Goaten, Hellwaytrain, Aphotic Spectre, Cerberus Attack… E mundial o novo disco do Nocturnall simplesmente mata a pau!

Quais os planos futuros para o Cülpado.?

Jefferson Verdani: Eu tenho vontades, planos ainda estão sendo traçados. Gostaria de fazer uma boa estreia ao vivo inicialmente… É necessário ver a situação de pandemia em 2022, difícil afirmar que está tudo acabado.

Agora um pouco de humor negro. Quem você condenaria como “Cülpado” neste país ? Pode ser uma figura política, celebridade ou mesmo um jogador de futebol ou te músicos.

Jefferson Verdani – Olha, é possível dizer sim que o que chamam de líder da nossa nação (líder este que NÃO me representa) ROMPEU COM A REALIDADE, ele claramente parece viver em outro mundo, com zero empatia.

Walter Bacckus – Concordo com você Jeff ! Esse lunático tem que ser culpado por mais de 600 mil mortes ceifadas prematuramente na pandemia do covid e fora outros crimes que são muitos. Ele também “não me representa” !

Jefferson queria agradecer pela sua participação aqui no The Old Conffin Spirit. O espaço é seu. Abraço & Força Sempre !!

Jefferson Verdani: Eu que agradeço mais uma vez, todo apoio é válido pra alimentar esse ânimo em tempos cada vez mais difíceis pra todos nós. Todo sucesso e força a vocês também e até breve!!!

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