É realmente gratificante perceber como os ingleses do CONSECRATION evoluíram sem abandonar sua essência ou mesmo suavizá-la. Mais gratificante ainda, é notar que seu Death/Doom Metal ganha mais suculência e definição a cada novo registro. A banda vem calmamente refinando sua assinatura musical ao longo dos anos, a fortalecendo e a tornando cada vez mais discernível das demais. Basta ouvir a crueza e o peso do EP de estreia “Gut The Priest” (2010); o expressivo “Ephemerality” (2014) e o sinistro e avassalador “Fragilium” (2019). Todos esses pontuados por mudanças significativas e discursos sonoros firmes.
“Cinis”(“cinzas” em Latim), é seu terceiro álbum completo e o primeiro pela poderosa Redefining Darkness Records. As versões incluem o já comum digital, CD e Vinil. Convenhamos, essa arte doentia, exalando Old School — criação do vocalista Daniel Bollans, merece e muito uma edição no velho e clássico formato.
O Death/Doom segue firme nas veias da banda, inalterado e fiel à velha escola. Nada de experimentos ou aventuras — o fogo já foi há muito descoberto, assim como a roda e pólvora. Reinvenções são interessantes e aceitáveis (necessárias, às vezes), mas apenas quando feitas com conhecimento de causa, do contrário, o resultado são engôdos, catástrofes e “gourmetizações” descabidas. Pontos extras ao CONSECRATION por manter-se rígido em sua proposta. Contudo, seu novo material não se limita a beber das velhas fontes do gênero, a orientação traçada pelos riffs é clara e objetiva, o corpo das músicas é volumoso e seus progressos variam entre velocidades ascendentes, proximidades ao Funeral Doom e trechos puramente voltados ao Metal Da Morte.
“The Dweller In The Tumulus” configura uma abertura perfeita para o trabalho. Crescendo em guitarras esmagadoras, vocais doentios e bateria bem trabalhada. “Ground To Ashes (A Cremulation)” explora mais dinâmicas e velocidades. Altamente poderosa, a mesma ainda conta com os vocais inconfundíveis de Dave Ingram (Benediction, ex-Bolt Thrower). Precisa dizer mais alguma coisa? “Embrace Of Perpetual Mourning” é uma marcha lenta ao abismo e com certeza fará inveja a muita banda metida a ser Death/Doom Metal por aí. Entendam, apenas peso, nostalgia e produções comprimidas não bastam. Precisa ter sentimentos e saber como utilizá-los para criar a ambientações propicias. Do contrário, voltem aos livros e discos, leiam, ouçam, aprendam e façam direito! Uma pausa em “A Dying Wish” e tome mais doses de desolação em “These Fleeting Memories”. “The Charnel House” é mais orientada ao Death Metal — violenta e esmagadora.
A descida ao abismo chega ao fim com “A Sentient Haunting”, “Unto The Earth Bethralled” e “In Loving Abandonment”. Todas imponentes demonstrações da força descomunal do CONSECRATION e também de sua criatividade. A última citada é um poslúdio belíssimo.
“Cinis” oferece uma magnífica coleção de composições fortes, maduras e coesas. Todas elas com riffs colossais, melodias e solos de muito bom gosto. O baixo de Shane Amies e a bateria de Jorge Figueiredo atuam com definição e propriedade — os vocais de Daniel Bollans estão mais profundos e aterradores que nunca, aliás, todo seu plano de ação e magistral. Um misto de terror, loucura e melancolia. A produção de Raoul Crane junto a masterização de Greg Chandler apenas completam essa monstruosidade. Um álbum acima de qualquer crítica. Solene, esmagador e triunfal. Em suma, impressionante!
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