Formado pelos gregos Savvas Malliaros (letras, vocais, guitarras, baixo, teclados/sintetizadores e samples) e Vasileios Chalas (bateria), o CENOZOA lançou no último dia 30 o seu primeiro álbum completo, intitulado “Poems From The Sea”. O trabalho concebido de forma independente, sucede os instigantes EPs — “Saturn” e “Estatic” — ambos concebidos em 2021.
A sonoridade praticada pela dupla engloba o Post-Metal, o Post-Rock e a Música Atmosférica/Experimental, mas não apenas, pois a mesma ainda se expande para outros territórios musicais e se liga a diversos elementos típicos de Doom, Black Metal e até Rock Progressivo (nuances e texturas que despontam vez ou outra nas composições). Ao tecido das influências surgem nomes como Cult Of Luna, Isis, The Ocean, Latitudes e Swallow The Sun — todavia, o projeto entrega bem mais que o DNA de bandas já consagradas.
“Poems From The Sea” exibe uma produção caseira, mas extremamente minuciosa e polida. As composições, sete ao todo, rompem-se aos mais diversos humores — sempre variando entre momentos mais agressivos e outros dominados pela serenidade. Três bons exemplos desse transitar de temperamentos são apresentados logo no início do álbum, na curta e contemplativa “Deep Below The Waves”; na envolvente “Looming Night” e na cinematográfica “Frantic Dream”. A primeira se destaca por seus arranjos delicados, por sua estrutura simples e pelas vocalizações evocativas; a segunda, por sua vez, se vale de sobreposições ruidosas, camadas instrumentais e por uma riqueza de detalhes ímpar. A terceira é praticamente um mundo dentro de um mundo — visceral, robusta e com fisionomias que remetem ao mestre irlandês Primordial. Composição fora da curva. Realmente.
O restante do trabalho navega sobre corais sonoros — avançando em seu próprio tempo por entre calmarias, tormentas e por labirintos de sons e efeitos pouco usuais, vide a instrumental “Call Of The Depths” e sua sucessora, “Stiff Blue”. Essa última apresenta toda a sensibilidade do projeto ao tecer panoramas musicais tão harmoniosos quanto distintos, valendo-se da paleta de possibilidades do Post-Rock e das entregas emocionais de amorfos como Katatonia e Anathema. A suíte “The Sea Is Me” cresce em diferentes atmosferas e vai, calmamente, dilatando-se em melodias melancólicas e peso metódico. Sua beleza é tão hipnótica que seus mais de 10 minutos simplesmente voam — ou melhor, velejam. “Beams In The Dark” resgata as sutilezas ouvidas no princípio, em “Deep Below The Waves”, porém, ainda mais simples. Sons marítimos, pianos entristecidos e a voz Savvas Malliaros numa performance intima e encantadora, no melhor estilo Patrick Walker em seus momentos mais introspectivos no 40 Watt Sun. Sublime.
Amparado num conceito marítimo — não linear, mas repleto de significados, “Poems From The Sea” vai muito além de ser uma coleção de boas ideias ou mero souvenir nostálgico devido as tantas direções que toma ou pelas diversas influências que possui. Ele desabrocha em encantos próprios, em alquimias musicais enigmáticas e numa narrativa que se assemelha a vida — não muito diferente do mar, composta por diversas intempéries, vertigens e adaptações. Essa jornada ao desconhecido, onde ao fim, restam apenas aprendizados, memórias e sequelas. No fim das contas, somos todos pequenos navios de Teseu.
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