Uma das minhas maiores (e positivas) surpresas do ano de 2021 foi poder conhecer e dissertar sobre a música do BLACK REUSS (criação solitária do vocalista/multi-instrumentista Maurizio Dottores e estabelecida na longínqua Liechtenstein). Na ocasião pude ouvir e me aprofundar no primeiro fruto de suas investidas sonoras, o fantástico álbum “Metamorphosis”.
O supracitado registro fornecia uma brilhante galeria de composições muito acima da média, virtuosas tanto pelos diversos sentimentos que transmitiam quanto na expansiva paleta de sonoridades na qual se baseava. Do Heavy ao Industrial — do Gothic ao Doom Metal — do Dark Rock ao Post-Punk e por aí vai. Em suma, um trabalho requintado, experimental até certo ponto e rico.
No início de maio o projeto lançou “Journey”, seu segundo capítulo discográfico e nova etapa em sua jornada aos confins das emoções e das vibrações musicais. Tal lançamento somado ao trabalho passado, “Metamorphosis”, formarão uma quadrilogia, cujos próximos passos serão “Arrival” e “Death”. Compreendendo cada um desses como estágios (e vivências) que formam a narrativa particular do BLACK REUSS.
“Journey” aborda a necessidade de libertar-se — sobre romper os casulos da vida pré-programada e não mais render-se às rédeas — sejam elas materiais ou emocionais. Assim sendo, há toda uma degustação de momentos que vão desde felicidade até a paz interior, claro que existirão sempre obstáculos (ad infinitum) e é justamente esse o “Fio De Ariadne” do álbum, o progredir, o regredir e o continuar, mesmo após tombos e derrotas.
“Cair se torna mais fácil e já não dói da mesma forma”. Praticamente uma linha “Bukowskiana”, não é mesmo?
Diferente do lançamento anterior, o novo porta “apenas” 11 composições, muitíssimo bem escritas e produzidas — e entregando diferentes níveis de intensidade. Com investidas diferentes tal qual o anterior, mas preservando sua beleza, seus arranjos suntuosos e sua personalidade camaleônica. O repertório ora investe em temas enérgicos, de peso ruidoso e feições intensas, ora avança por malhas arrastadas, taciturnas perfumadamente melancólicas. Esses relevos sonoros apresentados no decorrer da audição são diretamente ligados as fases pelas quais o protagonista passa.
Destaques? Bem, o disco como um todo é uma extraordinária e inigualável experiencia e como tal deve (ou ao menos deveria) ser degustada plenamente. Esse “fast food musical” (ouve-se rápido, esquece-se mais rápido ainda), que a modernidade criou é realmente um câncer, ao meu entendimento, ouvir música sempre foi um ritual — dos discos, minha bíblia, do aparelho de som, meu altar, do meu quarto, um templo. Contudo, cito as incríveis: “Exodus”, “Dejection”, “Deep-Seated”, “Hole” e “Dependence”; sem esquecer das épicas: “Regression”, “Affection” e “Redemption”.
Mais um trabalho estupendo do BLACK REUSS! Mal posso esperar pelos próximos capítulos. Obrigado Maurizio Dottores pela excelente música e por todas as emoções depositadas nas mesmas; e obrigado ao The Old Coffin Spirit Zine por esse presente. Quer me deixar feliz? Me dê doces, boa cerveja e boa música. (Risos). Agora darei o play novamente e vamos a mais uma missa particular — sem deuses, sem dogmas e sem fé, mas em companhia melhor, tenho a noite e tenho “Journey”.
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