Tive o prazer de conversar esse ano com o guitarrista irlandês “Bones”, quando o entrevistei sobre o grande DREAD SOVEREIGN. Além do ótimo papo regado a cervejas (mesmo que afastados pelo oceano atlântico) ele acabou indicando uma série de novas bandas de metal extremo que ele curte, para conferirmos.
Uma dessas foi o BEYOND MAN, quarteto de Trondheim, Noruega, que nem é tão novo assim, mas que lançou o seu primeiro álbum de estúdio, homônimo, em junho desse ano.
O trabalho gira em torno de trinta e três minutos, passa muito rápido, mas deixa marcas no ouvinte. Os integrantes são caras experientes, membros atuais ou com passagens por bandas como SALIGIA, ONE TAIL, ONE HEAD, WHOREDOM RIFE, MARE, CELESTIAL BLOODSHED, BEHEXEN, FIDES INVERSA e DØDSENGEL.
A sonoridade do BEYOND MAN é difícil de encaixar em uma definição simplificada. A base de tudo é um Black Death vigoroso, com o lado Black tendendo às vertentes mais ritualísticas e enraizadas no oculto. Os elementos que a banda absorveu e canalizou vão do Thrash ao Doom, passando pelo Crust Punk, fazendo com que se tenha um verdadeiro caldeirão de metal extremo, de ótima liga.
A Intro de sintetizadores pesados transmite uma ideia de horror, com forte clima de suspense e aroma de enxofre, sendo abruptamente interrompida pela destruição e caos de “Helel Ben Sahar”, onde a banda explora o Black / Death / Thrash com maestria, liderada pela percussão fenomenal do batera “S.” e os vocais de entonações diversas de “W.”. O título e letras desse som fazem menção a Lúcifer, a Estrela da Manhã, com nome bíblico em hebraico.
“Art Beyond Man” inicia como uma peça grotesca e maléfica de Black Doom, que se converte em um hino ritualístico de melodias sombrias. As guitarras são tóxicas, instilando riffs maliciosos, ouvem-se vocais dobrados ou em coro muito bem postados, que geram calafrios. A atmosfera dessa música é simplesmente foda, intimidadora e convincente.
“World Without End” tem pegada beligerante, batida seca com cara e alma Crust Punk e guitarras viciantes. O ritmo ganha aceleração, com alguns blasts excepcionais e vocais odiosos, e estabiliza-se como um som extremamente agressivo e demente.
“Ave Usera” se inicia com teclados enigmáticos. Bateria, baixo e guitarras pegam carona nesse clima de suspense, e prolongam um andamento tipicamente Doom, quebrado de súbito por um riff maligno, o qual transporta a música imediatamente de volta aos portões do inferno. Black Metal excepcional, com direito a outra aula do batera.
“The World Encircler” é lenta inicialmente, soa ameaçadora com os vocais mais potentes e extremos do álbum.Descamba para a violência sob velocidade e peso absurdos, mas renuncia ao ritmo mais acelerado em sua reta final, privilegiando a atmosfera e ganhando ares macabros, remetendo a rituais profanos, com vozes em coro que parecem invocar, ou adorar as entidades mencionadas em sua letra.
Excelente disco de estreia dos noruegueses. Quem curte o tipo de som das bandas relacionadas aos membros do BEYOND MAN, e especialmente a linha de Black Metal mais ritualístico, deverá apreciar muito o material. Preciso agradecer ao “Bones” pela dica!
O disco é composto por apenas seis faixas, abaixo relacionadas. Duração total 33:09 minutos:
1 – “Intro”
2 – “Helel Ben Sahar”
3 – “Art Beyond Man”
4 – “World Without End”
5 – “Ave Usera”
6 – “The World Encircler”