Entrevistas

ATROPINA -Quase 3 décadas de metal extremo diretamente das terras gaúchas

Banda gaúcha da cidade de Teutônia (RS) está há 27 anos na luta no submundo e lançando materiais sempre matadores !  Suas letras  sempre atacando e mostrando a podridão, e a hipocrisia do cristianismo. Fomos conversar com  Murillo “Ogro” Rocha sobre o último disco lançado em 2021 e a turnê  no velho continente em 2023.

Saudações Murillo “Ogro” Rocha ! Seja  bem vindo ao The Old Coffin Spirit Zine & Portal. Faz tempo que estou me organizando para falar com vocês e finalmente aconteceu. Para iniciarmos, gostaria que você falasse  um pouco mais da primeira fase da banda.  A banda veio ao mundo em 1996 e lançou alguns materiais, por exemplo : …in Perpetual Tempest Occult / Louvar a Tudo por Nada” de  1998. (Split com os gaúchos do Bestial.) Mesmo você não fazendo parte da banda nessa fase. O que você pode nos dizer sobre ela ? No mesmo ano lançaram também a Demo Tape “Louvar a Tudo por Nada”. Que na verdade são as mesmas faixas do split, certo ?  Como foi a aceitação desses trabalhos no submundo da época ?

Murilo Rocha:  E aí Walter, um prazer estar aqui trocando essa ideia contigo. É isso mesmo, a banda começou em 1996, e eu posso falar um pouquinho porque eu estive nesse embrião da banda quando ela se formou, fui o primeiro baixista da banda, nos primeiros ensaios, mas não vinguei, acabei desistindo logo no início, antes mesmo de começarmos a fazer shows. Desse modo, o baixista que entrou no meu lugar, o Augusto, acabou se tornando oficialmente o primeiro baixista da banda. Em 98 eles lançaram o Louvar a Tudo por Nada em duas versões mesmo, uma demo-tape, e o split com a Bestial. E foi a partir daí que as coisas começaram a acontecer na banda, a partir daí que os shows começaram a surgir, os contatos com selos e outras bandas.

No início do novo século vocês lançaram o full length “Santos de Porcelana” (2001). Inclusive esse trabalho foi lançado em Portugal. Como vocês chegaram até o selo lusitano “Hallucination” e vocês gostaram do trabalho deles com a banda no velho continente ?

Murilo Rocha:  Começamos a trocar cartas com o Hallucination de Portugal e ele gostou do nossa DT Louvar a Tudo por Nada e acabou lançando junto com a DT da banda Bestial de Porto Alegre. Dois anos depois lançamos o Santos de Porcelana e ele fez esse lançamento em Portugal. Enviamos parte dos encartes e as cópias foram feitas por eles mesmos. Não sabemos muito bem como foi a repercussão pois na época era difícil ter contato do público de lá, já que a única forma de se comunicar era por carta e mesmo assim se tornava caro.

E como foi a repercussão do nome Atropina na terra de Fernando Pessoa, pelos irmãos metalheads e mídia especializada ?  Naquela época, rolou alguma possibilidade de vocês fazerem uma tur pelo velho continente ?

Murilo Rocha:  Da mesma forma nunca surgiu um convite para tocarmos lá, pois era algo praticamente impossível para a época, tanto em termos financeiros quanto em conseguir contatos.

Eu preciso comentar que eu achei bem estranha a capa da demo “Louvar a Tudo por Nada”. O logo na demo também é estranho. E no full length “Santos de Porcelana” já melhorou um pouco (…)  Quem criou as artes e o que vocês acham delas hoje em dia ?

Murilo Rocha:  Nessa época todas as artes da banda eram de autoria do Leônidas Rubenich, nosso vocal e guitarrista da época. Mas temos que ver aquelas artes com os olhos da época, há 25 anos atrás pra uma banda de guris do interior, aquilo era sensacional, hoje está datado, mas acredito que tem o seu valor histórico, até porque olhando hoje, isso conta a história do “do it yourself”, do “faça você mesmo”, que era a nossa realidade na época.

Com Santos de Porcelana o Atropina encerra a primeira fase de sua história. Alex Alves, guitarrista e vocal, que  está desde o início na banda, o que você pode nos dizer sobre essa primeira fase ? Está contente com tudo que rolou nessa época ou mudaria algo nela ?

Murilo Rocha:  Santos de Porcelana é o nosso álbum mais trabalhado e brutal, após esse álbum passamos a fazer músicas digamos que mais simples e diretas. Eu gosto bastante do Santos de Porcelana, porém o que eu mudaria seria apenas a qualidade da gravação. Creio que esse álbum merecia uma mixagem e masterização melhor. No entanto na época era o que podíamos fazer. O lançamento desse álbum foi algo inesquecível… Tocamos em Caxias do Sul junto com a Predator. Nesse dia deu mais de 500 pessoas e vendemos mais de 100 cds, algo praticamente impossível de acontecer para uma banda underground nos dias de hoje.

Em 2004, vocês resolveram parar e iniciaram  um novo projeto chamado “Legis Edax”.  Logo em seguida lançando um trabalho que saiu  somente digital. “Hideous Manipulation”. Porque resolveram montar uma outra banda,  e como foi a divulgação, e como os metalheads aceitaram esse novo trabalho  ?

Murilo Rocha:  Desde 96, no início da banda até 2004, o nosso som mudou muito, começamos tocando um hardcore/thrash, passamos pra um thrash/death no lançamento da demo-tape, até chegar no death metal do Santos de Porcelana em 2001, e as músicas novas que vieram depois do Santos estavam mais puxadas pra um Brutal Death, aliado a isso, metade da banda tinha mudado da formação original, eu entrei no baixo em 2001, e o Mateus estava assumindo as baquetas em 2004. Foi daí que pensamos em reformular a banda como um todo, e a Atropina se transformou em Legis Edax. Inclusive deixamos de cantar em português e assumimos o inglês nas letras da Legis Edax. A aceitação da Legis foi muito boa, mas ao mesmo tempo, essa aceitação era muito atrelada a aceitação que a Atropina tinha adquirido com o tempo, e infelizmente as gravações desse projeto só ficaram prontas junto com o término da banda em 2008.

Vocês contabilizam Hideous Manipulation na discografia da Atropina ou não ? Porque pesquisei sobre a banda e no metal – arquive não consta nada. Porém, no Spotify já tem esse trabalho na página da banda. E obrigado por compartilhar, assim, nós temos acesso a esse trabalho.  Essa banda é mais  voltada  ao brutal death metal e as letras são em inglês. O que você pode nos dizer sobre esse trabalho ?

Murilo Rocha:  Hoje em dia, contamos o Hideous Manipulartion como parte da discografia da Atropina, assim como os anos em que o projeto existiu como parte da história da Atropina. Isso porque a Legis Edax foi uma evolução natural da Atropina, com os mesmos integrantes. Hoje entendemos que Legis Edax foi o nome da fase Brutal Death da Atropina, entende? E esse é nosso único trabalho em inglês. Apesar de acreditarmos em fazer death metal na nossa língua, sempre houve um preconceito com bandas que  cantam em português, e nessa reformulação da banda, resolvemos apostar no inglês para tentar superar essa barreira. O trabalho da Legis foi muito bom, as músicas são excelentes, e na época estava dando resultados, mas por questões pessoais a banda se separou em 2008.

Em 2012, vocês resgataram o nome Atropina e voltaram com novos integrantes. Da antiga formação ficou só o Alex Alves. Como a banda  chegou até você, Murillo “Ogro” Rocha ? E como rolou o convite para  o  Fernando Müller, na guitarra, Cleomar Schmitzhaus, no baixo e Mateus Perotti, na bateria ? E como foi a adaptação desses novos integrantes no processo de criação das novas músicas ?

Murilo Rocha:  Isso mesmo, em 2012 após 4 anos de hiato, voltamos com a banda, e voltamos abraçando as ideias originais do início da banda, e por isso voltamos como Atropina, novamente com letras em português. O Alex é o único membro que continua desde a formação original, mas eu já estava na banda, como baixista, desde 2001, e foi depois de sucessivas tentativas de volta durante os 4 anos de hiato, finalmente em 2012 eu e o Alex conversamos e decidimos voltar a tocar, e antes mesmo de termos a banda completa novamente, já começamos os ensaios, o Alex na guitarra e vocal, e eu na bateria. Mas queríamos que todos os integrantes fossem de Teutônia (RS), nossa cidade, para facilitar os ensaios e convidamos o Fernando Muller, que curtia nosso som já, para aparecer num ensaio, ele veio e já assumiu a guitarra junto com o Alex, já o Cleomar veio por indicação do Fernando, pois eles tocavam juntos em outro projeto, a Maskiller. Por fim, convidamos o Mateus para retornar a banda na bateria, posto que ele já ocupava desde 2004 na época da Legis Edax, e com a volta do Mateus, eu saio da batera para assumir os vocais da banda.

Por que o Alex, desistiu dos vocais e resolveu assumir só as guitarras ? E o que o “ogro” acrescentou para os vocais da banda e a diferença dos vocais dele em relação ao seu ?

Murilo Rocha:  O Alex nunca deixou de ser guitarra e vocal, ele sempre fez a segunda voz, os vocais dobrados, na primeira fase até 2008, o Leônidas fazia o vocal principal, e nessa segunda fase, eu assumo o vocal principal, e o Alex continua dobrando os vocais

 Com o retorno da banda e com  o nome Atropina de volta, recrutando novos integrantes, a banda entra em estúdio e lança um material violento e poderoso. “Mallevs Maleficarvm” saiu em 2014. Como foi trabalhar com essa nova formação e o que vocês acharam dos resultados finais em estúdio  ?

Murilo Rocha:  Foi sensacional, porque conseguimos resgatar o espírito do Santos de Porcelana de volta pra banda, que era justamente o nosso objetivo, e esse resgate foi somado ao sangue novo, ideias novas, e jeito de tocar novos do Fernando e do Cleomar, aliado a isso ainda temos a incrível produção do Ernani Savaris do SoundStorm Studio. Foi realmente um resgate às origens da Atropina, mas sem ficar preso ao passado, e isso botou nosso nome no mapa novamente.

Aliás, eu descobri a banda através desse trabalho e me surpreendeu a qualidade musical, produção e lírica. Você poderia falar um pouco mais sobre todo o conceito envolvido neste grandioso artefato ?

Murilo Rocha:  Mallevs Maleficarvm é um álbum conceitual, o álbum conta a história desse livro, O Martelo das Bruxas, e dessa época, a Inquisição. O livro Mallevs Maleficarvm era uma manual de instruções da inquisição que falava sobre como identificar e aniquilar as bruxas, e foi usado, assim como tudo na história da igreja, para perpetuação de poder, controle de massas, e uma satisfação mórbida e psicopata do clero em geral. O que continua presente, porém usando outros métodos.

Em 2016 a banda entra em estúdio e lança outro álbum “Porões das Luxúrias”. O que você acha que melhorou neste Porões (…) em relação ao álbum anterior Mallevs Maleficarvm?

Murilo Rocha:  O Porões já é um álbum mais maduro e coeso se formos comparar ao Mallevs. Apesar de gostarmos muito do resultado do Mallevs, nele estávamos ainda procurando nosso som nesse novo cenário, com integrantes novos e tudo mais, já no Porões, com a banda bem entrosada, tanto pra tocar, quanto pra compor, já sabíamos o que queríamos e fomos atrás dessa nossa identidade, e acredito que conseguimos.

Outra coisa que chama atenção neste trabalho “Porões das Luxúrias”, além das letras que são um ataque fulminante contra a igreja católica, é a produção. A produção está acima do nível, tratando – se de uma banda do submundo brasileiro e extremo. Como foi contar com   o saudoso  Fabiano Penna na produção deste artefato bélico, de destruição, e ataque às instituições católicas ? Ficaram felizes com os resultados finais ?

Murilo Rocha:  A produção na verdade não é do Penna, ele foi responsável somente pela vinheta “Divino Aborto” mesmo, quem assina a produção do álbum é o Ernani Savaris do Soundstorm Studio de Bento Gonçalves, aliás, ele é o responsável pelos três últimos trabalhos da banda. E o Ernani é sensacional, ele entendeu a banda de uma forma incrível já quando trabalhamos na produção do Mallevs, e por isso seguimos com ele nos trabalhos seguintes. O Ernani é quase como se fosse um sexto integrante da banda, tamanha a sincronia do trabalho dele com o nosso. Sobre a temática do álbum, esse sempre foi o mote da banda, atacar o cristianismo e todo o mal que esse câncer causa para a humanidade, dessa vez sob a ótica da luxúria e do sexo, proibido, criminalizado, mas praticado pelo clero nos porões da igrejas das maneiras mais vis possíveis

Fabiano Penna (Rebaelliun)  criou a “Divino Aborto”.  Intro que abre esse trabalho. Como rolou essa parceria e tudo rolou da cabeça dele ou vocês participaram também do processo?

Murilo Rocha:  Como disse antes, ele não chegou a participar da produção do álbum, somente compôs e gravou a vinheta de abertura do álbum. O Penna sempre foi uma referência pra Atropina, assim como as bandas as quais ele fez parte, e durante o processo de composição do álbum chegamos a dividir o palco algumas vezes com a Rebaelliun. E nesses encontros, entre uma troca de ideia e outra, surgiu meio que despretensiosamente o convite pra ele participar do nosso álbum de alguma forma, o que ele aceitou de bom grado. Após as gravações do álbum, durante a mixagem, mandamos as músicas pra ele, que foi o primeiro a escutar o trabalho, para que ele pudesse, inspirado nesses sons, criar a vinheta de abertura do álbum. E ficou muito foda, ele conseguiu captar a essência do que estávamos criando e transformar isso na intro “Divino Aborto”

O disco ainda contou com outros dois convidados. Fabio Sperandio ( ex- Ophiolatry e Gorgoroth) e também com Leonardo Schneider, vocalista da banda gaúcha Dyingbreed. Como rolaram essas parceiras e o resultado final agradou vocês?

Murilo Rocha:  A participação do Sperandio surgiu de uma maneira parecida com a participação do Penna, temos contato de longa data com ele por conta da LAB6, que é sponsor das guitarras da banda, e sabíamos que ele estudou violão clássico, o que veio diretamente ao encontro da nossa ideia de ter uma faixa de interlúdio em violão clássico. Já o Leonardo da Dyingbreed é outro parceiro de longa data, desde a época dele na Hateworks, e quando pensamos em convidar alguém para dividir os vocais da música “Cálice Blasfêmico” comigo, ele foi o primeiro nome que passou na nossa cabeça. E todas essas participações encaixaram perfeitamente no álbum, o que nos deu muita alegria, afinal fazer um álbum que nos agradou, e ainda poder fazer ao lado de grandes amigos, não tem preço.

Porões das Luxúrias ataca e deleta  o sexo “proibido pela igreja” entre padres e freiras. Rolando estupros e abortos dentro de seus porões obscuros. O sexo é uma necessidade fisiológicas do homem/animal. Mas na minha opinião é mais sobre a instituição não ter despesas com os herdeiros dos padres e freiras. Mas no Brasil, existe outro câncer que cresce dia após dias, que são as igrejas  evangélicas. Seus pastores fundamentalistas e seus preconceitos que dizem pregar o amor, mas na covid 19, ficaram do lado do negacionismo e de um governo nazifascista. Como combater essas religiões e por que no Brasil crescem tantas  nas periferias do país afora?

Murilo Rocha:  É isso mesmo Walter, a ideia do álbum surgiu de uma notícia arqueológica que falava sobre uma grande quantidade de esqueletos de fetos achados nos porões e entre as paredes de uma igreja na Europa, e a explicação é óbvia: mesmo proibidos pelo celibato, os padres e freiras faziam sexo, seja por vontade própria, mesmo que proibido, ou até a força por estupros recorrentes. O resultado disso foram as freiras abortando ou abandonando os recém nascidos e os escondendo dentro dos porões e paredes da igreja. E apesar desse fato em que o álbum foi baseado ter acontecido há muito tempo, isso não quer dizer que isso não aconteça até hoje. E como tudo dentro da igreja, é o famoso “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. E você está certíssimo sobre as igrejas neopentecostais, que tentaram a todo custo transformar nosso país em um Evangelistão, em uma república teocrática baseada em preconceito e negacionismo se aliando a um governo nazifascista de quinta categoria. Não sei se existe uma fórmula para combatê-los, mas fazemos a nossa parte tentando desmascará-los através da nossa música.

Eu entrei nesse assunto porque á   Atropina é  uma banda que nunca ficou em cima do muro. Vocês sempre escolheram o lado progressista, da liberdade, e do respeito. Não é estranho a pessoa curtir o metal negro e extremo, e apoiar governo cristão com o lema “Deus acima de todos”?

Murilo Rocha:  Não faz sentido nenhum e mesmo assim ainda tem uma pá de banda de black metal apoiando “Deus acima de todos”. O rock e metal nasceram da contracultura, nasceram do protesto, e não do conservadorismo, então o rock conservador é uma aberração sem tamanho, e o que falar do metal conservador então. A banda sempre foi progressista, assim como todos seus integrantes, então é natural isso se refletir na nossa música e no nosso posicionamento dentro e fora dos palcos. Mas nos últimos anos, principalmente após o golpe contra a Dilma, o preconceito, a homofobia, o machismo, e até o nazi fascismo ganharam uma voz barulhenta e irritante, apoiado em sua grande maioria pelas igrejas cristãs, e sendo assim o nosso contra ataque se tornou essencial para tentarmos de uma vez por todos nos livrar desse mal.

Infelizmente, nestas últimas eleições no Brasil, o Sul do país nos envergonha perante brasileiros de outras regiões e principalmente no Nordeste brasileiro. Antes já achavam que por aqui todo mundo é nazifascista e, felizmente, não é assim. Até porque quem realmente é do submundo, dos subterrâneos não apoia essa escória. Aí no Rio Grande do Sul existem pessoas sérias  lutando contra essa escória. Qual é a visão de vocês da banda  sobre  esse assunto?

Murilo Rocha:  Infelizmente isso é um fato, nos decepciona a grande quantidade de conservadores e nazifascistas declarados ou mascarados por aqui, até mesmo dentro da cena. Mas ao mesmo tempo temos pessoas sérias e dedicadas a reverter esse quadro, e isso é bom. Muito em breve varreremos essa escória para a lixeira da história.

Nota do entrevistador : Entrevista feita antes das eleições de 2022. Portanto esses vermes já estão sendo jogado na lata de lixo da história e provavelmente muitos desses idiotas serão julgados e condenados.

E continuando sobre o Rio Grande. Como anda a cena gaúcha em relação a bandas e eventos?

Murilo Rocha:  A cena gaúcha é muita rica, repleta de excelentes bandas, produtores, selos, e eventos, e com o enfraquecimento da pandemia, pouco a pouco os eventos estão voltando e muitas vezes lotando as casas. O público tem comparecido em boa quantidade, mesmo com a concorrência dos grandes shows das bandas mainstream que estavam represadas pela pandemia.

Em 2021, vocês lançaram outro matador e devastador artefato bélico e anticristão “Prego em Carne Podre”. Na minha humilde opinião, esse trabalho é o ápice de vocês. Como foi a criação deste artefato ? No Mallevs Maleficarvm e Porões das Luxúrias são trabalhos conceituais. Prego em Carne Podre é conceitual também? Nos fale mais da produção, arte e layout desse trabalho?

Murilo Rocha:  Bah, valeu, nós curtimos muito o resultado desse álbum também. Mais uma vez, foi resultado do amadurecimento da banda. Esse também é um álbum conceitual e parte da ideia de um mundo que deixou o cristianismo para trás, esquecido como dogma, mas lembrado como um erro tremendo que não deve ser repetido. Sem dúvidas foi o álbum mais pensado e trabalhado da banda, começamos as composições ainda em 2019, e no início de 2020, pouco tempo antes de estourar a pandemia, nos isolamos em uma casa no interior durante uma semana para acabar de compor e começar a pré produção do álbum. Isso fez uma bela diferença, pois estávamos todos juntos pensando exclusivamente isso das 10h as 22h. Boa parte do trabalho foi feito ali, e como logo em seguida veio a pandemia, nos obrigamos a terminar as composições e pré produção do disco a distância. Acabamos começando as gravações efetivamente somente em outubro de 2020, e nesse meio tempo trabalhamos incansavelmente na pré produção.

Aliás, o nome do disco “Prego em Carne Podre” é muito forte e já deixa claro que a banda não amenizou suas críticas ao cristianismo. Esse trabalho tem uma  produção acima da média brasileira. O álbum foi produzido  pela banda  e Ernani Savaris. Como foi trabalhar mais  uma vez com esse produtor?

Murilo Rocha:  Mais uma vez trabalhamos com o Ernani Savaris do Soundstorm Studio na produção, mas dessa vez, participamos ativamente da produção também, tanto que todas as cordas foram gravadas em home studio. Trabalhamos com afinações e timbres diferentes nesse novo disco, queríamos soar diferente sem perder a nossa identidade, e o home studio nos deu a possibilidade de testar muita coisa diferente e trabalhar arduamente nesse objetivo. Depois fomos ao estúdio gravar vozes e bateria. A mix e a master são do Ernani que conseguiu mais uma vez captar e reproduzir nossa essência dentro do nosso som.

Aliás, vocês estão de parabéns por esse belo trabalho visual e sonoro. A capa é magnífica. Quem criou a arte foi o artistas Marcos Miller, o conceito todo veio dele ou vocês trabalharam juntos nesta parte?

Murilo Rocha:  As artes dos últimos dois álbuns eram de minha autoria, já que eu trampo na área de design, mas o meu foco é na manipulação de imagens, e para esse álbum a ideia era usar uma ilustração, daí procuramos o Marcus Miler que é um artista único, e já trabalhou com grandes bandas da cena nacional e internacional. E foi muito bom trabalhar com ele, nós explicamos o conceito do álbum, e passamos as letras das músicas pra ele, que nos apresentou dois rascunhos, os dois eram excelentes, mas optamos por aquele que futuramente veio a se tornar a capa.

Disco lançado e ótimas resenhas da mídia especializada e apoio dos metalheads. A banda caiu na estrada após a pandemia e fez vários shows em 2022. Fizeram uma tour pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Argentina. Alguns destes shows tiveram a companhia dos paulistas do “Gestos Grosseiros”.  Nos conte um pouco mais desses shows e nos diga o que um metalhead vai encontrar em um show da Atropina?

Murilo Rocha:  Isso mesmo, a crítica pra esse álbum foi incrível, chegamos a figurar entre os melhores lançamentos de 2021 em uma porção de sites e revistas, inclusive em Portugal. E com o fim da pandemia, a ideia era mesmo ir pra estrada para apresentar esse trampo pra galera que tem nos respondido muito bem também. Foram muitos shows e duas tours, uma em SC, e outra pelo RS, mais Argentina, essa última ao lado da Gestos, que é uma grande banda, e se tornaram nossos irmãos. Quem for nos nossos shows pode esperar um show energético, blasfêmico, intenso e incansável, além é claro do peso que não pode faltar em uma banda de death metal.

No segundo semestre de 2023 vocês vão fazer uma tour pelo velho continente. Como estão as expectativas para essas datas? Que país vocês vão passar ?

Murilo Rocha:  Serão 17 shows em 17 dias, passando por cerca de 12 países como Espanha, França, Itália, República Tcheca, entre outros, e não podíamos estar mais felizes e ansiosos pelo que nos aguarda visto que será nossa primeira praquelas terras. Vamos ver o que os europeus vão achar do metal da morte cantado em português, mas acredito que eles vão curtir. Estamos preparando muita coisa boa pra lá, vai ser uma maratona.

Mais uma vez vocês estarão na estrada acompanhados do Gestos Grosseiros. Como rolou essa parceria? E eu  acho muito legal a cena brasileira dividindo e fazendo “essa união” para mostrar  para os gringos á força das atuais bandas brasileiras.

Murilo Rocha:  Essa tour na Europa veio pra nós através da Gestos, eles já estavam planejando essa excursão ao velho mundo, e no plano deles a ideia era ir com alguma outra banda junto, e depois da nossa tour juntos aqui pelo Sul e Argentina, com o alinhamento perfeito de ideias e sons das duas bandas e dos seus integrantes, eles fizeram questão que fossemos nós a banda que os acompanharia nessa empreitada. É mais prático e barato pras bandas viajar juntos, e muito mais eficiente para o público conhecer as bandas daqui, então une a fome com a vontade de comer. Precisamos replicar mais esse modelo dentro e fora do país.

Nota do Entrevistador : Já rolou algumas turnês assim. Lembro que em 2014, teve uma tour em conjunto com Headhunter DC, Nervochaos e os croatas do Warhead e nas datas no Sul do Brasil entrou os catarinenses da Khrophus e que tocou na cidade de Itajaí e Curitiba, no Paraná. Recentemente o Krisiun faz algo parecido com a Crypta , Nervochaos e Belphegor. Seria ótima se esse tipo de parceria rolasse mais e funcionasse no Brasil.

Grande Murilo, obrigada  pelo seu tempo cedido para nós. Quero dizer que tenho um respeito por você e toda a galera da banda, desde a  primeira vez que nos esbarramos na serra catarinense, na edição do Otacílio Rock / 2019, e puxamos conversa por que você estava com a camiseta da banda. Fizemos trocas de materiais e depois vocês todos da banda adquiriram a quarta  edição do meu zine “Maléfica Existência”,  mostrando que vocês realmente vivem e apoiam a cena subterrânea.  Considerações finais e o espaço é de vocês. Boa sorte na Europa. Força – Sempre !!!

Murilo Rocha:  Aquele Otacílio tava massa, boas lembranças daqueles dias. Mas é isso aí, te agradeço pelo espaço e pela oportunidade de falar um pouco do nosso trabalho. E a partir de agora estamos trabalhando pra tocar cada vez mais e cada vez estando mais presentes pelo Brasil afora. Força pro Zine, e estamos juntos.

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