Impossível não reconhecer que o Chile divide as atenções, atualmente, com o Brasil na América do Sul, quando o assunto é Metal Extremo. O pequeno país tem uma cena vibrante, que produz bandas de muita qualidade em todos os subgêneros.
O APOSTASY é das antigas, formada em 1988 em Valparaíso, mas passou por um grande hiato. O disco atual “Death Return”,lançado em maio deste ano, é apenas o terceiro completo de estúdio. A banda trabalha um Black Thrash firmemente pautado na sonoridade do final dos anos 80, nostálgico, porém agregando elementos distintos.
Destaca-se o trabalho de guitarras, de ótima técnica na composição e execução dos riffs e leads. A ótima produção deixou o som potente das guitarras bem à frente, causando imenso impacto e tornando o disco extremamente viciante. Lembra bastante o som do SADUS e do DEMOLITION HAMMER.
“Intro / Death Return” tem o início que transporta o ouvinte direto ao final dos anos 80 / início dos anos 90, tanto pela introdução enigmática quanto pelo ataque colérico das guitarras, percussão e baixo na cara que se segue. Thrash Metal extremo, maléfico e grosseiro despejado sem dó, porém esbanjando técnica apurada e beirando o proto-Death finíssimo de bandas como o estupendo conterrâneo RIPPER.
“Jus Primae Noctis” promove um festival infernal de riffs em ritmo acelerado, celebrando o Speed e a agressividade exacerbada do Black Metal primitivo que se fundia nas obras de VENOM, HELLHAMMER e SODOM. Os acenos ao Heavy tradicional da NWOBHM são constantes e bem-vindos, conferindo à faixa uma aura irresistível. Não à toa, ela está rolando no repeat por aqui.
“Son of Hate” dá um passo atrás em termos de velocidade em sua seção inicial. A brutalidade com que acelera e retorna ao midtempo é marcante. De fato, soa tão memorável quanto as duas anteriores. Riff em cima de riff, impossível não se contaminar pelo clima. Os solos da seção final chutam o traseiro do ouvinte impiedosamente.
“Deceased in Funeral” soa mais técnica e ritmicamente variada, ainda que conserve a pegada brutal e altamente venenosa em todas as levadas. Essa certamente deverá atrair e conquistar os fãs de VEKTOR, VOIVOD e CORONER. Espetacular.
“The Great Apostasy – The Night” é a mais extensa do álbum, ultrapassando os oito minutos. Regravação de um som antigo, segue a pegada mais técnica e progressiva da música anterior, com mudanças de tempo bem legais. Há toda uma preparação para a aceleração explosiva que rola pela metade da faixa. O lado mais agressivo da cena alemã é reverenciado aqui, de forma profundamente satisfatória.
“Praise of Darkness ”é um interlúdio de pouco menos de dois minutos, de ritmo mais lento e beligerante em sua seção final.
“Obey the Antichrist” é a peça que encerra o álbum, um som que a banda havia lançado anteriormente na Demo “Into the Rehearsal”, de 2018. Mais uma demonstração da habilidade única da banda em canalizar agressão e rudeza sob forma de Thrash/Speed.
O trabalho dos chilenos é excelente, mais um para coroar um ano especial em termos de lançamentos voltados ao Thrash Metal e suas subdivisões. Única dúvida ficou por conta da capa, que tem arte orgânica e old school, com conceito e ilustração interessantes, mas estampando cores berrantes um tanto controversas…
As sete faixas matadoras a seguirsomam os39:18minutos do álbum:
1 – “Intro / Death Return”
2 – “Jus Primae Noctis”
3 – “Son of Hate”
4 – “Deceased in Funeral”
5 – “The Great Apostasy – The Night”
6 – “Praise of Darkness”
7 – “Obey the Antichrist”
Destaques: “Jus Primae Noctis” talvez seja a melhor individualmente. A longa e diversa “The Great Apostasy – The Night” é outro destaque natural em um trabalho sólido e balanceado.