CD/EP/LP

ACIDEMIA – Podridão (2021)

ACIDEMIA (Brasil)
“Podridão” – Digital, 2021
Acid Swamp Records – Nacional
8,5/10

Entre a neblina volumosa e lisérgica do Stoner Metal e o azedume, e aspereza do Sludge — é nesse meio que está situado o Doom Metal pesado e neandertal da banda catarinense ACIDEMIA. O título do primeiro full-length é cabalmente preciso, “Podridão”; tanto sonora quanto temática; a sociedade e suas tantas doenças, pestes urbanas e pesadelos de concreto. Uma saudação dos incoerentes e doentios tempos contemporâneos ao princípio antes mesmo do próprio princípio.

Os primeiros esboços sonoros do trio lageano datam de 2015; “jams sessions” descompromissadas, esfumaçadas e abastecidas por Electric Wizard, Sleep e pelo (obvio, mas obrigatório), Black Sabbath.  Esboços esses que foram tomando formas, ganhando solidez e rumo, assim como as ideias e ambições dos membros; Henrique Soares (voz/baixo), Thiago Granetto (bateria) e Rubens Silva (guitarra). Em 2018 eles debutaram com o Extended Play “Extinction”; acompanhado por diversas apresentações, incluindo a 7ª Semana Do Rock Catarinense. Tal apresentação acabou por  resultar no segundo material da banda, “Live In Swamp” (2020), que como o título denuncia, é um registro ao vivo, aliás, um baita registro que bem ilustra a potência e a sedação que é a banda nos palcos (o lugar onde ela pertence, todas elas, diga-se). Bandas nascem em garagens, quartos pequenos, pouco ventilados e escuros, fundos de quintais e até mesmo em estúdio, mas a consagração, o verdadeiro rito de passagem é ao vivo! O restante de 2020 foi dedicado ao trabalho em novas ideias e musicas, ainda nesse período o guitarrista Rubens Silva deixa a banda sendo substituído pelo também excelente Mateus Varela.

Lançado no fim de julho, o álbum foi gravado no Estúdio Fatboo, em Lages — sua  mixagem e masterização foi desenvolvida por Stefan Duarte. Quanto a produção, ela foi assertiva justamente por preservar e evidenciar tanto o peso e o avanço impetuoso dos instrumentos quanto por manter a sujeira ou mesmo o lodo desse tipo de exploração sonora. São características e não falhas (que fique dito), até porque, é um tanto cômico conceber um pântano com azulejos brancos ou um deserto sem pó. Sobre a capa assina por (Doomed_6b); ela parece uma versão lisérgica dos trabalhos tão aclamados do monstro Dan Seagrave. Outro aspecto a ser reverenciado é o acolhimento do nosso idioma (o tão maltratado), ainda mais nestes tempos, português.

Preste culto ao riff, mas reze ao baixo, e é dessa forma que a faixa “Névoas De Ácido” abre o disco; alongando-se em linhas tortas, robustas e acachapantes. Nada em “Podridão” é claro, dogmático, sensível ou reto, ele é turvo, questionador, incômodo e repleto de sinuosidades. “Mórbido”, “Existência” e “Angústia” são temas que passam longe do conforto, do usual ou dos clichês; são amargas, psicodélicas e tortuosas. Ora se elevando à sombra do peso comum do Doom Metal, ora divagando na experimentação, mas sempre se mantendo dentro do linguajar pouco (ou nada) polido do ACIDEMIA. A faixa titulo se configura em mais de 12 minutos de testes e relevos. Por vezes, nos cumes da acidez e noutras em níveis baixos de desenvolvimento — onde cada nota é precisa, forte e prolongada. “Arcturianos” é um delírio sonoro composto por samplers e riffs; os solos são ardidos e selvagens (não apenas nela, mas em toda essa “bad trip” de mais de uma hora). “Caximbo” no que lhe concerne, é uma espécie de “jam session” jurássica,  nutrida por experimentações e improvisos diversos. Nela, o trio extrapola todos os limites (como se houvesse algum) de sua musicalidade. Sem seguir formulas e sem fronteiras gráficas. Plugar e tocar — o resto são riffs, criatividade e estados mentais sendo postos em prova.

Podridão” é, por fim, um lançamento atípico, distante da polidez e do padrão industrial tão posto em prática atualmente. Ele testa, provoca e corrói o ouvinte. Mais que experimentações e guitarras, um testemunho cáustico dos dias em que foi composto e dos mesmos dias em que ainda estamos vivendo.

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