O underground extremo é um ambiente onde a polêmica, o contraditório e o bizarro caminham lado a lado, muitas vezes se misturando e outras vezes determinando se uma banda terá ou não o seu caminho vitorioso. Em uma época de delicadezas morais, pseudo satanismo e moralismo exacerbado, bandas como o SADE servem para chacoalhar os alicerces do puritanismo hipócrita. Acredito que na cena nacional nenhuma outra banda nesse momento esteja tão no centro das discussões como esse grupo cearense.
Muitas pessoas tem criticado a capa do álbum e outras tem aplaudido o romper de grilhões a que a banda se propõe em sua música. Polêmicas à parte, o SADE tem seu caminho pavimentado em extremismo e ergue com orgulho um grande dedo do meio para todos que os criticam. Tudo no disco fede a enxofre, sexo barato e desprezo pelas regras da sociedade e isso, por si só, já é algo que chama a atenção e concede mais respeito pelo trabalho da banda. Musicalmente temos o SADE cuspindo um death/black metal pútrido, rápido e sujo em toda a sua duração.
Em alguns momentos o som tende mais a uma versão mais atual do death metal dos porões, carregadíssimo e focado em riffs e bases mais densos. Não há necessidade de complexidade técnica, pois isso não iria agregar muito ao holocausto musical aqui liberado sem reservas. As influências são diversas e aqueles que fazem parte desse ambiente de devastação as conhecem e as reconhecem, portanto não vejo necessidade de lançar luz a isso. “Cosmos is a Great Torture Chamber” é um álbum curto, mas é direto, vai diretamente ao âmago do seu propósito, o de torturar ouvintes desavisados, corromper os bons costumes e entrar um som feio, mas que vai agradar a todos aqueles que o entendem.
Não há beleza, não há “melodias”, apenas distorção e imundície. As melhores faixas nesse álbum são: “Satanic Propagation”, um cartão de apresentação perfeito, “Towards his Extinction”, “Horned Creature Worship”, uma composição que honra as heranças sul-americanas. Surpreendentemente o SADE rende homenagem à banda Scatologic Madness Possession e toca “Facial Fermentation” sem nenhum sinal de piedade. É podre. Apenas isso. E um grande tributo.
Acredito que o único ponto negativo é a duração do material. Talvez umas duas músicas a mais faria o álbum crescer ainda mais, mas que venha um próximo álbum o quanto antes para conferirmos que caminhos irão ser trilhados. Em termos de produção o material é bem gravado (dentro de sua proposta e conta com uma excelente qualidade gráfica e de apresentação do material, o que já é um diferencial, incluindo aí um slipcase e um pôster.