Fomos bater um papo com D.Danmented e J.Verdani, da banda de Heavy Metal paranaense Axecuter. “Dentro das influências e características da banda, nós nunca nos limitamos a soar de uma única forma”
Entrevista por Walter Bakhus (SC)
Saudações! Obrigado por ceder essa entrevista para nós. Espero que estejam bem neste mundo pandêmico. Para começarmos, eu fiquei sabendo que o Rascal – baixista – não faz mais parte da banda. O que houve para sua saída repentina?
Danmented: O prazer também é nosso em bater esse papo sobre a banda e sobre Metal em geral. O Rascal saiu por diversos pequenos motivos pessoais e musicais que foram se acumulando com o tempo. Ele não queria sair e a gente também não queria que ele saísse, fizemos o possível pra ir levando, mas a situação ficou insustentável e bem mais evidente durante a pandemia. Pra evitar mais desgastes entre nós 3 e estragar a amizade, eu e Jeff optamos pela saída dele, de modo amigável.
A formação com Danmented, Verdani e o já citado baixista, estava junta há bastante tempo e estava bem afinada, produzindo muito juntos. Já encontraram o novo integrante? Pode nos apresentar quem é?
Danmented: Exatamente! Produzimos coisas muito legais juntos e tenho muito orgulho da nossa parceria dentro e fora da banda. Ainda não temos um substituto pro Rascal mas, assim que tivermos, a gente vai divulgar no Facebook e Instagram da banda.
A banda foi formada em 2010, e daquela formação original sobrou só você Danmented (V/G). Houve várias trocas de integrantes, e, na minha opinião, com o Verdani na bateria e o Rascal no baixo, esse power trio foi a formação perfeita. Desde o início da banda, independente da troca de integrantes, houve lançamentos de material anualmente. A cada novo trabalho nota-se a evolução musical da banda! Com o novo integrante, o que muda nas composições?
Danmented: Essa formação estava funcionando muito bem mesmo, por isso é que fizemos de tudo pra que ninguém saísse. Mas entre sacrificar uma formação estabilizada e uma amizade, ficamos com a primeira opção. A cada integrante que entrava e também com o próximo baixista que entrar, a essência da banda sempre foi e sempre será a mesma, as composições vão manter o padrão que sempre tivemos.
O último trabalho de estúdio “Surrounded By Decay” (2019) foi bem aceito pela mídia especializada e pelos insanos metalheads. Vocês ficaram satisfeitos com toda a repercussão deste trabalho? O CD tem uma pegada mais violenta. Exemplo da sexta faixa “Collecting Enemies ”, ela é mais rápida, pesada e até me lembrou o velho Kreator. O que os levou a incorporar aos novos sons mais peso, violência e rapidez?
Verdani: Dentro das influências e características da banda, nós nunca nos limitamos a soar de uma única forma. O velho Kreator é uma das influências, então uma música mais pesada e violenta sempre será bem vinda.
O Axecuter sempre levantou a bandeira das raízes do metal e do radicalismo que vêm com ele. Estamos vivendo o século 21, com redes sociais e música via streaming. Os metalheads, cada vez menos, compram CDS. Inclusive, até antes da pandemia, o público já estava sumindo dos shows. A cada ano que passa o Metal/Underground parece estar perdendo suas raízes. Diante disso, na sua opinião, até que ponto o radicalismo é benéfico?
Verdani: Fatalmente as coisas se transformam, algumas ajudam, outras atrapalham. Esse radicalismo também não pode atrapalhar, é apenas uma forma de mostrar que para nós algumas coisas do passado não precisam ser esquecidas ou substituídas. Ficar 100% no virtual, para nós de fato não convém.
A capa do “Surrounded By Decay” se refere à forma de pensar da banda sobre essa “cena fake” em que vivemos hoje em dia. De onde veio a ideia para esta capa? Quem é o artista por traz dessa bela arte?
Danmented: A ideia é captar de um lado da calçada o lado bosta da vida em geral. Do outro lado, tiramos sarro de eventos cover, do público roqueiro de fim de semana e até dos discos ruins de bandas que curtimos. A ideia veio da banda mesmo, fomos aperfeiçoando as ideias com os ilustradores Paulo Kalvo e Marcio Aranha.
Ainda sobre a capa. Nela encontram-se críticas àqueles que não levam a sério a ideologia, as raízes do metal e do submundo. Críticas para metaleirinho de fim de semana, webangers, bandas covers e até bandas que vivem do passado. Para você, o que mais prejudica a cena: bandas covers, bandas que vivem do passado ou bandas que querem evoluir dentro do metal fazendo bizarrices?
Danmented: Eu diria que tudo isso junto, haha! Como fãs de Metal, nos sentimos insultados com certas babaquices que vemos e ouvimos por aí, mas tem quem goste, então que se foda, a gente só quer se divertir tirando um sarrinho do que a gente não curte. Vale lembrar que a intolerância vem dos dois lados, a galera “mente aberta” também tira sarro da galera old school, de quem pensa diferente deles. Para haver respeito, precisa haver distância!
Danmented, você é um cara que sempre fala o que pensa e defende posturas dentro da cena. Você nunca escondeu que gosta de bandas que estão inseridas dentro do “white metal” como “Stryper” e “Trouble.” Você apoia o white metal ou defende só as qualidades instrumentais dessas bandas sem ligar para as suas letras?
Danmented: Eu não apoio white metal, não acompanho nada dessa cena e não sou cristão, como alguns imbecis insistem em afirmar. Caso eu fosse, não teria problema em admitir, porque eu não me escondo atrás de um personagem. O fato é que eu conheci Stryper com 12 anos, numa coletânea em LP chamada “Metal Attack” e anos depois conheci Mortification na coletânea “Death is just the beginning”. Eu e meus amigos não sabíamos do que se tratava, a gente curtia o som dessas bandas pela música mesmo, sem saber o conteúdo das letras. Depois que eu fiquei sabendo, eu não ia deixar de curtir, pois existe uma nostalgia enorme quando eu lembro dessas coletâneas, elas me apresentaram muitas bandas que eu curto até hoje. E como eu realmente não ligo pra religião nenhuma (odeio todas), então eu posso ouvir Stryper sem ser cristão e posso ouvir Dark Funeral ou Marduk sem ser satanista. A música é prioridade, simples assim! As letras são importantes, claro, mas eu acho possível curtir uma banda sem se identificar com as letras dela. Esse papo de eu ser cristão enrustido é babaquice, é coisa de retardado pensar isso sobre mim ou sobre a banda.( * Eu também ouvi essas bandas sem saber que eram white metal e óbvio que não apoio essa cena, mas as vezes dá uma nostalgia daquela época inocente…)
Aqui no Brasil já tivemos situações em que algumas pessoas descem o pau em uma banda ao descobrirem que um integrante não segue as regras do Underground. Recentemente aconteceu com teus conterrâneos do Amen Corner. Quando vários metalheads atacaram a banda porque, segundo boatos, o cara é cristão. E, com a pressão, demitiram o Coveiro baixista que tinha passagens pelo lendário Infernal. O que tu acha de tais posturas?
Danmented: Eu acho que se fosse uma banda gringa, provavelmente a galera passaria pano, então é uma situação injusta com uma banda tão importante na cena brasileira. O baixista que saiu já era assumidamente católico há muitos anos, os fãs é que não perceberam isso antes. E existem várias bandas que a gente curte o som, mas que têm integrantes com opiniões ou atitudes diferentes das nossas, e daí? Não temos que nos preocupar com a vida dos caras das bandas, sejam nacionais ou gringas.
Eu sou um cara ateu que não acredita em Deus ou mesmo em Satanás. Mas acho que o Metal e o Black Metal são símbolos de resistência para essa sociedade conservadora e hipócrita. Os blackmetallers se opõem às religiões. Mas, para alguns, isso só vale para as bandas nacionais, pois, para bandas gringas, eles passam o pano. Veja exemplo : Tom Araya, Dave Mustaine; Varg Virknes, que é declaradamente nazista; ou mesmo o baterista Hellhammer do Mayhem, que já tocou com bandas de white metal. O que tu acha dessas posturas?
Danmented: Concordo com tudo que você escreveu! Eu curto muitas, muitas bandas de Black Metal nacionais e gringas e tenho muito material em casa. Mas observo certas atitudes incoerentes, sem contar que muitos caras são extremos e radicais por um tempo e viram cristãos depois de uns anos, exemplos não faltam por aí.
Mudando um pouco de assunto, como anda a cena curitibana? Quais bandas tem feito um trabalho sério e honesto você destacaria para que os leitores possam conhecer melhor?
Danmented: Assim que a situação do corona permitir, os shows vão voltar! Temos ótimas bandas aqui, entre as que lançaram material recente, eu recomendo o Death Chaos, além dos veteranos do Sad Theory, Offal, Murder Rape.
Verdani: Assino embaixo.
O meu último show, antes da pandemia, foi na região metropolitana de Curitiba, no “Araucária Metal Fest” (fevereiro/2020). Inclusive, a Axecuter também tocou no evento, junto com várias outras bandas da cena sulista/brasileira, como: Battalion, The Torment, Unholy Outlaw, Helllight, Volkmort e muitos outros. O que você achou desse fest e sua estrutura ?
Verdani: É difícil criar um festival e ter uma primeira edição perfeita hehe, mas o Araucária Metal Fest mandou bem na estrutura geral, honestidade e profissionalismo. O Paraná precisa de festivais neste estilo, ainda mais tão próximo da capital do estado onde muitas bandas têm procurado oportunidade de se apresentar.
Eu achei a estrutura espetacular. Com bandas matadoras em seu cast. Aliás, pelo o que eu sei, foi o primeiro “Open Air Fest” da região metropolitana de Curitiba. Aqui em SC, durante o ano, temos vários fests de três dias de acampamento e muito metal. O que você acha desse tipo de evento e da cena aqui de Santa Catarina? Eu lembro que o Axecuter tocou na edição de 2017 do Otacílio Rock Festival. Poderia citar mais algum show/fest que fizeram por aqui?
Verdani: Santa Catarina é referência neste estilo de festival, e o público realmente se movimenta! Em todos os festivais e em cidades distintas você vê grandes grupos de pessoas de diversas outras cidades. O Otacílio Rock Festival por exemplo que você citou, fica na região serrana do estado e atrai público da região oeste, do litoral… Enfim, de outros estados também, já tem tradição! Eu acredito inclusive que nós tocamos mais no estado de SC do que no PR, vamos lá… Rio Negrinho (Magos), Jaraguá do Sul, Porto Belo, Balneário Camboriú, São José, Chapecó, São Miguel do Oeste, Piçarras, Florianópolis, Blumenau, Joinville, Laguna no Agosto Negro, é outro grande festival! Aguardamos a volta do Fear Fest e, quem sabe, debutar em grandes festivais que não tocamos ainda como o River Rock e o Maniacs Metal Meeting.
E em nível nacional, o que você acha que mudou na cena, para melhor ou para pior, nesses últimos anos?
Verdani: A cena é cíclica, um sobe e desce eterno. A cada semana tem uma infinidade de bandas nascendo, e outras morrendo. É difícil se manter. Mas tenho visto melhorar o profissionalismo num geral, e isto sendo referência para bandas começando. Se isto continuar como referência, só tende a melhorar, pois não basta encher a cena com coisas mal feitas.
Com o lançamento do “Surrounded By Decay” vocês fizeram muitos shows pelo Brasil, inclusive no Norte do país. Como foram os shows e quais os planos futuros da banda?
Danmented: Foi uma experiência sensacional e queremos repetir assim que for possível. Alguns shows com mais público, outros com menos, mas a energia foi foda, só temos a agradecer pelos convites e a todos que compareceram e compraram material. Planos futuros incluem encontrar um novo baixista, compor e lançar material novo.
Meu amigo, obrigado pela entrevista. Espero que o mundo volte ao normal o mais rápido possível, para que possamos tomar uma cerveja juntos em um show por aí. Espaço é seu para considerações finais.
Danmented: Muito obrigado pelo convite, parabéns pelo trampo e suporte ao underground! Acompanhem as novidades da banda, confiram os vídeos novos que lançamos no Youtube. Para comprar material da banda, basta nos escrever nas redes sociais ou no email axecutermetal@gmail.com
Verdani: Obrigado demais pelo apoio, isso faz valer a pena no meio de tantas dificuldades! Mas seguiremos… Contra tudo mais uma vez! Nos veremos em breve!!!
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