A primeira coisa que chama atenção no disco de estreia dos alemães do FRIISK é o título do álbum, “…Un torügg bleev blot Sand”, que não bate com nenhuma das línguas germânicas tradicionais… pesquisando, descobri que eles usam uma das variações do Frísio pra escrever seus títulos e letras, uma língua minoritária, utilizada em algumas regiões da Holanda.
A banda nasceu em 2018, na Alemanha, na região da Baixa Saxônia. A formação atual é um quarteto, que se identifica apenas por iniciais. O primeiro trabalho de estúdio saiu via “Vendetta Records” em CDs, vinil, fitas cassete e em formato digital.
Black Metal Atmosférico é o subgênero explorado pelos caras, com muita eficiência. O som é particularmente furioso, mas relativamente polido, melódico e carregado de emoções e sentimentos negativos nos ótimos vocais e no clima criado pelo instrumental, que juntos fornecem uma atmosfera pesada e destrutiva.
Mesmo lutando por espaço em meio a um estilo um tanto saturado, o FRIISK consegue se destacar com seu primeiro trampo de estúdio. Em diversos momentos, o ouvinte é levado a lembrar-se de grandes nomes do Black Metal Germânico, como NAGELFAR, SECRETS OF THE MOON dos primórdios e FARSOT, além dos holandeses da excelente WIEGEDOOD.
A arte de capa é bela e lúgubre, ilustrando em nanquim um vilarejo destruído e desabitado à beira mar, aparentemente inundado e tragado pela força devastadora do oceano. Trabalho do também alemão “Chris Kiesling”.
Interessante notar que as passagens mais atmosféricas do álbum não possuem sintetizadores, ou instrumentos Folk. Tudo foi elaborado com base nas guitarras, com trabalho notável de “J” e “TS”.
“Einklang” inicia com guitarras limpas, que gradativamente aumentam o tom e abrem espaço para o instrumental mais pesado, com jeitão Doom. Grande som de baixo complementando com veemência as guitarras. Intro bem sacada.
“Dem Wind entgegen” emenda o final da Intro com um Riff majestoso, que direciona o som ao Black Metal de ritmo médio, denso, pesado e atmosférico da banda. Por vezes brutal, muito bem produzida e transbordando emoção.
“Hoat” soa mais agressiva, reproduzindo o Black Metal da segunda onda no melhor estilo escandinavo, e conservando as características germânicas em sua sonoridade. Os riffs melódicos se destacam e acrescentam profundidade e diversidade ao som.
“Versunken” é um interlúdio instrumental curto, com efeitos discretos de teclados e guitarras limpas e melancólicas.
“Mauer naus Nebel” inicia a trinca final de faixas extensas. Tem pegada Black/Doom, apostando no ritmo mais arrastado e carregando no peso e na atmosfera encorpada. Da metade em diante, acelera o passo e assume postura mais agressiva, de performance conjunta destacada, configurando um dos pontos mais altos do trabalho.
“Torügg bleev blot Sand” é a faixa que traz a participação especial de “Zingultus”, vocalista do ENDSTILLE e em alguns trabalhos do NAGELFAR. Soa ao mesmo tempo odiosa e melódica, que agrega muito ao clima soturno com os vocais do convidado. A percussão versátil e criativa de “JL” é outro diferencial desse som.
“Fiebertraum” traz nova aposta no Black Doom, com ar épico. Não há pressa no desenvolvimento do tema, e essa dinâmica é reforçada pelas variações do vocal, extremos em maioria e pontualmente limpos, quando abusa de tons comoventes. Som mais atmosférico do trabalho, extenso e cercado de grandiosidade.
Ótima estreia dos alemães do FRIISK, recomendável a qualquer fã de Black Metal em geral, e especialmente àqueles que apreciem as versões mais atmosféricas do estilo.
Relação das sete faixas, que totalizam 47:39 minutos de duração:
1 – “Einklang”
2 – “Dem Wind entgegen”
3 – “Hoat”
4 – “Versunken”
5 – “Mauern aus Nebel”
6 – “Torügg bleev blot Sand”
7 – “Fiebertraum”
Destaques: A segunda faixa “Dem Wind entgegen”, a quinta “Mauern aus Nebel” e a sexta “Torügg bleev blot Sand” são grandes músicas, e as mais relevantes individualmente.