Bandas e projetos liderados por um único indivíduo têm surgido com enorme frequência ao longo das últimas décadas, com os avanços tecnológicos no campo musical. Algumas têm prosperado, e vêm produzindo álbuns acima da média.
O AULD RIDGE é um exemplo. A banda é recente, e não há muitas informações ou detalhes a seu respeito. Sabe-se que o responsável atende por “O.W.G.A.”, um britânico que se mudou para o interior da França, e que também trabalha individualmente a ALBIONIC HERMETICISM, outro projeto recente deBlack Metal.
A sonoridade do AULD RIDGE é um Black Metal Atmosférico com lances Folk e Ambient, porém distancia-se da maioria das bandas atmosféricas pela violência com a qual propõe os seus temas. Soa visceral, impetuosa, um tanto cru e permanentemente hostil.
Em abril desse ano saiu o segundo álbum de estúdio, chamado “Consanguineous Tales of Bloodshed and Treachery”. Até o momento, lançado apenas em versões digital e fitas cassete, pelo selo francês “The Hermetic Order of Ytene”. O tema do trabalho é o passado de conflitos constantes e os inúmeros banhos de sangue envolvendo feudos e nações do continente europeu.
O disco abre com “Triumph in the Grave”, um petardo de quase onze minutos que se inicia enganosamente como uma introde vozes sinistras e pegada tétrica. Logo, o Black visceral é vomitado impetuosamente, com vocais ríspidos típicos da escola finlandesa. O som de passagens predominantemente brutais é rico em complexidade, cortesia dos riffs melódicos excepcionalmente bem trabalhados e inseridos em meio ao caos. Do meio em diante, a faixa desacelera, e torna-se de fato mais atmosférica. Mesmo aí, onde brilham os sintetizadores e elementos folk, não deixa de ser agressiva e mantém ilesa sua aura hostil.
“Bourgogne” é um interlúdio instrumental, com guitarras acústicas. Progressivamente, o músico adiciona percussão, outros instrumentos de cordas e teclados. Primeira faixa com a pegada Ambient, muito boa na preparação para a destruição perpetrada por sua sucessora.
“Pant-Mawr, Boniarth” com nove minutos, repete a receita da abertura do álbum. Black Metal veloz, bruto e brilhantemente executado, com ótimas melodias proporcionadas pelas guitarras e sintetizadores enriquecendo o clima. A passagem puramente atmosférica da seção final do som é menos extensa, e devolve a faixa ao derramamento de sangue, acrescentando ares épicos.
“Ancient Pride” seguindo a característica do álbum, temos outro interlúdio. Aqui, o som acústico de violões ganha o acompanhamento de percussão e corais Folk, com ar medieval sombrio e fúnebre.
“Massacre in 437” aqui o Black Metal ganha tons menos ríspidos, o ritmo decai e exala influências de Doom Metal na sua passagem inicial. A fúria e a insanidade ressurgem, com a companhia de camadas espessas de teclados, que se misturam bem ao assalto com blasts da bateria e os riffs de guitarra friose memoráveis. Faixa grandiosa, melhor do disco.
“There is no Room for God Here” último interlúdio, este apenas instrumental e com guitarras elétricas menos distorcidas, ainda que repletas de efeitos. Juntam-se os sons de piano e violinos. Super atmosférica e com forte carga emocional.
“Troneck” finaliza o trabalho com mais um ataque fulminante, dessa vez soando até mais cru que as anteriores, com menor infusão de melodias. A seção final diminui o ritmo e aumenta significativamente a carga atmosférica, épica, de ar beligerante triunfante. Ao vencedor, os espólios.
O segundo álbum do AULD RIDGE é denso, uma bela aula de Black Metal que une as características mais agressivas e odiosas do estilo ao melhor do Atmosférico. Todos os interlúdios funcionam e agregam à proposta. Tipo da descoberta que compele o ouvinte a conhecer mais sobre os projetos do artista. Recomendado aos fanáticos por LURKER OF CHALICE (EUA), LEVIATHAN (EUA), THE RUINS OF BEVERAST (ALE), GRIS (CAN), ALTAR OF PLAGUES (IRL) e LUNAR AURORA (ALE).
O álbumconta com as sete faixas abaixo, totalizando 47:31 minutos de duração:
1 – “Triumph in the Grave”
2 – “Bourgogne”
3 – “Pant-Mawr, Boniarth”
4 – “Ancient Pride”
5 – “Massacre in 437”
6 – “There is no Room for God Here”
7 – “Troneck”
Destaques: A faixa de abertura e a quinta são amostras perfeitas, extensas e ricas em intensidade e complexidade. Aos fãs de Black Ambient e Dungeon Synth, fica a recomendação da incrível sexta faixa – “There is no Room for God Here”.