O Doom Metal com seus mais de 50 anos de existência segue forte, pesado e incólume, como um antigo monumento que sobrevive às eras, desafiando o tempo, suas mudanças e adequações. Nada muda frente ao mundo e suas eternas e inconstantes ondas — museu de novidades, exposição de futilidades, uma imensa galeria onde o tudo e o nada compartilham do mesmo preço. Uma ode para cada desgraça, uma serenata para cada falha e assim segue a humanidade de lugar algum para lugar nenhum nesta maldita terra abandonada, cujo criador preferiu o anonimato a ter que reconhecer seu fracasso.
O GRIEF COLLECTOR é a mais nova banda do lendário Robert Lowe (a voz do também lendário e atemporal Solitude Aeturnus). Seu extenso currículo ainda exibe diversas bandas, como o Concept Of God (que editou apenas um álbum em 2007, o excelente “Visions”); uma breve passagem pelo Last Chapter (onde registrou o ótimo “The Living Waters” em 1997), uma estadia de 5 anos pelo Candlemass (onde foi a voz de três lançamentos: “King Of The Grey Islands”, “Death Magic Doom” e “Psalms For the Dead” — em 2007, 2009 e 2012, respectivamente). Em 2017 Lowe se juntou ao sempre bom Tyrant e concebeu junto à banda o seu quarto registro, o épico “Hereafter”, lançado em 2020 pela Shadow Kingdom Records.
Quanto ao supracitado, GRIEF COLLECTOR, apesar de existir desde 2017, foi somente em 2019 com a entrada do também supracitado, Lowe, que o projeto começou a tomar formas solidas e a definir seus passos. Em 2020, a banda cujo alinhamento inclui o baterista Brad Miller (ex-Among The Serpents) e o guitarrista, e baixista Matt Johnson (Signs of Reign), lançou sua primeira prévia sonora, o ep “From Dissension To Avowal”; um belo mostruário composto por 06 faixas que se equilibravam entre o Epic Doom e o Sludge Metal. Finalmente nesse ano o trio deu vida ao seu primeiro full-lenght, “En Delirium”, via Petrichor (a responsável pelos relançamentos de “As The Shadows Fall” e “In The Electric Mist”; ambos clássicos do norueguês Godsend).
“En Delirium” mantém a lógica e também as mesmas ideias que foram previamente apresentadas no ep, porém, aqui, elas foram melhor lapidadas, aperfeiçoadas e definidas. As composições são sóbrias e sem lacunas ou exageros. A produção é lucida e nítida, mas não muito e nem deveria, produções cristalinas não combinam muito com Doom Metal e subtraem uma boa porcentagem de seu charme. Neste caso, ela favoreceu o repertório e ao modo como ele foi estruturado, o peso, as camadas melódicas, os solos e os floreios que volta e meia surgem, recebem a exata atenção que precisam. Não há devaneios ou sobreposições.
“Corridors” e “Wintersick” são exemplos formidáveis de como se abrir um disco de forma categórica; robustas, dinamicas e com aquela personalidade Doom que só Robert Lowe possui, a voz pouco perdeu de sua capacidade e alcance, ainda técnica, emocional e dramática como poucas. Os solos são precisos e sentimentais e é justamente disso que o genero se nutre, de sentimentos. “Our Poisonous Ways” é mais enérgica e oscila entre o Hard e o Heavy Metal — as linhas de bateria e os riffs são preciosos durante toda a execução da mesma. “The letting Go” segue a mesma didática da anterior, ainda enérgica e apresentando boas variações. O Epic Doom Metal em sua forma plena (peso e grandiosidade), surge nas três malhas seguintes: “When Sanity Eludes Me”, “Knee Deel In Devils” e “10 Days (Of Disbelief)”. Me abstenho de enumerar predicados nas mesmas, mas digo, é uma heresia não aprecia-las!
Sorrateiramente e de feições taciturnas, chega “Misery Mongers”; sua condução à miséria é feita não apenas por Lowe, mas também pelas linhas esparsas de baixo que vão sendo desenhadas durante seu desenvolvimento — prumo e apuro técnico. “Scorned Heart” é um tutorial de como se fazer Doom Metal com elegância e sabedoria; ou corre lento nas veias, ou não. Sem meios-termos.
A versão em vinil do registro se finda nela, porém, a versão digital traz mais duas faixas: a estupendamente épica, em todas as suas definições e proporções, “Then Comes Darkness” e o cover/medley de “Voodoo/Die Young” (Black Sabbath — dos incontestáveis clássicos “Heaven And Hell” e “Mob Rules”). Ambas registradas pela maior voz dentre todas as vozes; o miúdo de talento gigante e imortal, Ronnie James Dio. E só para sanar dúvidas, caso existam, a homenagem ficou impecável. A edição em CD (duplo) traz as duas faixas citadas mais o ep, “From Dissension To Avowal”.
Lançamento imperdível não apenas para os fãs de Doom Metal, mas para todos com bom gosto e aguçado paladar musical. E fica uma dica/apelo/sugestão, com tantos selos trazendo ótimos lançamentos para o Brasil, que algum se disponha a trazer esse registro com toda a pompa e qualidade já comuns às edições que saem por aqui.
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Bandcamp: https://griefcollectorpetrichor.bandcamp.com/album/en-delirium
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