“Menschenmühle” ou “Moinho Humano” em português, é o álbum de estreia do Projeto Solo Alemão de Black / Death KANONENFIEBER, tem como tema a Primeira Guerra Mundial, evento que devastou a Europa entre 1914 e 1918, alterando fronteiras e ceifando aproximadamente nove milhões de vidas no total. O próprio nome da banda está relacionado, pois pode ser traduzido como “Febre do Canhão”.
O responsável pelo conceito, composição e gravação de todos os instrumentos é o alemão “Noise”, que criou o projeto em 2020. Esse ano ele deu vida a outra One-Man Band, a LEIÞA, que produz Black Metal com veia melódica (Fique de olho na resenha do álbum “Sisyphus”, que também é excelente).
A Noisebringer Records, também alemã, lançou os CDs e discos de vinil, além de comercializar a versão digital.
A capa do play é muito interessante, retrata uma caveira gigante trajando uniforme militar, que utiliza uma pá para alimentar um canhão com pessoas (simbolizando os trabalhadores da época pré-guerra). Trata-se de uma propaganda antiguerra do artista húngaro “Mihály Biró”, ilustrada em 1912 e intitulada “All workers must protest the horrors of modern war” ou “todos os trabalhadores devem protestar contra os horrores da guerra moderna”.
O Black Death do KANONENFIEBER é melódico e épico, com toques modernos e alguns efeitos sonoros que agregam à atmosfera bélica (algumas gravações, discursos da época). As músicas foram compostas com base em fatos verídicos e testemunhos de participantes do conflito. Os vocais rasgados tendem mais ao Death Metal, e são carregados de ira e angústia.
“Die Feuertaufe” narra a chegada do soldado alemão ao conflito, cheio de expectativas e desejando defender a pátria, derrotando o inimigo francês.Uma abertura instrumental e atmosférica, sob a voz de um discurso da época, antecipa a tempestade Black Death que se abate, com impacto devastador, carregada de desespero, medo e fúria.
“Dicke Bertha” conta com ordens e relatos do campo de batalha, em meio a tiros de artilharia pesada, granadas de mão e rajadas de lança-chamas. O som tem pegada mais moderna, ótimos riffs e levadas em ritmo médio.
“Die Schlachtbei Tannenberg” a batalha de Tannenberg foi contra os russos, e vencida pelos alemães, inferiorizados numericamente. A música se inicia com batida militar, e acelera freneticamente. Uma passagem atmosférica com guitarras limpas assume, e prepara nova ofensiva contundente do instrumental e vocais. Belíssima faixa!
“Der letzte Flug”tem pegada Doom no início, com sons de aviões caça antigos ao fundo. Conta a história de um piloto que cumpriu sua última missão, seu último voo (título da música) em 1917, perecendo após o impacto do seu avião contra o solo. Som de ritmo médio e partes lentas (bem Doom mesmo), onde a carga emocional é exacerbada por grandiosos riffs melódicos.
“Grabenlieder” fala sobre o inverno nas trincheiras, um pesadelo para os soldados da Primeira Grande Guerra. É mais uma música que tem elementos modernos interessantes, as oscilações de tempos e rítmicas encaixam muito bem. Rajadas de metralhadora e os riffs das guitarras de “Noise” encontram-se e formam as “canções de trincheira” do título dessa ótima faixa.
“Grabenkampf” mantém a pegada beligerante em ritmo médio, com atmosfera épica perfeitamente construída. Trabalho empolgante de bateria, baixo e guitarras, tanto nas acelerações quanto nos momentos mais climáticos e reflexivos. Vocais excepcionais. Aqui a batalha homem a homem nas trincheiras toma forma, as ordens de atacar sob o apito dos comandantes envia milhares e milhares de soldados à morte. Melhor do álbum, espetacular para ouvir acompanhando as letras (use o google tradutor, ele quebra muito bem o galho).
“InsNiemandsland” fala da “terra de ninguém”, a área disputada que separava as trincheiras inimigas, e representava enorme perigo a quem ali se aventurasse. Som pesadão e melódico, com harmonias cativantes.
“Unterstandsangst” tem introdução soturna, triste, e caminha por um bom tempo irradiando tensão e melancolia, sob instrumental cadenciado e pesado. Os sentimentos de extrema ansiedade e angústia dos soldados escondidos em túneis e sob as proteções das trincheiras transbordam.
“Verscharrtundungerühmt”é acústica e curta, basicamente violão e dois vocais limpos. As letras contam sobre o destino de tantos mortos na guerra, onde o sofrimento iguala os inimigos, e em meio ao caos, muitas vezes os une em seu repouso final, lado a lado.
Excepcional estreia do KANONENFIEBER. Se o leitor gosta do tema Guerras Mundiais, é disco obrigatório. Fãs de HAILS OF BULLETS (HOL), MGŁA (POL), MEDICO PESTE (POL), DECAYING (FIN), 1914 (UCR) e MINENWERFER (EUA) deverão apreciar a obra.
Aduração total do Play é de50:37 minutos, e divide-se entre nove faixas. Tradução livre dos títulos entre parênteses:
1 – “Die Feuertaufe” (O Batismo de Fogo)
2 – “Dicke Bertha”(Bertha Gorda – “apelido dos militares alemães a um enorme canhão”
3 – “Die Schlachtbei Tannenberg”(A Batalha no Tannenberg)
4 – “Der letzte Flug” (O último Voo)
5 – “Grabenlieder” (Músicas de Trincheira)
6 – “Grabenkampf” (Guerra de Trincheira)
7 – “Ins Niemandsland” (Na Terra de Ninguém)
8 – “Unterstandsangst” (Fobia do Abrigo)
9 – “Verscharrtundungerühmt” (Enterrado e não reconhecido)
Destaques: Um discão. Recomenda-se, a título de destaque, a sexta faixa “Grabenkampf”. Tenho voltado a ela com frequência após escrever a resenha. Honestamente, o álbum vale muitas audições, e deverá soar ainda melhor com o tempo.