CD/EP/LP

VOID TRIPPER – Dopefiend (CD 2021)


VOID TRIPPER (Brasil)
“Doperfiend” – CD 2021
Abraxas Records – Nacional
9/10

Da qualidade efervescente apresentada nos singles: “Decaying State Of Mind” (2017) e “Black Roots Rising” (2018) até a excelência atingida no fabuloso “extended play” lançado em 2019, cujo sugestivo título é “Sabbath Worshipping Doom”. Um potente registro ao vivo, “Dead Inside… but Still Live” concebido no ano seguinte e finalmente, nesse ainda tão incerto 2021, o quarteto cearense de Stoner/Doom Metal, VOID TRIPPER, está de volta, mas desta vez não com uma degustação e sim, com um banquete completo — um apetitoso e substancial álbum chamado “Dopefiend”.

O disco foi produzido de maneira quase que totalmente artesanal, tanto que foi gravado em casa, com exceção de suas linhas de bateria que foram registradas no “Casa De Ensaio Studio”. Os retoques e polimentos finais foram concebidos por Rafaum Costa (músico e produtor potiguar) no Cosmos Art Studios. A arte perfeitamente encaixada ao alinhamento musical praticado, é assinada por Fernando JFL — cujos traços e a paleta de cores explorada, bem como suas tonalidades e nuances, definem com exatidão a personalidade da banda e de certa forma, ilustram o teor lírico do disco.

Cinco faixas estupendas que compartilham pouco mais de 36 minutos — um tempo até atípico para os “padrões” do Doom Metal, mas posso garantir que cada um desses minutos é precioso e necessário, sem qualquer espaço para prolixismo musical, embora, vez ou outra se permita ter algumas viagens, lapsos progressivos e psicodelias. Um disco que possui traços próprios e uma personalidade sonora bem definida, possuindo e exibindo influencias sem parcimônias, mas, por vezes, indo além das mesmas, principalmente quando atinge a medida exata entre as dinâmicas e evoluções do Stoner, o peso robusto do Doom e a hostilidade do Sludge Metal. 

“Devil’s Reject” abre o culto em meio a fumaça e a riffs poderosos, pesada e arrastada como manda a cartilha, dilatando-se em sua condução sinuosamente e maligna. Uma faixa perfeita para os palcos, para dopar e hipnotizar mentes ao vivo. “Burning Woods” emula tanto o Doom Metal (em seus primeiros estágios) quanto o Stoner em sua leitura moderna. O clipe (recomendo que vejam) aborda questões ambientais e o descaso para com as mesmas. Um bem-dado e mais que merecido tapa nas fuças de quem apoia e aplaude esse fac-símile falho de governante. Um disco ácido com críticas ácidas — perfeito! “Hollow” é pura peçonha sob a forma riffs e solos; visceral, maciça e azeda, com boas variações de andamento e arranjos sabiamente elaborados. “Satan And Drugs” é a faixa mais curta do trabalho, próxima aos 05 minutos, mas não inferior as demais, pois, caberia com exatidão em qualquer seminal lançamento dos anos 70 ou 80 — seja ele do patriarca de todos (precisa dizer o nome?) ou de seus primeiros rebentos. Entre atos espaçados, peso e minúcia, “Comatose” chega para cumprir o rito final, consagrando tanto o trabalho em sua totalidade quanto a banda por sua inspiração e esmero — emular Black Sabbath pode até ser simples, mas há uma linha tênue entre honrar o pai e o envergonhar. Aqui temos um pai orgulhoso, com certeza. Mário Fonteles e Anastácio Júnior (guitarras e vocais), Gabriel Mota (bateria) e Jonatas Monte (baixo) já podem respirar aliviados, sua parte na herança está garantida.

Uma coleção de ótimas composições que prestam um sólido e magnifico tributo aos anos 70, 80 e 90. Dos elementais saídos da industrial Birmingham, passando por todos os discípulos das décadas seguintes. “Dopefiend” é um trabalho para ser absorvido lentamente, sem qualquer pressa, seguindo o tempo que seus ancestrais musicais ditam. Ampliando horizontes e cultuando bons riffs; peso, brisa e sujeira como elementos essenciais de seu alinhamento. Um disco cuja substância esparsa, ultrapassa os limites do ouvir, traz criticas, reflexões e questionamentos. Música sinuosa, forte, com honestidade e veracidade, e isso por si só já é revolucionário, ainda mais nestes tempos estranhos de reverência, arreios e de pessoas felizes por serem novamente colonizadas.

Links:

Void Tripper: https://www.facebook.com/voidtripperband/

Spotify (álbum): https://open.spotify.com/album/15ikBLLY3i11b1iYhjAOst

Bandcamp: https://voidtripperdoom.bandcamp.com

Instagram: https://www.instagram.com/voidtripperdoom/

“Burning Woods”: https://www.youtube.com/watch?v=sYmQU5JsmrM

Abraxas: https://pt-br.facebook.com/abraxasevents/

Bruxa Verde Produções: https://www.facebook.com/bruxaverdeprod/

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