CD/EP/LP

1914 – Where Fear and Weapons Meet (2021)

1914 (Ucrânia)
“Where Fear and Weapons Meet” – CD 2021
Napalm Records – Importado
9/10

Os ucranianos do 1914 chegam ao seu terceiro álbum de estúdio, o recém-lançado “Where Fear and Weapons Meet” via “Napalm Records”, selo austríaco especializado em diversos subgêneros do metal.

O nome da banda representa o ano de início da Primeira Guerra Mundial, conflito de proporções monstruosas e que ceifou, durante seus quatro anos de duração, pouco menos de 18 milhões de vidas (quase dez milhões militares e mais de sete milhões civis).  

 Assim como nas obras anteriores, a banda continua explorando o tema com propriedade. No álbum atual, as letras narram o horror de passagens históricas e situações reais vividas pelos combatentes e pela população atingida, porém de um ponto de vista otimista, focando nos sobreviventes improváveis da carnificina generalizada.

 Além da temática, a sonoridade também permanece intacta: Blackened Death Doom Metal com boa carga melódica, e elementos sinfônicos muito bem-posicionados, sob forma de sintetizadores. A arte da capa é uma das mais bonitas e impactantes do ano, ilustrando a Morte, que se recusa a levar um soldado ferido entrincheirado, em meio a inúmeros corpos.

 War Iné a intro bem curtinha, trecho de uma música militar sérvia, do período da Guerra.  “FN. 380 ACP#19074narra o assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do Império Austro-Húngaro e de sua esposa, em Sarajevo (atual capital da Bósnia-Herzegovina) pelo radical sérvio “Gavrilo Princip”, fato que deu início à Guerra das Guerras. O som é um Blackened Death melódico super cativante, com teclados sobrepostos que dão uma textura única, e reforçam o caráter trágico e épico da faixa.

 “Vimy Ridge (In Memory of Filip Konowal)é um som mais voltado ao Doom, extremamente pesado e de ritmo médio. Narra uma ofensiva de forças canadenses em 1917 em território francês, que resultou em vitória árdua e custosa contra os alemães.

 “Pillars of Fire (The Battle of Messines)” soa extrema, com percussão brilhante, repleta de blasts e riffs ultra cortantes e extrapesados. Os teclados voltam a dar ênfase ao clima épico de batalha. Pode-se ouvir uma das 19 explosões gigantes que causaram a morte instantânea de mais de 10 mil soldados alemães na Bélgica, deixando crateras atrás das linhas germânicas. A sensação é traumática, de estar vivenciando, de fato, a linha de frente na terra de ninguém.    

 “Don’t Tread on Me (Harlem Hellfighters)” é uma faixa que celebra os bravos soldados afro-americanos que lutaram em solo europeu e receberam a Cruz de Guerra da França, em reconhecimento aos seus feitos. A música tem segmentos velozes dos mais vibrantes, com grandes riffs em tremolo e momentos bem cadenciados, com show do vocal e do batera, muito técnico e habilidoso.

 “Coward” é uma faixa acústica, narra o ataque de pânico sofrido por um soldado britânico, que foge da linha de combate, refugia-se e é perseguido pelo seu oficial comandante. Tem participação do músico folk ucraniano “Sasha Boole”. Funciona bem como um interlúdio.

 “…And a Cross Now Marks His Place” tem a valiosa participação do “Nick Holmes” (PARADISE LOST, BLOODBATH) nos vocais. Faz todo sentido que seja um som bem mais Doom, sujo e pesadão, mesmo nos momentos mais velozes. Aqui, a história é de uma mãe britânica recebendo a notícia do falecimento do filho soldado, cujos restos mortais não puderam ser resgatados, e que se encontram sepultados anonimamente, marcados apenas por uma cruz no local. A letra respeita o texto original da carta enviada àquela mãe, na época.

 “Corps d’autos-canons-miltrailleuses (A.C.M.)Talvez seja a mais Doom do trabalho, não só pelo ritmo arrastado, como pelo clima pesaroso e fúnebre. Os riffs são imensos, a percussão de pegada marcial, e os teclados amplificam a sensação de tensão constante. Fala sobre os soldados belgas enviados ao front oriental, combatendo sob comando do exército imperial russo.

 “Mit Gott für König und Vaterland” é estupenda, vibra com intensidade e oscila entre segmentos de alta velocidade e os de ritmo médio. O instrumental é preciso e encorpado, de boa técnica e rico em variações. O que esse batera toca é um absurdo. As guitarras e o baixo não ficam atrás, a banda está fase áurea e essa faixa é destaque absoluto. Aqui, o foco é o ponto de vista das forças germânicas, e do Império Austro-Húngaro (Tríplice Aliança).

 “The Green Fields of France (Eric Bogle Cover)” é um cover totalmente diferente e de resultado incrivelmente épico, com gaitas de fole. A música original é do escocês/australiano “Eric Bogle”. Trata sobre a futilidade da vida no campo de batalha da Grande Guerra.

 “War Out” é a instrumental que encerra o trabalho, trecho extraído de uma música da época.

 Estamos diante do melhor álbum do 1914 até aqui, banda segue progredindo e estabelecendo novos parâmetros. Certamente um prato cheio para fãs de metal extremo voltado à guerra e aos combates, como BOLT THROWER (ING), HAIL OF BULLETS (HOL), MINENWERFER (EUA), ENDSTILLE (ALE), KANONENFIEBER (ALE), TRUPPENSTURM (ALE), MEMORIAM (ING), DECAYING (FIN). Pelo nível elevado de qualidade do som, tem apelo até pra quem não liga para o tema, mas curte um Blackened Death muito bem-feito.

 Tracklist a seguir, tempo total de duração é de 63:27 minutos:

1 – “War In”

2 – “FN. 380 ACP#19074”

3 – “Vimy Ridge (In Memory of Filip Konowal)”

4 – “Pillars of Fire (The Battle of Messines)”

5 – “Don’t Tread on Me (Harlem Hellfighters)”

6 – “Coward”

7 – “…And a Cross Now Marks His Place”

8 – “Corps d’autos-canons-miltrailleuses (A.C.M.)”

9 – “Mit Gott für König und Vaterland”

10 – “The Green Fields of France (Eric Bogle Cover)”

11 – “War Out”

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