Setembrutal Fest: Orthostat (SC) Infernal Atröz (SC) Enslaver (PR) Zombie Cookbook (SC) Dismal Foresight (PR) Cülpado (PR) Horror Chamber (RS)
Onde – Magos Bar
Cidade – Rio Negrinho (SC)
Data – 14/09/2024
Fotos By – Allan
Fotos By – Neto (Horror Chamber/Enslaver)
Não é fácil para um cara que se recusa a ter um carro ou uma moto para se locomover, cair na estrada para apoiar o underground. A questão não é financeira, até porque hoje podemos financiar até 50 vezes. É o que o mercado capitalista quer que nós façamos e que sejamos escravos do sistema. Eu me recuso a me adaptar a eles. Eu sou da natureza, de uma vida saudável e do ciclismo! Então, para eu ir ao SetemBrutal Fest, na cidade de Rio Negrinho, na serra catarinense, foi um verdadeiro épico.
Sábado com tempo nublado e cinza, que depois virou uma garoa e frio. Sai de casa às 8 horas da manhã até a cidade próxima Porto Belo, e peguei um ônibus até Balneário Camboriú, infelizmente o blablacar que tinha reservado cancelou e não tinha mais outro para reservar, naquele horário e fui na rodoviária comprar uma passagem e o único ônibus do dia para Rio Negrinho já tinha saído. Fui almoçar e pedi outro blablacar agora até Joinville, e dela peguei outro ônibus até Rio Negrinho que, infelizmente, atrasou 50 minutos, mas cheguei ao Magos Bar, finalmente. A garoa se transformou em chuva torrencial e felizmente meu amigo Fábio Farofa foi me pegar na rodoviária! Não é fácil essa vida de “metalhead proletário”, mas comparado com o início dos anos 2000, hoje está até tranquilo com a facilidade da internet. Mas sem mais delongas, vamos falar de metal e do show, afinal é para isso essa resenha, não é mesmo?
Felizmente, com chuva e frio, um bom público compareceu ao Magos Bar para prestigiar um evento com grandes bandas do submundo sulista. Mais uma vez, a parceria de Bruce e a Necrovoid Produções com a família Magos Bar uniram forças e fizeram as coisas acontecerem. A última vez que fui ao Magos Bar foi em 2018 ou 2019 e a casa sofreu uma reforma e está mais aconchegante, sempre contando com o bom atendimento e simpatia da “família Magos”.
A primeira banda da noite a subir no palco foi os blumenauenses do Infernal Atröz, com seu fudido black thrash metal! Eu cheguei nas duas últimas músicas deles e, pelo que vi ali, eu realmente gostei! Os caras sabem o que fazem. O vocalista também tem postura, discursando e posicionando contra o fascismo e pregando união entre os headbangers, e que temos que valorizar as bandas do submundo brasileiro.
A próxima banda é o power trio da cidade de Maringá, (PR) que fez a alegria de todos que amam o velho Sepultura, inclusive eu. Provavelmente algumas pessoas vão dizer: banda para “viúvas do Max” e, mais uma vez, eu me incluo nisso. (Hahaha) Os garotos mandaram ver um set matador com músicas próprias e um cover, adivinhem para quem? O som próprio deles é uma mescla da fase: Schizophrenia,(1987), Beneath The Remains(1989) e Arise, (1991) e inclusive com letras de cunho social e falando das mazelas que sempre existiram no Brasil e continuaram existindo, infelizmente, em um país do terceiro mundo. O Power trio tem integrantes de Manaus (AM) e Maringá. (PR) Francisco Vitor, na bateria, Luís Vitor, no vocal, baixo e Peppe Gaspari, nas guitarras. A banda não é nova não! Estão na estrada desde 2015 e já têm vários materiais lançados: três demos tape e um split-CD, inclusive o Debut-CD “Side Evil” de 2020. Iniciaram a devastação thrash metal com Last breath, Blood Will follow blood, Insane mankind e Deathcurse. Que show contagiante e energético.
Era só fechar os olhos e imaginar o velho Sepultura no palco. Luiz Vitor, baixo e vocal, incorpora a figura do mestre Max nos vocais, no visual e inclusive usando a tradicional bermuda camuflada que virou moda nos anos 90, no submundo brasileiro, com tênis all star e pulando e agitando muito!
As guitarras com riffs poderosos, caóticos e insanos, e óbvio com um baterista que soca a bateria sem dó e sem piedade! E mandam: Afraidless, No regrets e Salvation. O público ensandecido com muitas rodas e apoiando muito a banda!
O que eu tenho e acho legal que os últimos shows na Santa Bela Catarina, como sempre cito nas resenhas é que tem uma nova geração frequentando o submundo e muitos garotos e garotas que tiveram oportunidade de ver uma banda que resgata a fase “clássica dos mineiros” e foda-se, se a banda é parecida com os mineiros! Não existe o The Troops Of The Doom? Claro que o The Troops… é uma versão mais técnica e profissional, mas não deixa de ser um resgate do velho “espírito do Sepultura”. Eu curti cada música, curti a técnica instrumental dos caras e são ótimos instrumentistas, diga-se de passagem. Mas é óbvio que algumas músicas soam demasiadamente Sepultura. E se eles quiserem ter um respeito e não só ser lembrados como: aquela banda que parece Sepultura, eles têm que fugir dessa influência. É o que eu sempre digo: influências fazem parte de uma banda, mas não podem ser meras cópias de seus ídolos. Até porque, capacidade técnica eles têm para criar um som próprio e identidade. Mas eu adorei o show dos caras!
O público presente também! A pista virou uma loucura! E o que já era uma insanidade, ficou pior ainda com as duas covers executadas por ele e adivinhem de quem? Sim, deles mesmos!? E desceram a lenha para as músicas Arise/dead embryonic cells. Perfeitamente bem executadas. Fechando o set com Behind the resistance. A banda é muito furiosa, riffs matadores, baixo poderoso, bateria rápida e destruidora, mesclando em seu som muito death thrash metal com alguns groove aqui e ali e tudo muito violento. Saíram do palco ovacionados e o público pedindo mais, mais um, mais um…
As cortinas se abrem e os cultuadores do brutal death metal da cidade de Maringá aparecem no palco e detonaram um furioso, técnico e agressivo metal da morte. Fundada ainda nos anos 90, o Dismal Foresight, já lançou várias demos tapes e o EP “Obscure Minds” (2008) e finalmente, de forma independente, lançaram o seu Debut-CD: Some Of Human Pains”. (2023) E os veteranos do metal da morte do Paraná, Marcão Dismal,(Holder) guitarras e vocal, Juarez Judas, no baixo e Fernando Trento, na bateria, fizeram alegria dos maníacos adoradores de verdadeiras lendas do death metal como: Malevoletion Creation, Death, Cannibal Corpse, Morbid Angel e Deicide. É claro, os caras já estão há muito tempo habitando o submundo e eles têm essas bandas citadas como referência e não uma mera cópia das mesmas, já que o Dismal tem sua identidade própria.
E o power trio focou sua apresentação mais nas composições do último lançamento de 2023 e mandaram ver: Darkness, Falsehood, Suffocated e Betrayal. Uma aula do velho e tradicional death metal com muita fúria e violência brutal e explícita. Riffs marcantes, brutos e ásperos. Com velocidade e técnica do baterista Fernando. Juarez segura com maestria os graves do baixo. E continuando com a violência com as faixas: Damn Disease e Closed Eyes. A banda no palco é mais concentrada e não interagiu muito com o público, só desceu a marreta com o brutal metal da morte. E os caras resgataram duas faixas de antigos lançamentos como: realidades, cantada, ou melhor, urrada, nos tradicionais vocais extremos que em algumas partes me remetem ao Glen Benton. Essa faixa eu acho que saiu em um EP chamado Underground Force – Live, de 2005. As duas últimas, shadows of the Wisdom, nome também da primeira demo tape lançada em 2005, e Anxiety, do último trabalho. A banda foi bem recebida e bem aplaudida pelo público presente. Uma ótima apresentação e mostrando como sempre: que o Brasil é o país onde o metal extremo nos enche de orgulho com ótimas bandas em todos os lugares do país.
Os cemitérios da região foram violados e uma horda de zumbis saiu de suas catacumbas e invadiu o Magos Bar e o palco ficou cheio de membros apodrecidos de crânios, pernas e braços, além de um cenário de palco que nos leva para um set de filmes de terror/Trash movie. O que deixou os mortos-vivos presentes muito felizes! E o que o Zombie Cookbook fez nessa apresentação e nessa noite foi algo inacreditável, violento e bruto! Que apresentação insana e louca!
A banda se apresentou sem um guitarrista que pegou “COVID” e não conseguiu subir no palco com a banda. Se o show foi insano sem “um zumbi” imagina se tivesse com o time completo… Quem não teve ainda oportunidade de assistir um show dos Zombie Cookbook, é uma experiência única. Os caras executam um “death Thrash splatter gore metal” violento, técnico, agressivo, e um visual com máscaras e vestimentas, como já citado mais acima, que remete para um set de um filme trash e de terror apocalíptico. O show deles é bem teatral, é uma insanidade pura!
A cortina se abre e os Zumbis surgem e começam sua apresentação. Tocaram músicas de todas as suas fases. Principalmente do último lançamento “Horroris Causa” de 2023. A sessão de canibalismo começou com a faixa que abre o último lançamento e que foi bem aceito pela mídia especializada. Horroris, tem um instrumental longo e com uma pegada de heavy metal com vocais cavernosos. A segunda música é Buried Beneath the Leachate, representando o EP “Dead Metal” de 2020.
O público zombie já estava todos dominados! E as primeiras rodas começaram. Mais uma pedrada do novo disco, 666th Den. Música com uma pegada thrash metal no início que logo em seguida cai em um death metal rápido e violento! Riffs matadores e bateria mesclando velocidades, cadência e agressividade. Agora era vez de resgatar uma música do Full Length e hoje um clássico do metal extremo catarinense. Estamos falando de “Outside The Grave” de 2012, e mandam a faixa: V.O.D.U.N. (Vile Odor of Decomposing Unborn Necropolis). Que destruição! E os zumbis voltam para o último lançamento e mandaram uma trinca matadora do último disco e toma martelada na moleira e muito sangue escorrendo e pus com as músicas: Formless… Twisted… Shapeless, Beauty in the Eyes e Dead and Breakfast.
O que vimos no palco é uma banda violenta, técnica e que sabe entregar um show caótico e do mais puro metal extremo! A bateria chama bastante atenção com sua pegada técnica e agressiva. O som deles, como já citado, tem uma mistura que passeia muito bem por vários estilos e sem soar chato, e essa mescla de estilo confere identidade ao Zombie Cookbook e também algumas passagens de punk na pegada da bateria e nos backing vocals. Se os amigos metalheads apreciam Dismember e toda aquela geração clássica do metal da morte sueco e vocais na linha de John Tardy, com alguns efeitos cavernosos e insanos, é certo que vão curtir muito os zombies de Joinville. As guitarras também fazem riffs incríveis e memoráveis. Com partes bem trabalhadas e acreditam no meio de toda essa loucura e agressividade, com bastante melodia.
E finalizando sua apresentação, mais duas faixas do passado: Motel Hell e In Sell The Dead. Motel Hell, faixa do EP do mesmo nome (2014) e In Sell… do clássico EP Cine thrash. (2010) Os zombies cozinheiros saem de cena muito ovacionados pela horda de mortos-vivos presentes e pedindo bis, pela falta de horário não rolou!
Quando as cortinas se levantam, surge no palco o grande Cülpado e eu gosto muito do trabalho deles! Porém, na correria do dia a dia, perdi algumas apresentações deles no submundo catarinense e confesso que estava ansioso para vê-los ao vivo, pela primeira vez. E os caras, com um visual com roupas pretas e com sangue espalhado pelo rosto, roupas e corpos, já chamam atenção pelo visual insano. Jeferson Verdani, no baixo e vocal, Allan Carvalho, na bateria e Divon Augusto, nas guitarras, começam sua apresentação com a faixa que dá nome ao Debut-CD, Romper da Realidade,(2021) Mato por Prazer e Maníaco Maldito.
Quem está inserido no cenário underground brasileiro já sabe do talento do Jeff como baterista, ele me surpreendeu como baixista e vocalista. O cara, realmente, é talentoso e seu vocal cavernoso e furioso é muito bom! E ainda é um frontman carismático, sempre trocando ideias com a plateia. O público já estava ensandecido na frente do palco. Nessas primeiras três músicas, o guitarrista teve problema com sua pedaleira e aos poucos foi acertado e aí, sim, a banda destruiu tudo! Dando sequência à sua apresentação, com Picadinho e um medley insano que casou bem Black Magic/Canibais de Garanhuns/Cortejo Fúnebre. Riffs excelentes, com uma pegada furiosa, agressiva, bases simples, mas com peso e melodias. Uma aula de thrash death metal e várias rodas foram abertas! Fechando o set com, Loucura a Dois, Pipoca, Sangue e Pólvora! Foi um show rápido, violento, insano e o público aplaudiu muito a banda!
Falar dessa galera do Orthostat é chover no molhado. Esses guris entregam um show poderoso, pesado, fúnebre, denso e carregado de uma energia negra e maléfica. Death metal mórbido, como tem que ser! Eles acabaram de fazer uma tour pelo sudeste do Brasil e abriram para o Headhunter DC e os italianos do Bulldozer, em São Paulo. Os arqueólogos do “deti metal catarinense” já eram afiadíssimos em cima do palco e muito técnicos, agora tocando direto, estão cada vez melhores. Executaram músicas de seu último trabalho, “The Heat Death”(2024) e uma do Debut-CD Monolith of Time de 2019.
O público presente agitou muito como sempre! Orthostat traz tudo que nós amantes de metal da morte gostamos, ou seja: riffs lentos, mórbidos, sorumbáticos, agressivos e demoníacos. Vocais guturais e cavernosos, com uma bateria com partes rápidas e cadenciadas e um baixo consistente e pesado. É incrível que o Orthostat traz tanto metalheads mais novos em suas apresentações, além de muitas garotas novas e também tem o respeito da velha guarda die hard que idolatram o verdadeiro metal da morte. A banda no feriado de 12 de outubro fechou uma mini tour pelo interior do Paraná, com três shows nas cidades de Maringá, Foz do Iguaçu e Londrina. Certeza que farão a alegria dos cultuadores do death metal. Saíram do palco ovacionados, mais uma vez!
A última banda da noite foi os gaúchos da Horror Chamber e o público resistiu até o final, para assistir ao show dos caras, mesmo o corpo cansado, pela maratona de shows e, diga-se de passagem, todos matadores, assim como foi dos Porto-alegrenses. Horror Chamber está na ativa desde 2004 com vários materiais lançados e o último deles foi lançado na véspera desse show, ou seja: na sexta-feira, 13 de setembro, de 2024, autointitulado: With Fire, Despair.
Felipe Pujol, na guitarra, Paulo Hendler, vocal e Guitarra, Rafael Kniest, na bateria e Alan Holz, no baixo. As cortinas sobem e o quarteto veterano do death metal gaúcho inicia seu show com a música: the unspeakable one, faixa do novo EP lançado nas vésperas do show em todas as plataformas. A próxima Prodrome, Burn e Beneath the chromatic veil. E tome death metal brutal e caótico! Simplesmente fudido!
E sem respirar e não deixar a bateria do público presente acabar, já mandam: A line between the will and demise. Mais uma nova composição, Twin Horrors ( single 2023 e que também é do EP 2024). Os gaúchos têm bastante influência dos conterrâneos deles: Krisiun, Nephasth, Rebaelliun e quem conhece a cena do Rio Grande do Sul sabe que as bandas gauchas gostam de som extremo, brutal e com vocais cavernosos. Porém, a Horror Chamber tem muita personalidade, técnica e sabe fazer um som próprio e brutal. Isso é Death Metal,porraaaa! Mais pedradas Edge of existence, do play Thoughts: The Slow Decay (2019) e Eternal torment, faixa que também dá nome ao disco lançado em 2016. Fechando o show deles com mais uma do último lançamento, With Fire, Despair que dá nome ao novo trabalho. Fim de show e que show, matador! A banda é muito técnica, profissional em cima do palco, ótimos músicos, mas temos que destacar o baterista Rafael com sua técnica absurda e violenta, e do baixista Allan. O cara toca muito e tem uma presença de palco insana com seu baixo e suas caretas. Mais uma vez, o metal e o submundo fizeram a alegria de quem ama o underground, que ama as bandas brasileiras e mesmo em um sábado frio e com muitas chuvas em Santa Catarina, saiu de casa para apoiar a nossa cena!
Como eu sempre digo: no underground, ninguém faz nada sozinho! O underground sempre foi uma cena de um apoiar o outro. Juntos, somos fortes! Quero agradecer ao Fábio Farofa, do Magos Bar, por se oferecer e me buscar na rodoviária com sua esposa e ainda bem porque estava chovendo muito! Agradecer também ao Marcelo Fagundes (Battalion) e sua esposa Luane, além do Bruce (Necrovoid Produção) por conseguir uma vaga na van de volta até Joinville e de novo ao casal Marcelo e Luane pela recepção em sua casa.
Underground sempre em frente e unido! Todos fazendo nossa parte, ele sempre será forte e eterno!