A banda catarinense de doom metal, PAIN OF SOUL acabou de lançar o seu terceiro full lenght, autointitulado “Gray Bird Melody” (2024), de forma independente e em breve estará saindo a versão física dessa obra-prima. Fomos conversar com a baixista Aline Bonates e ela nos dá mais detalhes sobre a banda.
Aline Bonates e Pain Of Soul, sejam bem vindos ao The Old Coffin Spirit Zine & Portal! Primeiramente gostaria de parabenizá-la, pelo lançamento do álbum Gray Bird Melody, é um ótimo trabalho! A banda pós-pandemia voltou com uma nova formação, não é mesmo? Da formação original ficou só o Joel Selbold (vocal gutural/Guitarra) e Daniele Martendal. (vocal) Como surgiu o convite para você entrar na banda e você já conhecia o trabalho deles?
Aline Bonates: Eu que agradeço pelo espaço e oportunidade! O convite surgiu após a saída do antigo baterista Luís, pois o Follmer que no tempo era o baixista da banda assumiu as baquetas no lugar do Luís e me fizeram o convite para tocar com eles. No primeiro momento foi um impacto, pois eu já era fã da banda e nunca esperava tal convite, pois nunca havia tocado baixo anteriormente! O que acabou sendo um baita desafio…
Ah, o Follmer saiu do posto de baixista e foi para bateria. Na mesma época, o guitarrista Mailon Bugmann entrou na banda. Como foi esse encontro de novos integrantes com o casal Dani e Joel, que desde os anos 2000 vêm lutando e levantando a bandeira do doom metal, pelo submundo? Você consegue lembrar como foi os primeiros ensaios?
Aline Bonates: Sim, o Follmer foi para a bateria e eu assumi o baixo, o Mailon entrou na banda em 2017… Os meus primeiros ensaios foram de adaptação, confesso que foi bem difícil, pois nunca eu havia tocado instrumentos de cordas, me dediquei muito, foram por muitos meses para poder chegar no momento de tocar em shows e de gravar o CD… Nesse meio tempo fomos tocando em algum shows e ensaiando muito para que ficasse legal para todos!!
Nossa, meus parabéns! Para quem nunca tocou instrumentos de cordas, você se saiu muito bem! Seu instrumento principal é o teclado, né? Enfim, o entrosamento com o Joel e a Daniele foi muito bom, então? Eu assisti ao show de vocês em Curitiba–PR no Doomdays Fest, com curitibanos do Eternal Sorrow e os paulistas do Helllight, e a Pain Of Soul matou a pau. Fizeram um show perfeito! Aliás, o que vocês acharam desse evento com três grandes bandas das sinfonias tristes?
Aline Bonates: Sim meu instrumento principal foi o teclado por longos 11 anos, hoje tocar baixo acaba sendo desafiador, mas estou me empenhando a cada dia para melhores resultados. O Doomsday foi incrível, pois tocar em um evento exclusivo com bandas do mesmo estilo é único… Foi uma honra para nós dividir o palco com a Helllight e Eternal Sorrow e ainda mais em Curitiba, o público compareceu em massa e foi muito receptivo!
Eu sou fã do Helllight, mas o Eternal Sorrow é uma banda que gosto muito! Aliás, os curitibanos foram a minha primeira entrevista que eu fiz lá em 1997 ou 1998, para o zine Azathoth do meu amigo Jeff Menzen,na época eu morava em Foz do Iguaçu, Paraná. A Pain Of Soul é uma grande banda, inclusive já lançou três materiais muito bons e na época do seus lançamentos foram muito bem recebidos pela crítica especializada e pelos amantes do submundo. A primeira demo tape Morpheus (2002) é um clássico da cena catarinense e infelizmente, um artefato raríssimo. E os álbuns oficiais de estúdio: The Cold Lament (2011) e The Rustle of the Leaves,(2013) são trabalhos com uma boa produção de estúdio , musicalmente bem elaborados e muito bem executados. A banda sempre teve muita capacidade para criar boas músicas. Mas é um fato que o novo disco Gray Bird Melody (2024) é um passo à frente na história da banda. Isso posto gostaria de saber o que você Aline e os novos integrantes agregaram na musicalidade da banda?
Aline Bonates: Com certeza cada integrante tem sua própria característica de tocar, seja na pegada, na cadência e muitas vezes na forma de composição… Acredito que cada integrante tenha contribuído de forma excelente e tenha feito o seu melhor na gravação do novo álbum.
Como foi surgindo as músicas para esse trabalho? Todos na banda contribuíram nas composições ou ficaram centralizados em um só integrante?
Aline Bonates: Sim, todos contribuiram nas composições das melodias e intrumentos em geral, nas composiçõies de letras todas são da Dani, exceto a Past Winters que é do Joel.
Pain Of Soul, sempre teve um som único e uma identidade própria. Mas nesse trabalho surgiu umas influências de heavy metal e umas passagens de violão que acrescentaram muitas qualidades para as composições e ainda também surgiram passagens de músicas árabes e que deixou esse álbum muito bonito e diferente dos outros trabalhos. De onde surgiu essas influências, de certa forma nova para banda?
Aline Bonates: Na real as influências sempre foram muito Candlemass, Paradise Lost antigo e afins, mas sempre tentamos deixar com a nossa própria identidade e sem muita aparência de outras bandas para assim termos uma característica mais nossa mesmo. Sobre as linhas de violão, o Mailon como um bom professor de violão clássico que é, não deixou por menos, levou muito à sério e maestrou nas cordas do Violão!
Agora falando um pouco da produção. O Sebastian Carsin é um grande produtor e suas produções são muito boas. Já trabalhou com várias bandas do Sul (Posthumous, Somberland) e outras bandas brasileiras só para citar algumas brasileiras e também com o Verthebral do Paraguai entre outras. Porque vocês o escolheram para a produção e gostaram dos resultados finais?
Aline Bonates – Temos muitos ótimos exemplos para falar quando se trata de produção pelo Sebastian Carsin, um desses exemplos é o dos nossos irmãos da Symphony Draconis (RS) que conhecemos muito bem e sabemos que foram ótimas produções e muitas outras bandas também… O Seba além de fazer um ótimo trabalho, ele entende o que faz, os ajustes finais nas composições das melodias sempre são muito sugeridos por ele e sem contar que é uma baita pessoa, se tornou um grande amigo e parceiro para nós.
Eu achei a produção espetacular! Em termos de músicas quais são as suas preferidas desse novo trabalho? Eu achei Gray Bird Melody, (2024) um dos melhores lançamentos da discografia da Pain Of Soul e com certeza estará na minha lista dos melhores do ano. O play é perfeito! As músicas que eu achei muito poderosas são: a faixa título que abre o disco, Beam Of Light e Madness Maze, que trinca matadora! Mas tem outras que me chamaram muito atenção! Pharaoh’s Funeral é uma delas por ser um pouco diferente do que ouvimos na banda por ter algo mais puxado para o heavy metal tradicional, no instrumental e com um solo maravilhoso.
Aline Bonates: Particularmente gosto muito da Serenity e Past Winters. Os arranjos são lindos na Serenity, sem contar o solinho do baixo e da seguitarra… Já a Past Winter é muito emocionante ouvir as duas vozes juntas, a Dani com o lírico e o Joel com o gutural por trás da voz dela, é de arrepiar!
Outra coisa que me chama atenção é a capa. Quem foi o artista que criou a arte? Eu estou tentando decifrar aquele pássaro aprisionado na gaiola com o título do álbum “Gray Bird Melody” e não cheguei ainda há uma conclusão final. Mas seria algo como: se o pássaro fosse os integrantes da banda querendo se libertar da gaiola e das amarras radicais, que não apoiam, e não curtem o estilo de música mais arrastada e melancólica e o ‘cantar melodias tristes” para todos os metalheads já que no Brasil o doom gothic metal não é um estilo tão bem aceito no submundo, infelizmente. Faz algum sentido essa minha teoria ?
Aline Bonates: A arte da capa foi feita pelo artista Marcos Marques. Não, não tem a ver com os integrantes e ele está só, e mesmo assim canta… um canto de tristeza para ele, mas de uma beleza extraordinária para quem contempla sua melodia. Triste, porém bela!
A banda lançou esse novo trabalho independente? Por enquanto já está disponível nas plataformas de streaming e obrigado por vocês disponibilizá-lo! Segundo eu fiquei sabendo sairá físico no ano que vem em 2025. Vocês já têm alguma proposta de algum selo ou vão lançá-lo na raça mesmo por vocês ?
Aline Bonates: Sim, foi independente! É sim, será lançado em 2025 e já temos proposta para lançarmos em parceria com um selo bem conhecido da cena, mas isso saberão no lançamento!
Nas resenhas que eu fiz troquei sem querer o nome da música que ganhou um videoclipe. Como rolaram as gravações para “Beam Of Light” ? Vocês gostaram dos resultados finais?
Aline Bonates: Sim, foi muito boa a aceitação e repercutiu muito bem! Estamos muito felizes!
Já estamos no final do ano e gostaria de saber os planos para 2025? Como anda a agenda de shows para o próximo ano?
Aline Bonates: Em Fevereiro faremos um evento em comemoração aos 25 anos da Pain of Soul, já temos o cast pronto e dentro de alguns dias iremos divulgar. O que ainda posso falar é que contará com 4 bandas e será na Wox em Pomerode. Fora isso, ainda não temos agenda para 2025.
Olha que notícia boa! Aline, como você já disse, não tem nada ainda agendado para 2025, fora esse evento em fevereiro. Você é de Manaus (AM) se não me falha a memória, né ? E você tem bastante contatos no Norte e Nordeste do Brasil e existe a possibilidade da Pain Of Soul fazer uma tour no futuro por eessas regiões do país ?
Aline Bonates: Sim, sou de Manaus. Existe sim a possibilidade, aguardamos contato de produtores para possíveis parcerias, seria fantástico!
Recentemente vocês tocaram em São Paulo e como foi a recepção dos paulistas para o doom metal da Pain Of Soul?
Aline Bonates: Foi fantástico, um dos melhores shows que já fizemos. A galera pediu música, cantou junto e apoiou muito no merchandising… A Dani e o Joel disseram que foi o melhor em 25 anos, é muito compensatório ver a galera acompanhar as letras das músicas e ver a emoção deles!!
Essa pergunta vai para o Joel e a Dani. Gostaria de saber como foi a tour que a Pain Of Soul fez em 2011 se não me engano, junto com os catarinenses da Sodamned, pelo velho continente? E quais países vocês passaram?
Joel Sebold: Em 2011 o Felipe estava “emprestado” para a Sodamned, e eles estavam fechando uma euro tour… conversamos e chegamos à conclusão que seria uma experiência incrível, além de haver a divisão dos gastos… Foram 30 dias inesquecíveis, tocamos em casas muito boas, conhecemos lugares memoráveis… o público nos recebeu muito bem, e inclusive mais para o final da tour, a banda Vometro (SP) também dividiu palco conosco. Alguns shows foram agendados através da agência Insano, e outros pelo nosso motorista, Vladimir, da Croácia. Recebemos desde cachês até a experiência de “passar o chapéu” enquanto cada banda tocava para juntar dinheiro e nos manter ao longo dos dias. Portas se abriram, inclusive tivemos a oportunidade de conhecer Harris Johns, em Berlin, o que acabou culminando com a gravação do cd “The Rustle of the Leaves” com ele.
Aline, como já citado você morava em Manaus e agora mora no Sul do Brasil. Só não sei se é na capital gaúcha ou em Blumenau.(SC). Como foi a sua adaptação por aqui? E como você vê a diferença entre as cenas do Norte/Nordeste, com a do Sul do Brasil?
Aline Bonates: Sim, vim morar no Sul em 2020 e atualmente moro em Blumenau/SC. A minha adaptação foi muito boa, fui muito bem recebida pelos amigos do metal e já até gosto quando o clima fica mais friozinho!!! Falar da cena Norte/Nordeste será sempre um orgulho para mim, primeiro por ser do Norte, também por ter morado no Nordeste e ter muitos amigos lá. A cena lá é muito forte, muitas bandas boas e com aquela antiga essência do metal negro, minhas maiores inspirações na hora de compor são de bandas da minha cidade natal Manaus e também de algumas do Nordeste, aquele arrepio de ouvir as músicas das bandas de lá sempre acontece, é um povo com muita garra, com muita honra e principalmente muita honestidade!!! Eu sempre serei suspeita em falar do Norte e do Nordeste.
Sim, eu também adoro e respeito muito a cena do Norte/Nordeste. Gosto de muitas bandas e zines dessa região e tenho contatos com muitos bangers que não esqueceram os velhos clichês do metal, mas evoluíram com o mundo atual. Você era tecladista na banda de black metal chamada: Sons Of Satan Lembro quando li uma entrevista sua no Pecatório zine de Teresina-PI, do nosso amigo Carlos “Nephasthorm” Soares. Lembro que pensei: esse nome me remete ao Amen Corner. E na entrevista você citou que o Sons Of Satan era influenciado pelos paranaenses. Sempre tive curiosidade de ouvir o som de vocês. Como anda a banda hoje em dia? É difícil conseguir material do Sons Of Satan?
Aline Bonates: A banda se chama Sons of Satan, sai da banda entre 2017/2018 e passei longos 11 anos tocando com eles até sair, mas a banda já existia desde 2005, foi um tempo bem legal onde pude amadurecer com música e conhecer muita gente também! A Sons of Satan gravou um cd demo chamado Encantos Libertinos, está disponível no spotify e demais plataformas digitais, chegamos a lançar material físico na época mas não sei se alguma distro ainda tem alguma cópia perdida por aí…Hoje em dia não sei dizer se estão na ativa…
Como você vê atualmente a cena underground nacional? Algumas bandas têm chamado a vossa atenção e poderia compartilhar com nossos leitores o que você tem escutado e tem o vosso apoio?
Aline Bonates: A cena tem evoluído bastante, muita gente empenhada em divulgação, páginas como Lux fex Magazine, Loudness Videocast e todos os outros canais de comunicação tem expandido muito a divulgação das bandas… Bem como todos os zines que representam muito bem, inclusive o seu… é difícil citar nomes neste momento, pois são tantos e não quero correr o risco de esquecer de alguém! Ainda sobre a cena, os shows tem acontecido em massa em todas as regiões do Brasil, ótimos produtores fazendo acontecer e honrando com o compromisso do início ao fim, isso me deixa muito feliz! Eu tenho escutado muito as bandas Pactum, Labar Oculto, Alocer, Symphony Draconis, Pantáculo Místico, Do Fundo Abismo, In Nomine Belialis, Denied Redemption, essas sempre estão na minha playlist… e tem mais, só não dá tempo de pôr todo mundo aqui rsrsrsrs… Destaco ainda a banda Finita de Santa Maria-RS, estão com uma baita proposta, músicas muito bem elaboradas e tudo com muita qualidade, tive a oportunidade de vê-los esse ano em Blumenau/SC, foi foda!! Também não poderia deixar de falar da Deep Memories, essa eu escuto quase todos os dias, sou muito fã deles, as composições são coisas de outro mundo, da onde que surge tanta inspiração, né?! Pra mim a melhor banda do Brasil atualmente, é uma perfeição sem tamanho!
Realmente a banda gaúcha Finita é muito boa mesmo. Vi o show deles esse ano em Florianópolis, na abertura dos gregos da Nightfall e foi muito bom mesmo e me surpreendeu. Inclusive peguei os materiais físicos deles também. Aline, seu background é mais voltado ao black metal até por sua primeira banda ser deste estilo. Porém, hoje você toca em uma banda de doom metal atualmente e gostaria de saber de você, quais são os três álbuns essenciais dentro do black metal e também dentro do doom que te influenciaram? Sei que só três álbuns é pouco, mas o intuito é esse mesmo? (Hahaha)
Aline Bonates: Os álbuns de Black Metal que mais me influenciaram na vida foi o Host do Inferus, Odes ao Oculto do Hecate e Nas Sombras de Boêpea-Ponim do Desejo Impuro… Já no Doom Metal por ordem de mais ouvidos e que mais contém minhas inspirações é Astral Door Ways do Oráculo, Remembrance do Silent Cry e claro o Rebuilding the Future do Deep Memories.
Chegamos ao fim desse bate-papo, Aline! Obrigado por ceder seu tempo corrido a nós do site The Old Coffin Spirit Zine. De novo quero parabenizá-los pelo ótimo disco lançado esse ano e suas condecorações finais. Obrigado e força -Sempre!
Aline Bonates: Eu e a Pain of Soul estamos muito lisonjeados e gratos pela oportunidade. Agradeço por poder falar sobre a banda e compartilhar um pouco da minha trajetória pessoal na cena underground. Em um mundo onde a internet domina a propagação de informações, fico muito feliz que ainda existam zines como o The Old Coffin Spirit, pois a essência nunca deve morrer. Sei que suas matérias e entrevistas são confiáveis e têm fontes seguras! Parabéns pelo excelente trabalho e por continuar levantando a bandeira do nosso underground.