Melissa Rainbow é uma das entidades mais ativas e criativas dentro da camada sonora em que habita — o Doom Metal — como base e em suas incontáveis e dispares ramificações. Dentre suas valorosas contribuições para a vertente, digamos, mais arrastada e suja do Heavy Metal estão, o sombrio e denso Dirty Grave; o Mães Morrendo (projeto solo que é simplesmente ótimo), Enxofre (duo de Black/Death metal totalmente primitivo e insalubre), Temple Of The Bloody Sun (onde investe num Stoner/Doom categórico) e o Tragedies (também um duo, mas que navega sobre os abismos do Funeral Doom). Quanto a esse último, recomendo a audição do trabalho de estreia, o ep intitulado “Just Silence” que foi lançado pelas sempre prestativas Eclipsys Lunarys Productions e Anaite Records.
MELISSA é seu mais recente projeto, e é composto por um time de peso dentro da cena “chapada”: no baixo, Anderson Vaca (Pesta, The Evil), na bateria, Henrique Lima (Black Feather Klan e os já citados, Dirty Grave e Enxofre) e nas guitarras, o também Dirty Grave, Pedro Barros. Sua primeira lenta maldição foi lançada em maio sob a forma de “Devil’s Mask”.
Sob os critérios e moldes sonoros, pode-se dizer que a Melissa investe sem piedades no tradicional, cru e orgânico, sem exibicionismos ou invenções, tudo é estruturado de maneira honesta e o mais arcaica possível. A produção tem aquela poeira e odor dos registros seminais do estilo, algo entre o mofo e vela derretida; cheira a antiguidade, mas segue a máxima do vinho, não envelhece, acentua e encorpa o sabor. A capa, uma cortesia — uma cena do clássico “La Maschera Del Demonio”, filme do mestre Mario Bava, lançado em 1960. Um envolvente conto gótico que se passa na Romênia, com direito a tudo que um bom filme de terror deve ter: bruxaria, vampirismo e aquilo que foi uma das provas da não evolução humana, a inquisição. Interessante notar que as tensões do filme parecem que foram transportadas para o disco, há uma cortina de horror e mistério que simplesmente envolve todas as composições, tornando-as ainda mais atraentes e viscosas.
“Perfect Soulmate” é peso lento; robusta e precisa em suas linhas de baixo e bateria, a atmosfera transita entre o suspense e o lúgubre. “Buried In A Body” segue a mesma medida e tônica, ainda taciturna, embora concisa. Por sua vez, “Swallowed By Blame”, que foi previamente lançada como single, devolve o azedume ao disco, com Melissa guiando o ouvinte a uma espécie de galeria musical repleta de amargor, temor e lamentação. “The Fire Eats”, a faixa sucessora, mantém o humor depressivo e desesperançoso. O instrumental, ainda que rico e bem forjado, não se altera muito conforme a audição avança, na verdade, o que mais se destaca são as atmosferas que sempre lamuriosas, vão se acentuando. “Pulse” é um instrumental e faz-se de guia à faixa título, incumbida de dar fim ao culto ao mórbido. O grande destaque (para mim, claro), é a quinta malha, “I, The Witch”. Essa sim uma legítima trilha de filme de terror; aquele tipo de composição cujo clima é tão denso que se torna palpável — cinza, angustiante, assustador.
O Doom Metal nacional continua surpreendendo, produzindo e satisfazendo tanto os amantes do genero por aqui quanto os fãs de outros países, isso fica obvio pela excelente recepção que os materiais vêm recebendo. Melissa (banda) é mais uma representante de peso dentro da cena — e “Devil’s Mask” desde já pede por um sucessor. Quanto a Melissa Rainbow (e demais envolvidos), que prossigam criando bandas e projetos, fazendo a “alegria” dos aficionados.
Que algum bom selo lance esse trabalho quanto antes, formatos digitais são bons e cômodos, mas um disco desse nível precisa de versão física!
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