Dobradinha do Metal- Krisiun (Brasil) Pentagram Chile (Chile) Voorish (Brasil)
John Bull Pub – Florianópolis/SC
20/11/2024
Fotos By – Lorena (Loh)
Apesar de ser quarta-feira e ser feriado, dia 20/11, dia da Consciência Negra, na quinta-feira a vida volta ao normal com o corre do dia-a-dia, e principalmente para quem é proletariado, né?
E para piorar, a quarta-feira amanheceu chovendo e mesmo assim, me joguei para Florianópolis–SC e daquele jeito: ônibus, BlaBlaCar e ônibus de novo e finalmente cheguei ao John Bull Pub na Lagoa da Conceição, um lugar lindo e bucólico. Eu tinha me programado para fazer um turismo durante o dia e estava a fim de conhecer Santo Antônio Da Lisboa, um lugar lindo e com uma arquitetura que remete à cultura açoriana, um dos primeiros bairros ou vila, na cidade que chamava Desterro e depois tornou-se Florianópolis. É um lugar com muitas paisagens lindas e com uma natureza exuberante, com uma culinária açoriana e especializada em frutos-do-mar. Quem estiver por Floripa e quiser conhecer fica a dica.
Infelizmente, a chuva não deixou eu retornar a Santo Antônio e fiquei no centro tomando um chopp no mercado público e dando um rolê pelo centro da ilha da magia até dar o horário para partir para o show.
A Lagoa da Conceição fica retirada do centro há cerca de 19 quilômetros e o sistema de ônibus funciona muito bem. Cheguei cedo no John Bull Pub lá pelas 18 horas e estava marcado para abrir suas portas às 19 horas, e realmente funcionou tudo certinho no horário.
Quando entrei na casa, me assustei e não tinha quase ninguém. Exatamente pela distância do centro e da chuva. Mas aos poucos o público começou a chegar. Às 20 horas, os manezinhos da ilha da magia representando a cena local abrem o evento. Voorish fez um grande show e executou um black metal muito bem feito e uma performance de palco muito boa!
A banda com um visual carregado com as indumentárias que resgata o velho espírito do metal negro dos anos 90 com Corpse paint, pentagramas e roupas pretas, animou o pequeno público presente. O Voorish é uma banda relativamente nova, surgiu em 2021 em Florianópolis, com integrantes experientes que já passaram por bandas da cidade como Red Razor, Ranging War e Toxic Rotten e encontraram nesse novo projeto uma forma de expressarem seus desejos mais macabros e o black metal abriu as portas para tratarem de ocultismo, misantropia e repulsão aos dogmas cristãos.
A banda é formada por Devil from Chaos no vocal, Servus Inferni na guitarra, Scepticismi Defensoris no baixo e Umbra Entitatis na bateria. E os caras iniciam sua celebração com a faixa que abre o seu full length lançado recentemente em 2024, chamada: “Prey” e seguem com “Satan’s Fall” e “Right”. A banda é muito foda e executa seu metal negro com aquela pegada dos anos 90, misturando partes rápidas e com momentos cadenciados e muita fúria e agressividade. Conforme o show dos representantes do black metal, nesta noite no palco do John Bull Pub, ia rolando, o público ia chegando na casa e todos curtiram o som dos caras.
E mandaram: “Dark Ages” e “Over My Hands”, chamando atenção do público presente com guitarras bem pesadas, baixo pulsante e uma bateria segurando o peso e com passagens rápidas e lentas. Antes de fechar o set, o vocalista “Devil From Chaos” agradece o público presente e diz: Somos uma banda de black metal aqui da cidade de Floripa. Ou seja: apoiem suas bandas locais. Fechando com “My Feelings”, o vocalista tem uma presença de palco muito poderosa e furiosa. É o segundo show deles que eu assisto e é nítido que os caras estão no caminho certo e evoluindo muito suas apresentações. Agora tenho que correr atrás do full length que me instigou a ouvi-lo com atenção.
A segunda banda da noite eram os chilenos da lendária e veterana Pentagram Chile. Por existir o lendário Pentagram americano, acrescentaram Chile para diferenciar dos americanos.
Eu procurei e pesquisei bastante e não achei nada referente se os chilenos já tocaram no Brasil. Então, acredito que essa tour com o Krisiun é a primeira vez deles em solo brasileiro. O quarteto dos subterrâneos chilenos é composto pelo membro fundador, Anton Reisenegger, vocal e guitarra, Juan Pablo Uribe, guitarra, Juan Francisco Cueto, no baixo e Juan Pablo Donoso, na bateria. E os hermanos chilenos entregaram um fudido e matador show! Quando eles subiram no palco, a casa já tinha recebido um bom público e muitos ali nunca ouviram falar ou sequer já tinham escutado o death thrash metal do Pentagram Chile e ficaram um pouco tímidos com a fúria e agressividade dos chilenos.
O quarteto, que saiu das catacumbas dos subterrâneos chilenos, começa sua apresentação com uma intro e já mandam “The Imbunche” música que abre o último disco “Eternal Life Of Madness” de 2024, que saiu pela Listenable Records. É uma faixa com riffs e bases bem trabalhadas e começa com uma pegada thrash e depois cai em um death metal mais técnico e com um solo maravilhoso. E seguem com “Profaner” e antes de tocá-la Anton, vai até o microfone e apresenta a banda que está fazendo 40 anos e diz que eles estão muito felizes de estarem fazendo essa tour pelo Brasil e agradecem o convite do Krisiun. “Profaner” já inicia com um riff furioso e um vocal cavernoso. A música tem uma vibe na linha Celtic Frost e mesclando com momentos rápidos e agressivos. Sem respirar, já mandam Demented que é mais thrash metal rápida e furiosa. O som dos caras é carregado de riffs furiosos, consistentes e conseguem inserir umas passagens com grooves, que deixam sua música mais mortal e contagiante. É incrível como as bandas dos anos 80 tinham o dom de criar riffs e bases que grudam na mente. O Pentagram tem muito dos primórdios do Slayer, Sepultura, antigo, Possessed, Venom, Death e Celtic Frost, mas com uma identidade própria e a fúria do metal sul-americano com aquela maldade e aquela violência típica das bandas de nosso continente.
A próxima “Demented” e “La Fiura”. A primeira é um death metal com partes mais cadenciadas e outras partes rápidas e muito peso e maldade! Antes de mandar “La Fiura” Anton diz: que no meu país é assim que chamamos as mulheres que não chamam muita a nossa atenção. Era nítido que ele e seus asseclas estavam muito felizes de estarem ali no palco do John Bull Pub e tocando para a raça de Floripa. “La Fiura” é mais rápida, mais agressiva e os vocais de Anton tem umas influências de Max Possessed e Chuck Schuldiner e claro que instrumental traz aquele saudosismo do velho metal dos anos 80, onde não existiam subdivisões e tudo era metal e o que importava era devoção ao som pesado e ao submundo, com muita agressividade e bons riffs.
A próxima é “Evil Incarnate”, que música fodaaa! Já no início, ela começa com um instrumental e um riff que vai na linha dos alemães do Running Wild e aquele clima heavy metal e depois cai em um furioso metal da morte com um refrão que fica em nossa mente é viciante: Evil, Evil, Evil…Incarnate!
E sim, lembra o velho Death! Simplesmente magnífica essa música! E vamos para a parte final dessa aula de amor ao metal e ao underground.
Mais uma vez, Anton agradece ao público presente e pede uma salva de palmas ao Krisiun e o público já estava familiarizado com os chilenos e curtindo muito o show deles, responderam ao seu pedido! Rola mais uma intro e uma trinca destruidora de um metal negro furioso, com pegada e muito feeling. Tome cacetadas na cabeça com as músicas “Fatal Predictions”, “Possessor” e “Demoniac Possession” e fim de show!
Eu escuto o Pentagram do Chile há algum tempo e nunca imaginaria vê-los ao vivo e no portão de casa praticamente. E que show perfeito, para quem gosta, admira e é fã daquele metal com o espírito sujo, imundo e cheio de amor ao underground. Ver os demônios chilenos ao vivo nos traz aquele espírito que não existe mais nos dias de hoje é está tudo bem, afinal o mundo mudou e nós temos que nos adaptar a ele. Felizmente, o que não mudou e sempre vai ter bandas antigas levando até as novas gerações esse metal enegrecido ou quando elas não estiverem aqui mais, sempre vão existir outras bandas contemporâneas resgatando o velho metal e pagando um tributo para as lendas do passado!
Os caras entregaram um ótimo show, com muita fúria, paixão, respeito pelo público e alegres por estarem no Brasil.
Para fechar a noite, o power trio mais poderoso, furioso e destruidor do death metal, a máquina de guerra Krisiun. Os irmãos Kolesne destruíram como sempre! Técnica, brutalidade, simpatia e devoção ao metal da morte. O Krisiun merece estar onde eles estão, no topo do submundo e levando o metal extremo brasileiro mundo afora.
Eu já vi o Krisiun muitas vezes em Santa Catarina e a primeira vez foi no saudoso River Rock Festival na cidade de Indaial, em 2002, e de lá para cá sempre que posso vou vê-los, e o trio gaúcho nunca decepciona! Sempre é uma experiência única e que nos deixa de boca aberta ver tamanha brutalidade e técnica em suas apresentações. A banda subiu no palco e já mandou um clássico do disco que mostrou eles para o mundo e executaram “Kings Of killings” do grandioso “Apocalyptic Revelation” (1998), meu primeiro contato com a brutalidade chamada Krisiun. Para mim, “Apocalyptic Revelation” é uma obra-prima dos gaúchos. E a casa já estava com um ótimo público e todos apoiando a banda do início ao fim. E a banda destilando brutalidade, fúria, peso e mandando cacetadas como: “Hatred Inherit” e duas músicas do último lançamento, “Morten Solis” (2022) e dá-lhe “Serpent Messiah” e “Necronomical”. Na pista, o público estava agitando muito e os primeiros mosh pit se abriram e virou uma insanidade, uma loucura! O power trio sabe fazer um ótimo show e sabe cativar seu público. Afinal, os caras já estão na estrada há muito tempo, fazendo shows direto pelo Brasil, América do Sul, Estados Unidos e Europa, com muito profissionalismo e atitude.
Respeitam seu público e o vocalista e baixista Alex Camargo, sempre interagindo com seus fãs e pedindo para agitarem e cantarem com a banda. Krisiun é foda! E a pancadaria continua com: “Soul Devourer”, “Blood of Lions”, “Endless Madness Descends” e “Vengeance ‘s Revelation”. Sem dúvidas nenhuma, os irmãos tocam muito. Moisés é um guitarrista técnico, furioso, riffs e bases absurdas e toca muito rápido. Alex, e seu baixo soa poderoso, estrondoso, consistente e seu vocal gutural é único. Mas não tem como não comentar isso da banda, cada um é um elemento para fazer a máquina de guerra funcionar e ser devastadora, mas sem dúvida Max Kolesne atrás de seu kit de bateria, é o combustível que faz o tanque de guerra funcionar. Realmente, suas batidas, sua brutalidade, sua fúria aliada com sua técnica, fazem ele ser um músico incrível e ele é muito focado, muito concentrado no seu trabalho. Suas batidas são furiosas, é uma metralhadora atirando e derrubando os posers sem piedade!
E seguimos para o final do show e a banda mandou outras cacetadas e o público, possuído pela apresentação da banda e no final das canções, gritando: Krisiun, Krisiun, Krisiun… era nítida a felicidade dos músicos pela ótima recepção dos “manezinhos da ilha da magia”. Moisés até fez uma introdução na guitarra, tocando uma milonga gaúcha. Música tradicional gaúcha e Alex também fez uma introdução ao Black Sabbath com “N.i.B” e Max fez um solo de quase dois minutos mostrando realmente o que ele sabe fazer.
E segue com “Combustion Inferno” e Alex vai até o microfone e diz: vamos prestar uma homenagem para uma lenda do metal mundial que nos deixou recentemente e mandam o cover do Iron Maiden, para Wrathchild da fase Paul Di’Anno, e o público aplaudiu muito fecharam com o clássico “Black Force Domain” e o organizador do evento em Floripa, Priska subiu no palco e fez os backing vocals com Alex.
Fim da apresentação, a banda saiu do palco muito aplaudida e o público entoou mais uma vez Krisiun, Krisiun…
Parabéns, para os organizadores, o evento funcionou muito bem. A casa abriu na hora marcada. Atendimento ótimo e organizado, funcionários atenciosos e prestativos. As bandas subiram na hora marcada. Eu não conhecia ainda a casa e o John Bull Pub é uma casa bem aconchegante e bonita, com ótimos banheiros e limpos, um bar com cerveja gelada e bom preço, e o principal: o sistema de som perfeito! Mas para nós ainda é estranho ir a um show de metal underground em uma quarta-feira, e pior para mim que moro a 60 km da capital catarinense, mas também é muito bom ver um evento ter hora marcada para começar e finalizar!
Ou seja: às 23h os irmãos e irmãs que cultuam o submundo, que saíram debaixo de chuva para apoiar o underground, já estavam voltando para casa felizes com um ótimo show de metal extremo no seu currículo. Eu mais uma vez volto a enfatizar: o underground ainda mantém aquele espírito de devoção, união e parceria que sempre existiu no underground e tenho que agradecer ao amigo Fernando Camacho e ao Guto, pela carona de Floripa e me deixaram na porta de casa. Valeu pela ótima conversa! Ah, o Fernando é o Big Boss do selo Black Hole Productions, de Joinville–SC. Para quem tiver interesse e gostaram do show do Pentagram Chile e quer material dos hermanos a Black Hole lançou recentemente no Brasil o último disco deles: “Eternal Life Of Madness”.