HELLLIGHT – “Until the Silence Embraces” (CD 2021)

Os memoráveis solos de guitarra — as atmosferas épicas e majestosas, embora sombrias e melancólicas; a voz potente e emotiva de Fabio De Paula. Peso em contraste com alguns delicados arranjos que se dissolvem ao longo do impecável repertório. A excelência não envelhece, ela se acentua, ganha mais corpo e definição. Excelência essa que, uma vez mais se faz presente no trabalho tão meticulosamente desenvolvido pelo expoente maior do Funeral Doom Metal brasileiro, o HELLLIGHT. “Until The Silence Embraces” — o sétimo álbum de estúdio da banda é a prova de que sua genialidade emotiva passa longe saturação ou repetição de ideias, muito pelo contrário, tudo no novo álbum se converte em magnitude e em experiências sublinhadas por emoções profundas e conflitantes.

A tradução em imagens foi novamente entregue nas mãos do competente Rodrigo Bueno (Lacrima Mortis — Lacrimatorium Doomed Arts), que soube exatamente como trazer para o campo das cores toda a sensibilidade e significância que as composições possuem. Um ilustrador que certamente merece ser descoberto por mais bandas e músicos, pois seu trabalho é simplesmente sublime. As gravações foram divididas entre os estúdios Dual Noise e Espaço Do Som (ambos de São Paulo). A mixagem ficou sob a tutela do próprio Fabio; e digo, como é bom ouvir as qualidades de um bom lançamento de forma definida e vívida,  longe da plasticidade sistêmica que tanto se alastra pelas produções atuais.

É interessante ressaltar como o HELLLIGHT foi evoluindo sem se ausentar de sua própria essência e sem desfigurar sua sonoridade, os novos elementos e recursos foram sendo injetados, lapidados e fixados gradualmente dentro de sua discografia, principalmente nos lançamentos pós “No God Above, No Devil Below” (2013). “Journey Through Endless Storms” (2015) era atmosférico e um tanto progressivo (no bom sentido), “As We Slowly Fade” (2018) mantinha a lógica de seu antecessor, mas trazia em si, desenvolvimentos e conclusões sinfônicas. “Until The Silence Embraces” é, por hora, o clímax dessa evolução. Ao longo de suas 06 longas faixas, percebemos que os teclados ganharam mais evidência e atuação, criando tanto as ambientações necessárias quanto as tensões e preenchimentos, o baixo tornou-se notório e bem desenhado, a bateria, apesar de discreta e condizente ao estilo, teve seu papel destacado. Afinal, é ela que define a frequência cardíaca dos temas.

As teclas ditam as progressões e avanços da faixa de abertura, “Rise Above The Stars”; ora suaves e etéreas e noutras, apreensivas e angustiantes. Aliás, talvez pela circunstância e por toda essa dor que abraçou a todos nós nos últimos tempos, mas nunca antes o HellLight foi tão desolador. “Until The Silence Embraces” (tema titulo), sendo lançado previamente na coletânea Brazilian Doom Metal (Pagan Tales Records) é um dos destaques do álbum, robusta e melódica, algo comum ao modus faciendi da banda: Transcendental! Na sequência, “The Dead Moment” cuja estrutura me remeteu aos trabalhos do Ahab e Woebegone Obscured; tensa e abismalmente depressiva, com um trecho mezzo acústico belíssimo que vai ganhando o peso elétrico em seus minutos finais (uma audição que pede por um vinho à meia-luz e apenas os pensamentos como companhia). “Dying Sun” é uma composição mais voltada ao Funeral Doom tradicional, solenemente pesada e com a participação do mestre John McGovern (Chalice Of Suffering, Solemn Echoes, Forever Falling).

Desoladora é a palavra que melhor define a penúltima faixa, “Legacy Of The Broken Ones”_, nela não há luz ou oxigênio, tudo se resume a abismos, escuridão e angustias; o antiparaiso — cemitério da esperança. “The Ephemeral Auroras” é o suprassumo do sublime. Sua beleza não apenas dói, mas dilacera. Fabio novamente mostra toda sua capacidade de emocionar, usando de tons altíssimos tal qual fez em “Ocean” do já citado, “As We Slowly Fade”. Ouvi-la e permanecer impassível é praticamente impossível, a menos que já morto esteja ou que humano já não mais seja. Os olhos transbordam, a alma se recolhe num canto do corpo, a música chega ao fim e as cortinas do disco vão calmamente se fechando.

Cada álbum do HELLLIGHT é um monólito do Funeral Doom Metal, é inegável; e cada lançamento por si mesmo, é uma experiência, não é apenas ouvir, é sentir, sorver e vivenciar a passagem do tempo, tal qual ela é, indiferente a nós e nossos tão importantes egos. Somos serem miúdos, gigantes apenas em nossa imaginação, presunção e arrogância. “Until The Silence Embraces” é um lançamento colossal, melancólico e elegante como poucos.

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