A necessidade de ouvir bandas de alto nível, que ao mesmo tempo desafiem convenções, e busquem expandir as fronteiras tradicionais do metal extremo, é algo que tem me ocorrido com grande frequência. Os texanos do HAUNTER foram uma indicação de amigos estadunidenses, e aproveito o lançamento do novo trabalho da banda para indicá-los ao leitor do T.O.C.S.
“Discarnate Ails” é o terceiro disco completo deste quarteto originado na bela San Antonio/TX, com lançamento internacional nesta sexta (06/05). É também o primeiro saindo via “Profound Lore Records”, selo canadense que raramente comete erros nas escolhas para o seu roster.
Como apresentar e tentar definir o som do HAUNTER ao leitor? A base de tudo é Death/Black Metal Progressivo, composto e executado com ótima técnica e complexidade, sem deixar a agressividade de lado e com vocalizações das profundezas. A atmosfera é permanentemente sinistra, e há muita melodia e dissonância no trampo de guitarras.
Tendo as características em mente, “Discarnate Ails” oferece trinta e dois minutos de música avant-garde de ótimas ideias, conceitos e múltiplas influências. São apenas três faixas que transportam o ouvinte a uma dimensão surreal, atemporal e exótica. A arte do enigmático “Elijah Tamu” que estampa a capa do álbum confere o impacto visual perfeito para a experiência propiciada pela obra.
“Overgrown with the Moss” inicia essa jornada kafkiana com guitarras e baixo limpos, numa introdução de clima etéreo. O instrumental extremo não tarda, bateria imponente e avassaladora à frente. As guitarras destacam-se logo de cara pelos leads melodiosos, viajantes e desconexos, que geram uma atmosfera singular e insana. Os vocais de “Bradley Tiffin” variam eficientemente ao longo da faixa, sempre ríspidos, maléficos e emocionalmente carregados. O segmento mais atmosférico aos seis minutos é brilhante, e desencadeia uma tempestade a seguir, coroando onze minutos gloriosos de extremismo experimental.
“Spiritual Illness” adquire ritmo mais ameno em sua abertura, substituído com efeito por outro acelerado e tenso, onde a dissonância progride e escala. Pouco depois do terceiro minuto, ouve-se um dos riffs mais sanguinários e dominantes do álbum, o qual arrasta a faixa consigo em uma espiral intensa, perturbadora e esquizofrênica.
O desfecho toma forma com a colossal “Chained at the Helm of Eschaton”, onde os riffs atonais e a extravagância dissonante unem refinamento e complexidade sutil. Há seções contemplativas de pegada Doom das mais viciantes, onde as guitarras desfilam solos melodicamente ricos e potentes. Os corais pontuais foram ótima ideia, em meio a uma estrutura incomum e imprevisível. Os caras tiram da cartola uma seção saborosa do mais irresistível headbanging de onde não se poderia imaginar.
Excepcional terceiro álbum do HAUNTER, disparado o melhor deles até aqui. Metal Extremo Avant-Garde e heterodoxo do mais alto nível, que desce fácil e não enjoa, manipulando com maestria elementos como a imprevisibilidade e a virtuose.
Altamente recomendado a quem curta a insanidade de DODECAHEDRON (HOL), SUFFERING HOUR (EUA), IMPERIAL TRIUMPHANT (EUA), AD NAUSEAM (ITA), ULCERATE (NZL), CONVULSING (AUS), MORBUS CHRON (SUE), CHAPEL OF DISEASE (ALE).
Tracklist abaixo, duração total de 31:35 minutos:
1 – “Overgrown with the Moss”
2 – “Spiritual Illness”
3 – “Chained at the Helm of Eschaton”