Oath Of Persistence (SC) Void It (SP) Disrupting (SP) Fossilization (SP)
Bar do Castelo – Porto Belo/SC
Data – 05/ 08/ 2023
Fotos por Paty Vanzim
Eu vi um post no Facebook semana passada e me chamou atenção nele estava escrito: A cena catarinense tá agitada e muito ativa. O que me chamou atenção mesmo foi os comentários de pessoas que nunca vejo em shows underground dizendo: verdade, a cena tá acontecendo! Sim, a cena realmente em Santa Catarina, sempre foi forte! Mas nos últimos anos existem duas cenas. Uma cena que realmente dá um público grande quando rola bandas como o grande Krisiun, Cripta, Ratos de Porão, Troops Of Doom e com bandas gringas. Daí esse povo sai de casa e diz que faz parte da cena. Não vou nem citar festivais grandes como Monsters of Rock. (vejo essas mesmas pessoas postando fotos e dizendo que ama metal) Essa cena que citei sempre dá um público de 666 pagantes. Agora aquela cena mais underground, aquela que habita o submundo, que faz por amor ao metal ou a dita cena, essa cena realmente em 2023 não para, sempre rolando shows e com grandes bandas. Essa cena, se dar uns 50 pagantes, é muito. Infelizmente, é o que tenho visto ultimamente. Se rolar 100 pagantes, o produtor e as bandas estão no lucro, infelizmente é um fato, na cena. Eu via há uns tempos uma galera nova nos show e estavam em todos os shows, fanáticos na frente do palco. Montaram bandas ou foram tocar em bandas, nunca mais apareceram em shows. Só quando a banda deles tocam. Me desculpe, isso não é ser headbanger ou pertencer à cena.
Muitos desses músicos, produtores tiram grana do próprio bolso para fazerem eventos e tocarem, e mesmo arcando com a grana do próprio bolso para gravar disco, fazer merchandising e cair na estrada, sem suporte de gravadora, caem na estrada por amor. A cena catarinense e brasileira está forte como sempre foi. Mas precisa de apoio, sem público não existe cena.
A cena virtual vive de polêmicas e fofocas. Uma semana brigando porque os irmãos Cavallera regravaram os primeiros clássicos do Sepultura e na outra semana discussões por que uma integrante de uma banda famosa e com suporte de gravadora e toda infraestrutura pedindo pix nas redes sociais. Dá quem quer! Eu não dou! Sabe por quê? Porque 99% das bandas do submundo fazem seus corres, passam perrengue e não pedem pix.
E lutando contra todas as adversidades, o underground resiste e não pode parar! E seguindo na luta, a produtora Divisor e Bar Do Castelo abriram suas portas para mais um evento no submundo catarinense e rolou mais um evento com três grandes bandas paulistas que passaram pelo litoral catarinense.
Fossilization, Disrupting e Void It aportaram na costa verdes mares no litoral Norte catarinense, fazendo uma apresentação matadora. E para nossa surpresa, não estava no cartaz, mas foram convidados na última hora para se apresentar no evento mais uma nova banda de Porto Belo, (SC) e eu não conhecia a banda chamada: Oath Of Persistence e me surpreendeu, que show incrível e matador!
Coube ao “Duo” Diogo Marostica, na bateria e Christopher Abel na guitarra e vocal. Sim, não tem baixista ao vivo e nem em estúdio. Os caras já tem duas, demo tape gravadas, “The Myths” e “Deadly Tentacles of Summoning”, ambas lançadas em 2016 e 2017.
E o que ouvimos e assistimos foi um death metal muito bem executado, pesado e brutal. A dupla executou 5 faixas “Fear of the Unknown”, “Provenance Of a Distopia” e “Queem Of The Swarm” e deixaram todos na plateia de boca aberta com tamanha fúria e técnica. É um death metal furioso, brutal, técnico e com passagens melódicas. O baterista Diogo é um polvo e toca muito. Ainda executaram: Chronicle of Absolution e Whisper of the wolf. Essa última com vocais limpos, um clima meio prog e viajante, mas a fúria e a demência do death metal prevalece. E apesar das composições deles serem calcadas no death metal, não se sente a falta de um baixista, porque os dois músicos sabem o que estão fazendo e além de tudo, tem técnica apurada. Deixaram o palco muito aplaudidos. Conversando com os caras daqui a uns 20/30 dias o full álbum deles estará sendo lançado oficialmente.
A segunda banda da noite, e a primeira da “trinca paulista” a se apresentar no Bar do Castelo, é Void It e seu grindcore/black metal. Eles se autointitulam dessa forma e o que vi no palco é um fudido grindcore com uma pegada da clássica banda Terrorizer. Banda formada em 2022 e com letras abordando anti – cristianismo, anarquismo, existencialismo, niilismo e os caras fizeram um show insano. Cavera Volf, (guitarra) Felipe Veiga (bateria) e o carismático vocalista Hugo Ribeiro. Eles também se apresentaram sem baixista, mas segundo eles já encontraram um novo integrante para o posto. Os caras já tem vários split e eps lançados no submundo.
O som dos caras tem umas partes de guitarra puxadas para o black metal e essa aura negra também por partes dos vocais, mais rasgados e insanos. Mas no geral é aquele grindcore rápido, violento, furioso e partes death metal. Vou ficar devendo o set list. Os caras não me enviaram. Mas fizeram um show fodaaaa!
Agora era o power trio Disrupting e seu brutal death metal. E os caras fizeram um set violento, furioso e com muita técnica. Os caras tocaram 9 faixas de um Death metal que animou o público presente: “Transmutation The Human Form, Parasitic Infection Hybrids e Artificial Intracranial Deformation” e pelas letras já dá para sacar que os caras vão para um lado mais splatter/pathologic. E o trio é bem concentrado no palco e não é de falar muito. Rodolfo, baixo/vocal, Caio, guitarra e o insano baterista Robson, destilam guitarras poderosas, baixo pesado e bateria com partes rápidas, blast beats e partes quebradas. Muito bom, o som dos caras. Fecharam o set com “Celestial Embriogenisis”.
Os paulistas do Fossilization fecharam a noite e que show meus amigos, que show! Nível gringo!
Para quem não está familiarizado ou não conhece essa nova promessa do death metal nacional, ela é formada por dois membros do grandioso Jupiterian, outra lenda do death doom metal nacional. “V” na guitarra e vocal e “P” na bateria. A banda despertou do seu sono em 2020 no ano pandêmico e nas apresentações ao vivo eles contam com o apoio do guitarrista André Neil (Infamous Glory) e Tonhão no baixo. A banda já tem lançados os trabalhos “He Whose Name Was Long Forgotten”, (ep/2021) “Ritual Necromancy / Fossilization” (split/2022) e o full album “Leprous Daylight” de 2023
Um clima negro, obscuro, tétrico e carregado tomou conta do recinto. As luzes do palco foram todas apagadas e fumaças pelo ar que deixou tudo mais enegrecido e lúgubre. A banda com pinturas de guerras nos rosto e já sabíamos que teríamos um show marcante e foi o que realmente aconteceu. Ver uma entidade dessa ao vivo é para guardar na memória.
E abrindo o cerimonial negro com a faixa “Exalted in the Altar of Insignificance” que faixa poderosa. Guitarras soturnas, vocal cavernoso e bateria mesclando partes rápidas e cadenciadas, perfeitas para bater cabeça. “Oracle of Reversion” faixa do novo disco que saiu recentemente e que death metal profundo, obscuro, rápido e brutal. E o clima tétrico continua com “Neanderthal Tombs”, faixa que abre o poderoso ep lançado em 2021. Vocal cavernoso e desesperado. Faixa com riffs poderosos e trabalhados. Que ritual negro, uma celebração ao metal da morte continua com “With Blood and Feathers” e mais duas faixas do disco novo “Archæan Gateway” e “Once Was God”. Com uma atmosfera carregada e vocal cavernoso e que te leva ao um calabouço frio e escuro. Riffs de guitarras marcantes, bateria com blast beats e partes mais lentas, porém letal e destruidor! Fechando essa apresentação agonizante e desesperada no bar do castelo, mais duas faixas mortal e uma ode ao metal da morte, “Blight Cathedral” e “Forgotten”. E continua aquela pedrada, cada música com um clima tétrico, fúnebre, atmosfera pesada, músicas trabalhadas e muita violência e todos os músicos tocam muito e estão curtindo tá ali no palco tocando o death metal e a plateia petrificada, hipnotizada por melodias fúnebres e o cheiro de enxofre no ar.
Olha, faz muito tempo que uma banda brasileira não me fascinava tanto como esses paulistas. Pode ser que eu esteja viajando, mas o Fossilization traz influências do grande Incantation, Dead Congregation, e dos ingleses do My Dying Bride do início e do próprio Jupiterian. Fim de show e todos foram cumprimentar a banda, dar os parabéns e tirar uma foto. E todos os integrantes bem solícitos e atenciosos. Músicos que realmente vivem o submundo e sem estrelismo. Não é à toa que os caras já fizeram tour pela Europa e já estão voltando esse ano para tocar em grandes festivais mais voltados ao death metal no velho continente. Mais uma banda levando o nome do submundo brasileiro mundo afora e vai dar orgulho para quem realmente vive e apoia as bandas do underground nacional e sem estrelismo e faz metal por amor
Uma pena que os caras esqueceram os CDs e muitos, muitos mesmo foram adquirir o novo trabalho e não tinham para vender, e inclusive eu queria um. Enfim, mais uma noite na costa esmeralda catarinense com amigos, boa cervejas e muito metal nas veias. Lembre se: underground existe e ele depende de você para sobreviver! Temos que apoiar as bandas brasileiras e tem muitas bandas fazendo shows fantásticos e lançando materiais matadores!!!