Num ano de tantos ótimos registros lançados e alguns ainda por serem, nada mais justo que um trabalho novo (ou quase) dos ingleses do CONSECRATION. A banda formada em 2010 já possui dois álbuns completos em sua bagagem; “Ephemerality” (2014) e o fabuloso “Fragilium” (Solitude Productions, 2019). Sua estreia se deu no mesmo ano de sua fundação, no Ep “Gut The Priest”. Completando seu relicário dedicado a morte lenta, ainda temos o vídeo “Unhallowed” (2011), a demo “Echoes Of The Dead” (2013) e a magnífica compilação “Remembrance” (2018).
“Reanimated” (Cavernous Records) é uma revisita da banda ao seu próprio catálogo, no caso, ao supracitado EP “Gut The Priest”. Dele foram extraídas duas composições: “Cast Down For The Burning” e a faixa título, ambas retrabalhadas especificamente para este lançamento, completado por uma antiga demo registrada em 2011, porém nunca disponibilizada. O novo EP também marca a estreia aos discos do guitarrista Andy Matthews.
“Cast Down For The Burning” abre o play com uma carga negativa surreal — revitalizada e carregada de emanações fúnebres. São pouco mais de seis minutos de brutalidade em tempo médio, bateria certeira, riffs extraídos das entranhas do Seol e as vocalizações grotescas de Daniel Bollans. “Gut The Priest” segue as mesmas diretrizes; ignorância sonora em “slow motion”, obscuridade a níveis estratosféricos e os guitarristas Andy Matthews e Liam Houseago a oferecer um tutorial gratuito de como soar “velha escola” sem parecer um patético fac-símile igual a tantos outros por aí.
A cereja do bolo, ou melhor, a coroa de flores apodrecidas do EP chega sob o título de “Domain Of Despair”. Essa faixa é qualquer coisa para além das esferas negras e negativas do Universo. Altamente aflitiva, sufocante e pútrida. Uma das melhores composições do CONSECRATION sem dúvida alguma. Ainda bem que a mesma foi resgatada do limbo onde estava, retrabalhada e lançada. Seria um erro imperdoável deixar uma anomalia metálica como essa esquecida num mausoléu qualquer. E sim, o mundo precisa de mais porções de obscuridade in música — afinal de contas, positividade só serve para quem escreve singles good vibes usados em propagandas de margarina e para aqueles que dissertam sobre felicidade em livros de autoajuda. Menos risos ensaiados, Augusto Cury (e similares) e mais CONSECRATION!
Altamente indicado a quem aprecia um Death/Doom Metal fora dos protocolos modernos, sem aromas ou texturas melancólicas, sem atmosferas ébrias e sem os extensos (tediosos e já saturados) parenteses melódicos. “Reanimated” é puro odor Old School — cavernoso, amaldiçoado, maléfico e arrastado (feroz quando necessário), enfim, tudo aquilo que a moral e os bons costumes das produções atuais condenam. Preciso escrever mais ou já basta? Ouça e apodreça… Lentamente apodreça!
Ah sim! No próximo ano a banda lançará seu terceiro álbum de estúdio e o primeiro sob a tutela da poderosa Redefining Darkness Records.
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