Nada como o bom, velho e pútrido metal da morte feito por quem entende da coisa. E o AUTOPHAGY sabe como fazer isso de forma magistral. O quarteto formado em Portland, no estado do Oregon chega agora ao seu debut álbum com a forte convicção que não pode deixar pedra sob pedra. A banda havia lançado apenas uma demo tape em 2018 e agora com esse “Bacteriophage”, dá o seu passo mais sólido em direção ao reconhecimento da cena death metal mundial.
O som desses caras não flerta com melodias ou partes acústicas. Tudo aqui gira em torno da sujeira e da velocidade que é trabalhada em cima de riffs cortantes e uma vocalização imunda que casa perfeitamente com todo o resto. O álbum abre com a Intro “Infernal Miasma”. A primeira faixa propriamente dita é a pesadíssima “Abhorrent Abomination”, que em vários momentos traz à mente o metal da morte finlandês, com bases e riffs carregados de feeling e uma produção mais suja e direta que contribui para que a faixa soe ainda mais fudida. O death metal dos caras não atira na velocidade da luz o tempo todo. Há momentos rápidos sim, mas eles se misturam com partes mais trabalhadas, momentos quase doom e partes meio tempo. Tudo soa no seu lugar.
“Sacrifical Spawn” começa rápida, é old school até o osso e apresenta riffs sórdidos em meio ao caos. Algumas partes da música são aquelas que, em um show, todos teriam o pescoço fraturado em várias partes. Isso é perfeito para bater cabeça. Como forma de localizar o leitor sobre o que estou ouvindo, o som da banda vai por um caminho que traz elementos muito próximos de bandas como Incantation, Demigod, Convulse, Autopsy, entre outras.
Em “Beneath the Moss, Between the Roots” o termo tradicional é levado à sua máxima potência e temos aqui uma das melhores faixas do álbum. Há um groove em meio à partes mais rápidas que realmente deixa o som do AUTOPHAGY muito foda de se ouvir e atiça a curiosidade do ouvinte em relação a como deve ser um show deles. Com músicas assim, aqui no Brasil seria um pandemônio. “Bacteriophage” tem um início que me lembrou alguns sons antigos do Impetigo, um andamento sujo, mas que logo se converte a algo mais rápido e direto. O groove se faz presente em bases de guitarra mais prensadas e momentos mais extremos e outros totalmente doom death metal. Uma faixa completa, por assim dizer e outra que se destaca dentro do tracklist do álbum.
As próximas são “Eviscerated Remains” e “Return to Chamal Hall” e a receita se repete. São duas composições totalmente old school e que usa e abusam do peso, riffs pegajosos e andamentos dois por um, com uma vocalização absolutamente pútrida. A penúltima faixa está também entre as minhas preferidas. “Becoming” é pesadíssima, lenta e densa, com uma base de início que constroi um clima obscuro que prepara o seu espírito para a brutalidade que vem a seguir. Finalmente vem “Dawn of the Endless Plague”, outra pedrada que encerra o álbum em alto nível se utilizando dos mesmos elementos contidos em todo o álbum. Isso é algo a se destacar, pois “Bacteriophage” é um álbum realmente homogêneo, que se constrói em bases sólidas no mais puro metal da morte e entrega uma experiência poderosa.
Não poderia deixar de citar nessa resenha que a capa, uma belíssima e caótica arte, é assinada pelo artista brasileiro Márcio Blasphemator, que vem a cada dia conquistando seu espaço no mundo da música extrema. “Bacteriophage” foi lançado no último dia 30 de Setembro e já que estamos recebendo dezenas de lançamentos no Brasil, bem que poderia ser lançado por aqui, pois esse é o tipo de música que agradaria em cheio os death metallers nacionais.