Nada como a perspectiva do tempo para desmontar visões errôneas sobre determinados trabalhos musicais. Durante anos eu virei as costas ao trabalho feito pelo Rotting Christ após o mediano “A Dead Poem”. Até ouvia os álbuns, mas não conseguir encontrar ali elementos que me fizessem gostar daqueles materiais. Atualmente tenho baixado a guarda e voltado a ouvir velhos álbuns que não me agradavam. Alguns simplesmente continuam sendo tão dispensáveis quanto foram da primeira vez que ouvi, outros já conseguem soar de forma diferente. Os vários álbuns do Rotting Christ se encaixam nessa segunda categoria.
Quando recebi esse álbum resolvi ouvi-lo com atenção e sem preconceitos e realmente me deparei com um excelente álbum. Obviamente que não se compara às fases mais clássicas da banda, mas isso não diminui sua qualidade pois aqui está um outro Rotting Christ, mais maduro e com músicas que mesclam de forma sólida a melodia que sempre foi uma característica da banda com mais peso e diversas experimentações vocais. Isso transparece fortemente nas pesadas e climáticas “Eon Aenaos” e “Δαίμονων βρωσης”, essa segunda trazendo na cara a sonoridade do Rotting Christ. “Dub-saĝ-ta-ke” é uma música que tem o feeling grego e isso está nos instrumentos diferentes e na velocidade em algumas partes. Uma música que soa diferente da pegada da banda, mas que é muito boa é a forte “…Pir Threontai”. O trabalho melódico dessa música é muito bom. “Thou Art Lord” mantém essa qualidade técnica e melódica e oferece um plus com os vocais que narram a letra, criando um resultado grandioso antes de seguirem o rumo mais extremo.
A velocidade reaparece com “Santa Muerte” e o velho espírito do Rotting Christ também. O álbum fecha com um improvável cover da música americana, filha de pais gregos Diamanda Galás. A música escolhida foi “Orders from the Dead”. A instrumentista é conhecida por sua música experimental e avant-garde e a versão executada pelo Rotting Christ traz uma interpretação mais ritualística, mas ainda assim não tão distante, para uma música que é quase um monólogo intimista e caótico. A própria vocalista participa do cover e traz sua interpretação para essa releitura. Não é necessário salientar a qualidade da produção desse álbum. A versão nacional é perfeita, traz um pôster , vem com um sleap case e a parte gráfica é feita em papel especial envernizado, algo que já se tornou um padrão para a Cold Art Industry, que é um selo que vem investindo muito em seus lançamentos.