Preciso iniciar essa resenha afirmando que não sou um fã de carteirinha de Raw Black Metal. Mas é fato que esse ano tem apresentado ótimos lançamentos dentro do estilo.
Um dos mais impressionantes até aqui é o álbum de estreia do SERPENT OF THE ABYSS. A enigmática banda tem como proposta um Raw Black Metal Atmosférico, de vanguarda, altamente técnico no trampo de guitarras, com características que remetem a sonoridade de entidades canadenses como ANTEDILUVIAN e ADVERSARIAL, além da dissonância genial oferecida pela escola francesa de DEATHSPELL OMEGA, S.V.E.S.T. e AOSOTH. Pelo menos até aqui, não sabemos nada sobre a sua origem, ou seus membros.
O álbum “Wrapped in Darkness” foi lançado independentemente no início de setembro, e claramente foi elaborado tendo como destaques o trabalho fenomenal de guitarras, além dos vocais infernais, e inicialmente não creditados. A produção é nada menos que fascinante para um trabalho dessa natureza, mantendo a sonoridade a mais brutal e orgânica possível.
São apenas três músicas, que totalizam os quarenta intensos minutos de duração, explorando uma viagem astral pelos recantos mais obscuros da mente humana. Há diversos momentos em que fica a impressão da banda estar tocando dois ou três riffs dissonantes ao mesmo tempo, os quais progridem de forma absolutamente brilhante, criando uma atmosfera sufocante, delirante e grotesca, tal qual uma cena de filme de horror magistralmente dirigida (o filme Hereditário vem à mente, considerando o cinema mais recente).
Não é possível dizer que o álbum é de fácil absorção. Requer no mínimo algumas audições, tamanha a crueza e agressividade em estado bruto captadas pela entidade. Volto a dizer, a obra é altamente inspirada, mas tem por base uma sonoridade absurdamente extrema, muito devido à forma como as guitarras evoluem e progridem em termos de riffs e leads.
Caso da segunda faixa “Sword of Hate and Glory”, que evolui em meio a tensão crescente e persistente da faixa, com percussão bastante variada, doentia e liderada por guitarras excepcionalmente inspiradas e esplêndidas.
A faixa de encerramento “Endless Night” é certamente a mais ousada, do alto de seus mais de dezoito minutos, cercada de atmosfera gélida e estruturada com uma parede de som impenetrável, de guitarras que mesclam riffs improváveis, que inteligentemente fundem-se em uma teia de insanidade e provocação ao sagrado. Preste atenção à mudança brusca e genial de ritmo em torno de 31:35, totalmente caótica, imprevisível e matadora como deve ser.
Um álbum de estreia magnífico do SERPENT OF THE ABYSS, que deixa os fãs de metal extremo curiosos a respeito da origem e composição da banda, e que gera enorme expectativa por lançamentos futuros. Deverá agradar aos fãs de DEATHSPELL OMEGA (FRA), ANTAEUS (FRA), S.V.E.S.T. (FRA), AOSOTH (FRA), KATHARSIS (ALE), CONVULSING (AUS), ANTEDILUVIAN (CAN), MITHOCONDRION (CAN), ADVERSARIAL (CAN), ABYSSAL (ING), ESOCTRILIHUM (FRA).
A obra é composta por apenas três faixas, que somam a duração de 40:38 minutos:
1 – “Clouds of Death”
2 – “Sword of Hate and Glory”
3 – “Endless Night”
Destaques: Muito difícil destacar uma das três faixas. Mas a terceira e mais extensa “Endless Night” acaba funcionando muito bem como amostra individual da loucura proporcionada pela banda neste primeiro lançamento. Uma obra-prima do Raw Black Metal Atmosférico, que deverá ser lembrada e mencionada por muitos anos.