Sergio Gonzalez Catalan não é apenas um músico/compositor extremamente prolifero, ele também possui uma aflorada sensibilidade e um entendimento musical evolutivo poucas vezes visto/ouvido nessa atualidade liquida em que vivemos.
Em 2019 ele deu vida a sua primeira manifestação artística, a RISE TO THE SKY — projeto solo altamente fecundo e totalmente articulado por ele. Somente nesse ano o projeto já disponibilizou dois álbuns de inéditas: “Let Me Drown With You” lançado em março e “Per Aspera Ad Astra”, que veio a conhecer o mundo no início de setembro. Ambos os registros foram viabilizados pelo selo russo GS Productions. Completam a discografia os álbuns “Moonlight” (2019) e “Death Will Not Keep Us Apart” (2020), além de dois eps também lançados em 2020; “In the Grave Of A Forgotten Soul” e “A Cold Embrace From Life”.
“Per Aspera Ad Astra” sequencia a parceria criativa e duradoura de Sergio junto ao músico/produtor grego Filippos Koliopanos (Ocean Of Grief, On Thorns I Lay), além de vir trajado numa ilustração belíssima assinada pelo artista português Augusto Peixoto (A Dream Of Poe, Sacrifire, Shrines Of Dying Light).
Ainda mais belo que os trabalhos anteriores, o novo disco se revela sofisticado e totalmente preenchido por composições ricas, coesas e permeadas tanto por melodias fortes quanto por arranjos sensíveis e, por vezes, grandiosos, ainda que sempre melancólicos. A atmosfera do disco em tudo remete a perca, ao luto e a saudade — sentimentos esses justificados por ser um trabalho dedicado à memória do pai de Sergio, que veio a falecer, infelizmente, no início do ano. Como disse o músico em entrevista ao “TOCSZP”: “Não há nenhum outro motivo para a criação deste trabalho, cada nota neste álbum reflete o meu pesar.”
Munido de canções altamente imersivas e pesadas, tanto por sua abordagem lírica quanto por sua face musical, “Per Aspera Ad Astra” rompe-se em “Life In Suspense”. Faixa de peso solene e de melodias penetrantes, os guturais de Sergio são surreais e transmitem dor e pesar com a mesma intensidade. “The Loss Of Hope” memora os colossos musicais do norueguês The Fall of Every Season, mas claro que com seus próprios predicados e com as marcantes características que se prolongam pelos escritos da RISE TO THE SKY. O tema título oscila musicalmente entre cerimoniosas sinfonias e atmosferas pungentes, que muito memoram os holandeses do Celestial Season.Segundo o músico compor esse trabalho foi seu processo de luto e seu conforto. Não à toa que a expressão que nomeia o mesmo pode ser traduzida/interpretada como: “para as estrelas, superando as dificuldades no caminho”. Lembrando que esse é apenas um nuance interpretativo.
Prosseguindo com as audições “End My Night” e a elegante, embora triste, “Deep Lament”, cujos arranjos que a arvoram são simplesmente belíssimos. “Bleeding Heart” é outra que exemplifica toda a meticulosidade melódica da banda e seus critérios ao confeccionar ambientações que, mesmo sendo sombrias, conseguem encantar. “Only Our Past Remains” é um titã sonoro de pura dor, tristeza e pesar. Uma composição que se faz sentir, seja pela perca que motivou sua criação, seja pelos tempos dificeis pelos quais todos nós ainda estamos passando. “Per Aspera Ad Astra” é mais que um lançamento, ele é um tratado sobre como o luto atua em cada um de nós — e mesmo que a dor se revele imensa e incurável, ela acabará por ser anestesiada pelas diretrizes do tempo e pelo bailar das estações. “Com a morte, o tempo pára, a matéria desvanece-se, o presente e o futuro deixam de existir, e apenas o passado permanece”. (Sergio González Bombardiere, 2019).
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