CD/EP/LP

FAMISHGOD — Rotting Ceremony (2021)

FAMISHGOD (Espanha)
“Rotting Ceremony” — CD 2021
Xtreem Music — Importado
9/10

Esqueça adornos, produções cristalinas, melodias lamuriosas extraídas dos momentos de angústia de algum conto de fadas ou mesmo de um periódico vampiresco. Esqueça vocalizações idílicas ou limpas, esqueça atmosferas inebriantes e ornamentais, esqueça suavizações e qualquer contextualização de beleza etérea. Aqui, o que temos e ouvimos justamente o oposto de tudo ou quase tudo que está em voga e fatidicamente saturando. O Death/Doom Metal dos espanhóis FAMISHGOD é a antítese do contemporâneo, do belo e do melodioso, ele é abissal, claustrofóbico, primitivo, caustico e opulento. Completamente despido de qualquer subterfúgio ou delicadeza. Violinos, teclados, sonetos e outros elementos paisagísticos? Esqueça-os também!

A banda foi criada em 2013 e seus capítulos sonoros se baseiam nas cartilhas deixadas por imponentes colossos como Incantation, Disembowelment, Evoken, Rippikoulu, Winter e Ophis, ou seja, em emanações musicais cuja qualidade ímpar e influente. “Rotting Ceremony” (Xtreem Music) é seu terceiro miasma discográfico e fecha, momentaneamente, a trindade nefasta iniciada com “Devourers Of Light” (2014) e sequenciada por “Roots Of Darkness” (2016). A mixagem foi feita no Moontower Studios em Barcelona, pelo sempre competente e muito requisitado Javier Félez (Ataraxy, Onirophagus, Graveyard, Devotion, Proscrito).

Comportando 47 minutos e dividindo os mesmos entre 7 ritos que reverenciam o grotesco,  o disco logo se rompe com a esmagadora e angustiante “The Sun, The Death”; absurda em seu peso, grotesca em sua atmosfera e letal em seu médio andamento. Os vocais de Dave Rotten (Avulsed, Christ Denied, Putrevore) são tão cavernosos quanto doentios. O instrumental conjugado por Funëdeim (Deimler) é simplesmente perfeito, sem lacunas e sem exageros. Uma abertura brutal ainda que em médio tempo e de avanços pensados à composição. As guitarras do músico convidado de Vicente Payá (Golgotha) são de qualidade uma indiscutível em todo o álbum.

Todas as outras seis faixas se desenvolvem de forma muito similar e sem muitas explorações ou tangentes. Todas elas com excelentes bases rítmicas, riffs troncudos e sujos na porção exata. As linhas de bateria são simples, mas não simplórias, vide o uso inteligente dos bumbos (ou pedais) duplos, dos e pratos. Familiarizados com Bolt Thrower e seu herdeiro natural, o Memoriam, hão de apreciar muito esse trabalho, onde mais importante que a velocidade é o senso de direção e o impacto.

Ascencion”, “Fear Your Own Shadow”, “Deep Fall”, “Rotting Paradise” e “Crystal Palace” dão sequencia ao álbum preservando tanto sua coesão quanto sua alta qualidade. Aliás, sobre as composições é válido elogiar o perceptível amadurecimento da banda no que tange a construção das faixas e suas articulações; o aperfeiçoamento dos arranjos também é outro ponto a ser elogiado. O álbum é superior aos anteriores? Sim, mas não se esquiva da lógica dos mesmos, ele é mais coeso e até mesmo mais direto, mas igualmente imenso e sombrio como foram os outros.

A sétima e última faixa chega sob o título de “Earthly Slavery” — sendo essa uma espécie de anti-épico ou uma ode ao limbo. Colossalmente pesada, aterradora e fúnebre. A típica composição que apenas uma entidade doentia como o FAMISHGOD poderia conceber e lançar ao mundo. Perfeita meus caros, simplesmente perfeita! A pura essência do que era o Doom/Death Metal nos anos 90, mas não aquele que abraçava a melancolia em noites de vinho e solidão, mas sim, aquele cujos odores sufocavam flores e esperanças.

Mais um trabalho de alto nível destes espanhóis — abominável e altamente recomendado!

Links:

Facebook: https://www.facebook.com/famishgod

Bandcamp (Xtreem Music): https://xtreemmusic.bandcamp.com/album/rotting-ceremony

Spotify: https://open.spotify.com/artist/2b418uNFkSRjP28ClLDWhT

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