“Praeparet Bellum” – CD 2023
Memento Mori Records – Importado
8,5/10
Os americanos do RIGOR SARDONICOUS não são uma banda nova na cena, mas possivelmente muita gente, principalmente no Brasil, não deve conhecer o trabalho desse poderoso nome do funeral doom/death metal. A banda tem uma longa trajetória, tendo sido formada em 1988 na area de Long Island, em Nova Iorque. O nome do grupo em latim significa “rígido e sardônico”. A palavra “sardonic” nem caso diz respeito a algo que denota uma ironia maldosa, algo sarcástico, zombeteiro.
A banda tem uma lista considerável de lançamentos e “Praeparet Bellum” é o sétimo álbum de estúdio da banda e esse título é um fragmento da citação romana “Igitur qui desiderat pacem, praeparet bellum”, ou algo como “assim que deseje a paz, que prepare a guerra”, ou a sua versão mais popular “se queres a paz, prepara a guerra”. Apesar do título conceder um sentido belicoso à banda, a música passa longe do que chamaríamos de metal extremo, ou seja, não temos aqui de forma alguma o uso da velocidade ou brutalidade instrumental. O RIGOR SARDONICOUS devasta tudo ao redor com um funeral doom death metal totalmente lento, pesado e pegajoso.
O clima é claustrofóbico, denso. A faixa “Terra Mota Est” é um exemplo perfeito disso. Em vários momentos a atmosfera carregada me fez lembrar dos dois primeiros álbuns dos finlandeses do Unholy ou até mesmo do primeiro álbum dos americanos do Winter. Para os leitores que conhecem esses três trabalhos fica fácil agora criar um retrato mental de como o grupo soa.
A banda trabalha muito bem o clima pesadíssimo que impera em todas as faixas. O álbum abre com “Caelum Ardere Vidistis”, que tem até um pouco mais de energia, ainda que seja uma energia absolutamente negativa e obscura que vai tomando conta do cômodo em que você se encontra até engolir qualquer possibilidade de alegria.
O clima vai se adensando com “Sanguinem Floralibus Luna” e você tem certeza de que é impossível nutrir qualquer esperança pelo mundo. Os vocais nessa faixa, assim como em todas as outras, é profundamente fechado. A já citada “Terra Mota Est” é a próxima e prepara o cortejo fúnebre para “Vita Cantus”, uma faixa mais longa e não menos sorumbática.
Não há muitas mudanças durantes as faixas e isso vai criando uma percepção quase ritualística e hipnótica de como as músicas vão se desenrolando. Fechar os olhos é primordial para ouvir o álbum. Foco e concentração para ser arrastado a dimensões musicais negras como piche, um abismo propriamente dito.
Há momentos em que você imagina que não há como as coisas desacelerarem mais do que já estão, mas então se inicia “Ex Finitim” e isso se materializa. A música que se destacou um pouco mais para mim foi “Voluntatem Dei”, que se inicia com um tema de guitarra muito interessante, sinos que acompanham alguns momentos da música e um andamento que vai se insinuando como se fosse sombras que tomam o ambiente em que você se encontra. Tudo se torna preto e branco. Essa faixa – assim como o resto do álbum – deve ser ouvido em um momento específico de estado de espírito. Não há como ouvir isso aqui fazendo academia ou cozinhando.
A última faixa antes do fim – se não contarmos outro “Praeparet Bellum” – é “Unholy Sonnet 10”, que repete todos os elementos do álbum, ou seja, densa em sua mais pura essência.
“Praeparet Bellum” é um álbum que me agradou por demais. É um trabalho realmente bem feito de um estilo que pode se tornar extremamente massante se as músicas não forem feitas com puro feeling. E feeling é algo que o RIGOR SARDONICOUS tem e de sobra.
Mas a audição desse material deve ser realizada após a leitura de uma citação de Dante Alighieri, em sua obra “A Divina Comédia”. “Vós que entrais, abandonai toda a esperança…”, ou qualquer que seja a forma que a tradução seja apresentada. Mas ela é uma máxima verdadeira. Uma banda realmente a ser conferida e apreciada com a máxima cautela.
Tracklist:
- Caelum Ardere Vidistis
- Sanguinem Floralibus Luna
- Terra Mota Est
- Vita Cantus
- Ex Finitim
- Voluntatem Dei
- Unholy Sonnet 10
- Praeparet Bellum
