“Mongazer” – CD 2022
New Heavy Sounds – Importado
9,5/10
“Moongazer” não é apenas mais um álbum — mais um lançamento trivial dentre tantos outros que são desaguados a esmo diariamente. Mais que isso, bem mais, ele é uma verdadeira compilação com tudo que há de melhor no Stoner, Hard, Blues Rock e Psychedelic (Occult) Rock. Indo além, temos nele um extasiante passeio pelas galerias sonoras dos anos 60 e 70 — mas não se engane, não temos aqui um tributo insosso ou mais uma emulação vintage “dime a dozen”; temos aqui, música da mais alta qualidade, elaborada com sapiência e inspiração por músicos do mais alto gabarito.
Formado em 2017, o TENEBRA é oriundo da Itália, mais precisamente da cosmopolita Bolonha. “Moongazer”, o seu segundo registro, foi lançado no final de abril pela inglesa e especialista em Doom, Sludge e Stoner Metal, New Heavy Sounds (Mountain Caller, Ex People, MWWB, Grave Lines). O primeiro (e excelente) álbum foi lançado em 2019 sob o título de “Gen Nero” e foi seguido pelo também ótimo EP “What We Do Is Sacred”.
O disco abre com a deliciosamente poderosa “Heavy Crusher”. Com cheiro de clássico, a faixa baseia-se principalmente nas guitarras afiadas de Emilio Toreggiani e nos vocais estrondosos e versáteis de Silvia Fennino (cuja força e interpretação são simplesmente magistrais). A bateria de Claudio “Mesca” Collina e o baixo de Claudio Troise se destacam positivamente… Sustentando a composição e dando a mesma ainda mais personalidade. “Cracked Path” sobe ainda mais o nível do trabalho. Peso ostensivo, aquele clima convidativo do Rock feito com alma e Silvia novamente dando um show à parte.
O lado sombrio do TENEBRA surge em “Black Lace”. Composição rústica, morosa e totalmente impactante. O típico Doom/Stoner Metal mergulhado no Blues — aquela mistura envolvente, melodiosa e macabra que apenas as bandas italianas sabem como confeccionar. Simples e efetiva. “Carry My Load” é peso e acidez — mais dinâmica que sua antecessora e um tanto mais audaciosa. A magia setentista se faz sentir (novamente) na seduzente “Winds Of Change”. Essa faixa é uma “trip” maravilhosa! Guitarras sutis, mas bem impostas, bateria pontual, baixo pulsando, um solo daqueles que te fazem fechar os olhos e uma performance vocal intensa e apaixonada.
A audição caminha para o fim, mas sem perder a força e nem a viscosidade. Afinal, não temos aqui um trabalho baseado em lampejos criativos ou em redundâncias. Que fique claro. “Stranded” é curta, mas deixa suas marcas. Ótimo instrumental e ótimo refrão. “Space Child” é mais composição extraordinária e forte candidata a hino da banda. O solo de saxofone que a fecha é absolutamente precioso. Créditos a Giorgio Trombino. “Dark And Distant Sky” é mais visceral, embora não de todo reta. Há sutis nuaces que a elevam ainda mais. “Moon Maiden” é a última apoteose do trabalho (tudo que é bom dura pouco, mas a eternidade nada mais é que um botão de repeat). Composição potente como todas as outras, viajante em certos momentos e noutros, quase selvagem. Silvia merecia um texto à parte, tamanha sua paixão, força, interpretação e claro, técnica. Sua voz é uma força da natureza — sem mais!
Trabalho estupendo esse do TENEBRA! Altamente indicado (altamente mesmo) aos aficionados por Hard Rock, Rock Clássico, Blues Rock, Stoner, Doom Metal e demais sonoridades abertas a psicodelia. Um álbum para todas horas. Seja após um dia cansativo de trabalho — uísque, o quase orgasmo de um bom charuto e play em “Moongazer”; ou apenas para curtir — paz de espírito, o mundo no “modo avião” e o vizinho que lute se o volume o incomodar. Risos. A Itália já tem seu próprio selo de qualidade quando falamos em sonoridades lentas, tortas e viajantes, e esse lançamento é a prova (mais uma) disso. Duvida? Ouça o disco ou procure o SAC — Serviço de Atendimento aos Chatos. Que venham mais trabalhos!
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