Em 2020 os holandeses do CELESTIAL SEASON lançaram o fabuloso “The Secret Teachings” — seu sexto álbum de estúdio e o primeiro após um longo período em hiato. Mais que um retorno triunfal, o registro marcava o regresso da banda à sua sonoridade clássica, o Doom Metal. No último dia 25 foi lançado “Mysterium I” (Burning World Records), e novamente o hepteto prova que não está apenas de volta ao jogo, mas que ainda possui muita paixão, criatividade e ousadia.
Formada no início dos anos 90, a banda é responsável por dois clássicos do Death/Doom Metal — que naquele período, ainda era uma novidade — “Forever Scarlet Passion” (1993) e o insuperável “Solar Lovers” (1995). Após o lançamento desse último, veio a ousadia e com ela a mudança de direcionamento musical (algo comum na época), o Doom Metal melancólico e envolvente de outrora deu lugar ao Stoner Rock/Metal, e ainda em 1995 nasceu o EP “Sonic Orb”. Essa fase de experimentação prolongou-se até 2001 e dela vieram três álbuns: “Orange” (1997), “Chrome” (1999) e “Lunchbox Dialogues” (2000), além de mais um EP “Songs From The Second Floor” (2001).
Primeira parte de uma trilogia que será lançada entre esse ano e o próximo, “Mysterium I” apresenta todos os elementos que forjaram a identidade composicional do CELESTIAL SEASON em seus primeiros anos e também em seu retorno. As emotivas linhas de violino e celo, as atmosferas envolventes, os riffs marcantes e as melodias sofisticadas. Há uma inclinação agradável ao Gothic Metal em diversos momentos, como também escritos acústicos que floreiam em momentos pontuais e algumas pitadas de sua fase experimental. Em resumo, temos aqui o evoluir natural de “The Secret Teachings”, porém, com uma dose maior de diversidade em relação ao mesmo.
O álbum começa com a esplendorosa “Black Water Mirrors” — faixa que traz à memória os primeiros registros do My Dying Bride, Anathema e Saturnus. Riffs memoráveis, inserções eruditas lindíssimas, mudanças de velocidade e ambientações diversas. “The Golden Light Of Late Day” relembra os tempos de quando o Doom Metal era composto por sentimentos genuínos, inteligencia e elegância. A faixa cresce em distorções e quebras; indo de momentos de pura essência melancólica até paisagens dominadas por dedilhados acústicos, celos e violinos. “Sundown Transcends Us” abusa de dinâmicas e apresenta guitarras mais enérgicas e melodiosas. “This Glorious Summer” traz novamente à excelência do “Metal Da Miséria” em seus primeiros anos. Imponência, melodismo e refinamento.
“Endgame” e “All That Is Known” são temas que transitam entre as diferentes posturas sonoras que o CELESTIAL SEASON adotou em sua carreira. A primeira, mais robusta e trabalhada em diferentes texturas e progressões; a segunda, por sua vez, eleva-se de um início misterioso e experimental para um ambiente preenchido por majestosas guitarras e pelos vocais assombrosos de Stefan Ruiters (sua performance é um dos destaques do registro). “Mysterium” conclui o álbum de forma épica, com melodias intensas, cozinha sólida e os tão perfeitos preenchimentos eruditos. Poucas bandas usam tais recursos de forma tão eloquente quanto esses veteranos (verdade seja dita).
Doom Metal genuíno conduzido de forma genuína e com sentimentos genuínos. “Mysterium I” é composto por sete faixas grandiosas, altamente envolventes e de alta carga emocional. Os arranjos são surreais — dramáticos e etéreos. A produção é uma das melhores do gênero, primorosa, mas não artificial. Aqui temos uma aula de Doom/Death Metal feito com sensibilidade e paixão, por quem realmente entende do assunto. Um álbum verdadeiramente poderoso, profundo, hipnótico e de muito bom gosto.
Links:
Facebook: https://www.facebook.com/CelestialSeason
Instagram: https://www.instagram.com/celestialseasonofficial/
Bandcamp: https://celestialseason.bandcamp.com
Spotify: https://open.spotify.com/artist/2X41TLH4viwYuPm6DuDrIg